quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Teatro/CRÍTICA

"Edukators"

.............................................................
Uma alternativa para a rebeldia


Lionel Fischer


Lançado em 2004, o filme "The Edukators", de Hans Weingartner, causou sensação, em especial no público jovem. E, dentre muitas razões, por sua proposta de mostrar a possibilidade de uma via para a rebeldia que excluísse qualquer espécie de violência. Assim, e com o propósito de "educar" os mais abastados - os que detêm o poder e ditam as regras do sistema - três jovens invadem mansões, desarrumam móveis, de nada se apossam e escrevem frases como "seus dias de fartura estão contados".

No entanto, após executarem inúmeras vezes seu projeto "educativo", o imprevisto retorno de um executivo à sua casa, quando nela se encontravam os "educadores", conduz a trama para um rumo totalmente inesperado: os jovens sequestram o executivo e o levam para uma casa nas imediações da cidade. A partir daí, o texto promove um embate entre o representante do poder e aqueles que o contestam. 

Com adaptação e dramaturgia assinadas por Rafael Gomes, "Edukators" cumpre temporada no Teatro Oi Futuro. João Fonseca responde pela direção, estando o elenco formado por Edmilson Barros, Fabrício Belsoff, Natália Lage e Pablo Sanábio.

Em sua primeira parte, ambientada em um espaço adjacente ao teatro, o espetáculo seduz por completo a plateia, tanto pelo ótimo diálogo travado entre os personagens de Fabrício Belsoff e Natália Lage - que serve tanto para individualizá-los como para revelar ao público as premissas que movem os "educadores" - como pelos excelentes vídeos exibidos, sendo que num deles vemos o casal invadindo uma mansão - cumpre registrar que essa é a primeira vez que o personagem feminino participa de uma ação como esta.

Em seguida, o público vai para o teatro e ali constata a lúdica desordem que o casal promove, culminando por colocar todos os móveis em uma piscina. E também torna-se evidente a mútua atração entre eles, embora ela seja namorada do "educador" ainda ausente. Mas aí aparece o executivo, que surpreende o casal já praticamente fazendo amor. Sem saber o que fazer, os jovens dominam o executivo e chamam o outro "educador", que mais tarde fica sabendo da traição.

Como já dito, até este momento o texto e a encenação cativam por completo a plateia. A partir daí, no entanto, o interesse começa a decair. Em primeiro lugar pela ausência de um clima que deveria ser muito mais tenso, pois ainda que os jovens não sejam violentos, de qualquer forma agiram de forma violenta ao empreenderem um sequestro - em nenhum momento o executivo demonstra grande receio, como se tivesse certeza de que nada de mais grave lhe aconteceria.

Outra questão - e esta me parece mais grave - diz respeito aos diálogos entre os jovens e o executivo. Os primeiros lançam mão de chavões de esquerda já totalmente superados, levando-se em conta que não estamos nos anos 60 ou 70. E isto me fez pensar o seguinte: será que o autor do roteiro do filme acreditou ser verossímel e aceitável palavras de ordem tão datadas? Ou será que, ao colocá-las na boca de personagens tão jovens, em 2004, no fundo os estaria ironizando?

E quanto ao discurso do executivo? Aos poucos somos informados de que ele, em seu passado, também foi rebelde, também acreditou ser possível modificar o sistema etc. Ou seja: teria sido ontem o que os jovens são hoje. E isso fica absolutamente claro em uma das frases finais do executivo, quando ele propõe a um dos "educadores" que lhe telefone dentro de 30 anos, como a sugerir que o jovem rebelde terminará por se enquadrar ao sistema...

Neste segmento do espetáculo, a grande criatividade de João Fonseca exibida anteriormente desaparece por completo - e nada mais natural, pois a cena, exceção feita aos momentos de explosão do "educador" traído, fica reduzida a uma conversa datada, como já foi dito, e que inviabiliza totalmente um mínimo de teatralidade.

Com relação ao elenco, Fabrício Belsoff, Natália Lage e Pablo Sanábio exibem performances em total sintonia com seus personagens. Quanto a Edmilson Barros, sem dúvida um bom ator, seu desempenho fica um tanto comprometido por questões de incompatibilidade física (o executivo seria mais convincente se exibisse um porte mais majestoso) e de sotaque (no caso, ao que me parece, nordestino).

Na equipe técnica, destaque absoluto para a cenografia de Nello Marrese, tanto nas passagens ambientadas na mansão do executivo quanto nas situadas na casa abandonada. Luiz Paulo Nenen assina expressiva iluminação, a mesma expressividade presente nos figurinos de Bruno Perlatto, na trilha sonora de Rodrigo Penna e nos vídeos de Paola Barreto e David Cole, cabendo ainda registrar a ótima direção de movimento de Rafaela Amado. 

EDUKATORS - Dramaturgia original de Rafael Gomes. Direção de João Fonseca. Com Edmilson Barros, Fabrício Belsoff, Natália Lage e Pablo Sanábio. Teatro Oi Futuro. Quinta a domingo, 20h30. 

  



  











Um comentário: