Teatro/CRÍTICA
"O Príncipe"
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Obra-prima em bela adaptação
Lionel Fischer
O livro é breve, mas imenso seu alcance. Em "O Príncipe", Niccolò di Bernardo Machiavelli (1469-1527) introduz uma novidade extraordinária: a separação da política da ética. Ou seja: propôs uma discussão da política e dos fenômenos sociais em seus próprios termos, sem recorrer à ética ou à jurisprudência. O que lhe interessou basicamente foi tecer considerações sobre a conquista e a manutenção do poder e da autoridade. Neste sentido, os fins (desde que levassem à paz e à estabilidade) sempre justificariam os meios, por mais virulentos que fossem.
Adaptada para o palco por Ana Vitória Monteiro e Henrique Guimarães, "O Príncipe" chega à cena (Espaço Sesc, Sala Multiuso) com direção de Leona Cavalli e interpretação a cargo de Henrique Guimarães.
Obviamente que nem todos os pensamentos contidos no livro foram transpostos para o palco. Mas os escolhidos facultam ao espectador uma clara visão das ideias do político e filósofo florentino, um dos expoentes do renascimento italiano. Mas aqui introduz-se uma novidade: o personagem fala não apenas de seu tempo ou do passado, mas também do futuro - é possível que o objetivo tenha sido o de demonstrar o caráter atemporal do pensamento de Maquiavel, que seria válido em qualquer época.
Como já dito, um único ator em cena, encarnando Maquiavel. À sua volta, os espectadores, aos quais se dirige expondo suas ideias como se estivesse em uma assembléia, quem sabe com o poder de julgá-lo.
Alternando afirmações categóricas com outras que deixam margem a dúvidas, exibindo autoritarismo e eventualmente perplexidade, evidenciando potência e fragilidade, sarcasmo e dor, o personagem como que obriga a plateia a refletir sobre temas absolutamente atuais, nem sempre agradáveis, mas inadiáveis.
Com relação ao espetáculo, Leona Cavalli impõe à cena uma dinâmica que tenta ao máximo evitar o mero discurso. E, na maioria das passagens, consegue atingir grande teatralidade - em algumas, no entanto, o excesso de movimentação nos faz prestar mais atenção no desempenho do ator do que nos pensamentos que expõe. Seja como for, esta pequena ressalva não diminui o alcance e a pertinência de uma proposta tão ousada quanto original.
Na pele de Maquiavel, Henrique Guimarães exibe atuação forte e convincente, entregando-se de forma visceral à tarefa de materializar o personagem. Cabe também salientar seu domínio vocal e corporal, assim como sua capacidade de relacionar-se com a plateia, ora como aliada, ora como antagonista. Sem dúvida, uma das performances mais interessantes da atual temporada.
Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta oportuna empreitada teatral - Ana Vitória Monteiro e Henrique Guimarães (dramaturgia), Ricardo Fujii (que assina uma iluminação sombria e algo claustrofóbica, em total adequação com o contexto), Mariana Baffa (figurino) e Renato Alscher (sonoplastia).
O PRÍNCIPE - Texto de Nicolau Maquiavel. Dramaturgia de Ana Vitória Monteiro e Henrique Guimarães. Direção de Leona Cavalli. Com Henrique Guimarães. Sala Multiuso do Espaço Sesc. Sexta e sábado, 20h. Domingo, 18h.
terça-feira, 10 de setembro de 2013
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