Teatro/CRÍTICA
"Amores"
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Ótimo texto em versão alucinante
Lionel Fischer
"Vieira é um escritor da TV Globo prestes a perder o emprego, enquanto se digladia com sua filha Cíntia tentando controlar sua excessiva liberdade. Telma, maior amiga de Vieira, é casada com Pedro. Não quiseram ter filhos, mas agora, com Telma na casa dos 30, estão querendo e não estão conseguindo, o que está pondo o casamento em perigo. Luiza, irmã de Telma, é uma atriz fracassada que ganha a vida contando piadas em bares. Apaixona-se loucamente pelo pintor Rafael, mas descobre que ele é soropositivo".
Extraído do ótimo release que me foi enviado pela assessora de imprensa Daniella Cavalcanti, o trecho acima reproduz o enredo de "Amores", de Domingos Oliveira. Já exibido com estrondoso sucesso nos anos 90 (e transposto para o cinema com igual êxito), o texto chega à cena (Sede das Cias) com direção de Ivan Sugahara, diretor do grupo Os dezequilibrados, que ora completa 18 anos de existência. No elenco, José Karini (Vieira), Lívia Paiva (Cíntia), Ângela Câmara (Telma), Saulo Rodrigues (Pedro) - atores da companhia desde sua fundação - e Ana Abbott (Luiza) e Lucas Gouvêa (Rafael), atores convidados.
Abordando uma série de temas, dentre eles as paixões, conflitos de gerações, a questão da Aids e esta abominável praga chamada burocracia, "Amores" é um texto brilhante, pleno de humor e humanidade, criado por um dos maiores dramaturgos deste país e, certamente, o que mais entende de amor. Ainda assim, e sem nenhuma preocupação de estabelecer qualquer tipo de paralelo com a versão assinada por Domingos na década de 90, a atual merece alguns reparos. Ou por outra: um único reparo, mas que me parece relevante.
Sendo um excelente diretor, a quem admiro profundamente, em nada me surpreende que Ivan Sugahara tenha imposto à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico - suas marcações, além de expressivas e diversificadas, exibem generosas doses de paixão, indispensáveis a um texto profundamente apaixonado. No entanto, não entendi sua proposta junto aos atores.
Em mais da metade da encenação, todos atuam em um registro por demais exacerbado, diria mesmo paroxístico, tanto no que diz respeito ao volume de voz - quase sempre excessivo - quanto ao ritmo - em geral alucinante. Tal linha de atuação, em meu entendimento, não apenas nivela todas as atuações como impede o aflorar de muitas sutilezas emocionais contidas no texto.
Não sei se o que acabo de dizer será julgado procedente pelos ótimos profissionais que estão em cena e também pelo diretor. Mas caso julguem minimamente válida a opinião acima expressa, fica a sugestão de que, ao menos em um espetáculo (ou em um ensaio), experimentem um registro menos alucinante em algumas passagens, sem que isso signifique um afrouxamento dos conteúdos em jogo.
Com relação à equipe técnica, considero corretas as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta empreitada teatral - Carolina Sugahara (cenografia), Tarsila Takahashi (figurino) e Renato Machado (iluminação).
AMORES - Texto de Domingos Oliveira. Direção de Ivan Sugahara. Com Ana Abbott, Ângela Câmara, José Karini, Lívia Paiva, Lucas Gouvêa e Saulo Rodrigues. Sede das Cias. Sábado a segunda, 20h.
terça-feira, 8 de abril de 2014
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