sábado, 19 de abril de 2014

Teatro/CRÍTICA

"De filha pra mãe"

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Pertinentes reflexões no Gonzaguinha


Lionel Fischer




"A peça conta a história de Bianca e Juliana, mãe e filha, que desde muito cedo viram-se ingressar no mundo das responsabilidades eternas: a maternidade. Bianca foi mãe aos 15 anos e hoje, quinze anos depois, Juliana engravida também. As duas confrontam-se e descobrem que embora em contextos histórico e sociais distintos, suas demandas em relação ao mundo são muito parecidas e, se não resolvidas, serão revisitadas na próxima geração".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o contexto em que se dá "De filha pra mãe", de autoria de Nathalia Colón, também responsável pela direção do espetáculo, em cartaz no Teatro Gonzaguinha. No elenco, Paula Barbosa e Débora Ozório.

Quando se inicia a ação, somos informados de que a adolescente viajará imediatamente para Nova York, onde fará intercâmbio e, ao que tudo indica, se aprimorará como bailarina. Mas a jovem se recusa a ir e, ao mesmo tempo, reluta em revelar as razões que a estão levando a cancelar uma viagem há muito programada. Até que, pressionada pela mãe, diz que está grávida.

Como se sabe, uma gravidez adolescente é sempre problemática. E aqui mais ainda, pois o mesmo aconteceu com a mãe de Juliana. Afora o fato de que Bianca também pretendia ser bailarina e não deseja que filha renuncie à carreira, como ela fez. E, finalmente: ambas tiveram parceiros com o mesmo nome (Daniel) e em ambas as situações os dois não desejavam ser pais. Ou seja: a autora lança uma espécie de alerta para uma das mais corriqueiras mazelas que assolam os neuróticos: a tendência à repetição.

Criando uma estrutura narrativa em que passado e presente se mesclam a todo momento, assim como invertem-se com frequência os papéis, Nathalia Colón empreende não apenas uma pertinente reflexão sobre a já mencionada tendência à repetição, mas também sobre relações familiares, desejos, anseios, medos e eventuais frustrações.

Com relação ao espetáculo, Nathalia Colón impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico, cabendo destacar a expressividade das marcações e o domínio dos tempos rítmicos. Além disso, a jovem encenadora fez um ótimo trabalho junto às intérpretes.

Na pele de Bianca, Paula Barbosa convence plenamente em todas as passagens, em especial naquelas em que a dramaticidade é mais acentuada - cabe também salientar que, em dados momentos, quando a personagem volta aos seus 15 anos, a atriz exibe notáveis dotes de bailarina clássica. Vivendo Juliana, Débora Ozório também tem atuação segura e convincente, e como tem apenas 17 anos de idade, tudo leva a crer que possa cumprir bela trajetória profissional.

Na equipe técnica, Claudia Caliel assina uma cenografia muito expressiva, abdicando do realismo e valorizando determinados elementos que assim adquirem um valor simbólico. Também de excelente nível a direção musical de João Guesser e Daniel Carneiro, que em muito contribui para o aprofundamento dos conteúdos em jogo. Cabe também ressaltar a ótima direção de movimento de Camila Costa e a sensível iluminação de Dans Souza, sendo corretos os figurinos de Vinícius Andrade. 

DE FILHA PRA MÃE - Texto e direção de Nathalia Colón. Com Paula Barbosa e Débora Ozório. Teatro Gonzaguinha. Sábado às 20h, domingo às 19h.



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