terça-feira, 29 de abril de 2014

Teatro/CRÍTICA

"À sombra das chuteiras imortais"


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Nelson Rodrigues em deliciosa adaptação



Lionel Fischer



"Otacílio, um apaixonado por futebol, descobre que é traído pela mulher, Odete, na véspera da final da Copa do Mundo de 1958 entre Brasil e Suécia. Transtornado e dividido entre a vergonha de marido traído, o desejo de lavar a honra com sangue e a expectativa da finalíssima, Otacílio decide perdoar (ou não) a mulher, de acordo com o resultado do jogo".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o enredo de "À sombra das chuteiras imortais", que tem como tema central o conto "O grande dia de Otacílio e Odete" e também exibe trechos de crônicas como "Complexo de vira-latas", "O craque da capelinha" e "O mais belo futebol da Terra".

De autoria de Nelson Rodrigues, os textos foram adaptados para o palco (Teatro Sesi) por Henrique Tavares, também responsável pela direção do espetáculo. No elenco, Gláucio Gomes, Ingrid Conte, Anderson Cunha, Crica Rodrigues e César Amorim.  

Por tratar-se de um gênio, Nelson Rodrigues consegue o prodígio, em suas crônicas sobre futebol, de falar bem menos do violento esporte bretão do que sobre a vida. Suas crônicas, impregnadas de humor e poesia, são pertinentes reflexões sobre o Brasil e os brasileiros, sobre nossas mazelas e grandezas, textos extraordinários que possibilitam ao leitor uma percepção sempre nova e originalíssima de realidades nem sempre perceptíveis para, digamos, os idiotas da objetividade.  

A partir de sua ótima adaptação, o diretor Henrique Tavares construiu um espetáculo delicioso, encadeando os textos de tal forma que temos a impressão de tratar-se de uma peça. São inventivas e criativas suas soluções cênicas, além de impecável a forma como o encenador trabalha os tempos rítmicos e os silêncios, sempre impregnados de fortes significados.

E cabe também destacar seu ótimo trabalho junto ao elenco. Sem exceção, todos os atores extraem o máximo de seus personagens e exibem aquele tipo de contracena que só existe quando a cumplicidade é total e também o prazer de estar no palco fazendo algo em que se acredita totalmente. Portanto, a todos parabenizo com o mesmo entusiasmo e a todos agradeço a deliciosa noite que me proporcionaram.

Na equipe técnica, José Dias assina uma cenografia despojada e simples, mas que situa com extrema precisão a época em que se desenrola a ação. A mesma eficiência se faz presente na expressiva iluminação de Aurélio de Simoni e nos figurinos de Patricia Muniz, em total consonância com o período retratado, a personalidade e a condição social dos personagens.

À SOMBRA DAS CHUTEIRAS IMORTAIS - Textos de Nelson Rodrigues. Adaptação e direção de Henrique Tavares. Com Gláucio Gomes, Ingrid Conte, Anderson Cunha, Crica Rodrigues e César Amorim. Teatro Sesi. Quinta a sábado, 19h30.






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