Teatro/CRÍTICA
"Vertigem digital"
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Ser ou simular, eis a questão
Lionel Fischer
"Livremente inspirado no título do livro do sociólogo Andrew Keen, 'Vertigem digital' conta a história de cinco pessoas cruzando suas vidas na época em que os relacionamentos humanos estão sendo continuamente transformados pelo advento das redes sociais e do culto à celebridade. Propondo uma reflexão da dependência que adquirimos da vida virtual na contemporaneidade, a grande questão é: no mundo virtual quem é quem de verdade?"
Extraído do programa, o trecho acima (assinado por Lígia Fagundes e Alexandre Lino) resume o contexto em que se dá "Vertigem digital", primeiro texto e primeira direção de Alexandre Elias, um dos mais brilhantes diretores musicais do teatro carioca. Em cartaz no Teatro do Jockey, a montagem traz no elenco Ivan Mendes, Letícia Cannavale, Fernanda Gabriela, Lígia Fagundes e Francisco Salgado.
Mesmo arriscando-me a receber pedradas de todos os lados (como a adúltera da Bíblia), não me sinto nem um pouco constrangido em afirmar que desconheço por completo maravilhas como Facebook, Twiter e Instagram (este último me sugere o nome de um remédio). Admito, no máximo, que tais preciosas ferramentas possam ser utilizadas de forma proveitosa. Mas certamente, de uma maneira geral, elas priorizam (não raro perigosamente) o mundo virtual em detrimento do real da vida. Assim sendo, acho muito oportuna a ideia do autor de refletir sobre o tema.
No entanto, e mesmo reconhecendo os méritos de tal iniciativa, acredito que Alexandre Elias poderia ter se aprofundado um pouco mais sobre um tema tão relevante, talvez conduzindo a trama de forma a acentuar ainda mais toda a tragicidade inerente a uma realidade global na qual o que você é importa menos do que aquilo que você simula ser.
Seja como for, Alexandre Elias criou bons personagens, diálogos fluentes e uma ação que mantém o espectador atento. Mas acredito que certas passagens, como a da repórter inescrupulosa que tenta seduzir o editor-chefe do programa de grande audiência na Internet, poderiam ser reduzidas ou simplesmente eliminadas. E me parece também que a trajetória da cantora que vence o concurso acaba se perdendo ao longo da narrativa. Ainda assim, e por tratar-se de um texto de estreia, nada me impede de acreditar que Alexandre Elias possa construir uma interessante trajetória como dramaturgo.
Com relação ao espetáculo, este me parece um pouco inferior ao material dramatúrgico, já que as soluções encontradas são ou previsíveis ou isentas de maior criatividade. No tocante ao elenco, todos os profissionais exibem segurança e grande capacidade de entrega, defendendo com muita garra os personagens que interpretam.
Na equipe técnica, o grande destaque fica por conta da ótima direção musical de Alexandre Elias, que enfatiza com precisão todos os climas emocionais em jogo. Ney Madeira, Dani Vidal e Pati faedo (Espetacular Produções Artísticas) respondem pelos críticos e divertidos figurinos, com Karlla de Luca (cenografia) e Hugo Mercier (iluminação) assinando trabalhos sem maior expressividade.
VERTIGEM DIGITAL - Texto e direção de Alexandre Elias. Com Ivan Mendes, Letícia Cannevale, Fernanda Gabriela, Lígia Fagundes e Francisco Salgado. Teatro do Jockey. Sexta a domingo, 21h.
terça-feira, 29 de abril de 2014
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