terça-feira, 2 de setembro de 2014

SOLIDÃO E TECNOLOGIA 
28 de julho de 2014 
Emanuel Medeiros Vieira

Uma pesquisa da revista científica “Science” revelou que muita gente prefere levar choques a enfrentar alguns minutos a sós com os próprios pensamentos.
Conforme informa Juliana Vines – autora da matéria –, o estudo surpreendeu o próprio autor da pesquisa, o psicólogo Timothy Wilson, da Universidade da Virgínia (EUA).
“Parece que há uma dificuldade em se distrair com a própria mente. Suspeito que a popularização da tecnologia e dos smartphones é ao mesmo tempo um sintoma e uma causa dessa dificuldade. Hoje, temos menos oportunidade para refletir e desfrutar dos nossos pensamentos”, reforça Wilson.
Para a psicóloga Lívia Godinho Nery Gomes, a onipresença da tecnologia, “obriga” os seres humanos a estarem sempre disponíveis.
“Há um apelo muito grande para estar em rede, compartilhar. Quem está de fora sente que está perdendo alguma coisa”, diz ela.
Para Luci Helena Baraldo Mansur, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, tentar ficar só sem se sentir sozinho é fundamental.
Diz ela: “O tempo do silêncio e da quietude é um tempo que conduz à criatividade e não a esse vazio tão temido. É quando podemos ouvir nossa voz interior”.
O psicólogo Roberto Novaes Sá afirma que “nossa noção de realidade, de estabilidade e de segurança é construída socialmente, através da relação com os outros e das ocupações. Quando não estamos inseridos em alguma atividade há um sentimento de não realização, fragilidade e angústia”.
Isso não quer dizer que as possibilidades de contacto instantâneo – como as redes sociais permitem – não sejamos valiosas–, ainda mais num tempo em que a vida parece mais veloz, em que tudo parece dissolver-se, e o contacto “real” entre as pessoas fica mais difícil.
O importante é utilizar tais instrumentos, sem perder o contacto “real” e a vivência” com outros seres humanos”.
Não somos ilhas.

Como a tecnologia tem transformado o conceito de solidão
Ana Paula Pereira 
(Fonte da imagem: iStock)
A ideia de que ninguém vive sozinho e que o ser humano foi criado para ter o seu convívio dentro de uma sociedade não são conceitos novos. Inclusive, isso é algo tão enraizado na nossa cultura que o fato de alguém estar sozinho ou se sentir dessa forma pode ser algo que o leve facilmente a uma depressão.
O mundo moderno é globalizado e interconectado; a internet quebrou várias barreiras impostas pela distância, facilitando a comunicação com parentes e amigos que vivam em lugares distantes. Porém, mesmo com toda a facilidade existente para você entrar em contato com outros indivíduos, a cada dia mais pessoas se identificam como “solitárias”.
Há várias razões para que esse fenômeno ocorra e uma delas é o aumento das interações no ambiente online. Entretanto, vamos começar levantando uma questão comum na sociedade moderna, que é como uma pessoa faz para se sentir completa.

Realização pessoal

Embora nosso convívio seja em sociedade, os indivíduos costumam medir a sua realização pessoal com uma série de pontos. Entre eles estão a sua carreira, que costuma ser uma maneira na qual muitas pessoas concordam que alguém “alcançou o sucesso” ou “fracassou”. Essa questão está diretamente ligada com as suas riquezas e posses, algo que também é utilizado para determinar satisfação.
Além disso, entre os itens também há o consumismo (ligado ao poder aquisitivo) e a imagem pessoal que o indivíduo transmite. Alguns almejam tanto a conquista desses objetivos em um grau idealizado (normalmente desde a infância) que o convívio com outros é praticamente trocado por uma vida em busca de realização pessoal.
Sem tempo para relações pessoais(Fonte da imagem: iStock)

Solidão nos tempos de internet
Solidão nos tempos de internetAssim, em uma sociedade na qual tempo é dinheiro e você não possui horas ou minutos disponíveis para uma conversa pessoal, a internet e as redes sociais parecem sempre uma opção mais atrativa.

Online e impessoal

A cada dia mais pessoas passam a utilizar meios virtuais para conversar com amigos ou conhecer novos indivíduos. Isso porque a internet está popularizada, bem como os meios para acessá-la; você pode usar não só o seu computador para a tarefa, como um tablet ou um smartphone, fazendo com que ela seja portátil e você possa acessar do local que quiser.
A comunicação pela internet é simples, fácil, sem ansiedade. Você não precisa ficar com medo de falar algo errado, pois sempre há como editar ou até mesmo excluir as suas publicações. Dessa maneira, você pode passar a imagem que gostaria de ter, independente de ela ser uma representação fiel da realidade.
A conversa online não inclui as preocupações de uma interaçao real(Fonte da imagem: iStock)
O problema nisso é que as redes sociais passaram a representar quase uma obsessão pela autoimagem de um indivíduo. Muitos acabam dedicando horas à construção do que consideram um perfil adequado, selecionando apenas as fotografias que julgam conter os seus melhores ângulos e escrevendo apenas frases que transmitam um pouco da “pessoa ideal”, aquela sem qualquer tipo de falhas – a que todos gostariam de ser.
As pessoas se acostumam facilmente a “colecionar” amigos nas redes sociais, substituindo uma boa conversa pessoal por uma mera conexão. A cada dia a “qualidade” é trocada pela “quantidade” e a definição de “relacionamento” passa a ser representada pela troca de imagens e algumas poucas linhas de texto em um chat online.
Você passa a esperar menos das pessoas e começa a desejar que os métodos tecnológicos para a comunicação passem por evoluções que tragam funções novas. Muitos autores costumam dizer que o uso excessivo da internet faz você passar a vê-la como um modelo ideal de convivência e até mesmo a ter uma dificuldade muito maior para desenvolver relações pessoais.

A sensação de solidão

Infelizmente, como resultado do uso excessivo desses meios para a comunicação, o que ocorre na maioria dos casos é que, mesmo que o indivíduo considere que tem muitos amigos, ele acaba se sentindo cada vez mais sozinho. Como somos vulneráveis à solidão, nos apegamos cada vez mais à tecnologia para tentar preencher esse vazio.
Isso porque as redes sociais trazem a impressão de que você pode passar uma imagem beirando a perfeição; sempre será ouvido e nunca estará sozinho. Assim, muitos passam a querer cada vez mais compartilhar experiências online para se sentirem “vivos” e “fazendo parte de um grande grupo”, e é por essas razões que a tecnologia mudou o conceito de estar sozinho e de sentir solidão.

Na medida certa

Claro que ninguém aqui está dizendo que a comunicação online é a grande vilã dos tempos modernos. Não há qualquer tipo de dúvidas com relação à internet ser uma excelente ferramenta para vários propósitos. Entretanto, como tudo na vida, o ideal é que ela possua a sua dosagem no cotidiano das pessoas.

A Inovação da Solidão

Bruno Medina 


O sugestivo título que dá nome a este post é homônimo ao de um vídeo bem interessante que caiu na rede esta semana, que dedica-se a investigar um fenômeno relativamente recente que tem intrigado não só a mim, como a muita gente: a percepção de que, quanto mais a tecnologia se empenha em conectar pessoas e eliminar em definitivo qualquer possível manifestação de solidão, mais solitários nos tornamos de fato. 

É certo que a paradoxal afirmação não chega a ser nenhuma novidade, afinal, basta concluir que nós mesmos somos as cobaias voluntárias desta onipresente virtualização das relações em todas as suas conhecidas instâncias, um experimento que, dada sua dimensão, freqüência em que ocorre e capacidade de transformar o modo com que vivemos, inspira, no mínimo, atenção. Mas voltando ao já citado vídeo, a proposta é expor de maneira ultra-didática a nem sempre tão óbvia solidão que assola usuários freqüentes de redes sociais, ironicamente, quando muitos acreditam que a ferramenta os ajudaria a caminhar justo no sentido oposto.

De acordo com estudos sociológicos realizados, isto ocorre porque seres humanos não conseguem relacionar-se com mais do que 150 pessoas ao mesmo tempo (considerando que, por definição, uma relação entre dois indivíduos envolve um nível mínimo de conhecimento e intimidade). Por sermos criaturas instintivamente sociais, inseridas num contexto análogo à experiência em sociedade proporcionada pelas comunidades virtuais – onde a obsessiva busca por pertencimento parece não encontrar limites –, muitas vezes acabamos caindo na tentação de recorrer a valores pouco nobres, tais como autocentrismo e consumismo, para acelerar, ou mesmo sintetizar, o processo de constituição da imagem que ostentamos perante os outros neste ambiente. 

E eis que, de uma hora para outra, o mundo no qual ‘tempo é dinheiro’ descobre uma tecnologia que assegura a qualquer um a possibilidade de administrar a própria vida sentimental de maneira mais rápida e eficiente; ao relativizar conceitos indispensáveis à criação e à manutenção de vínculos emocionais, passamos a colecionar amigos como se fossem figurinhas de um álbum, a priorizar quantidade em função de qualidade nas relações e, pior, a relegar o conceito de amizade à troca de fotos, publicações genéricas sobre temas aleatórios e bate-papos sem profundidade. Dessa forma, a conversação cede lugar à proximidade superficial, originando a estranha e a cada dia mais comum condição de sentir-se só mesmo estando em meio a tantos amigos.

Mas qual seria a dificuldade em se estabelecer uma conversa de verdade? Bem, conversas de verdade acontecem em tempo real, de modo que não é possível controlar com precisão o que será dito ou compreendido. SMS, e-mails e postagens, por sua vez, permitem que nos apresentemos da exata maneira com que desejamos ser vistos, ou seja, realizar uma minuciosa edição em que só consta o melhor de nós mesmos, o que pode muito bem implicar em horas dedicadas à construção de perfis, à escolha das palavras mais adequadas para a próxima postagem ou das fotos que mais nos beneficiam. 

Assim sendo, as redes sociais não estariam apenas transformando o que fazemos, e sim quem somos, visto que nos levam a acreditar em 3 falsas premissas: a primeira, que estamos atentos a tudo de relevante que ocorre a nossa volta, a segunda, que sempre seremos ouvidos e, a terceira, que nunca mais precisaremos estar sós. Talvez a maneira mais apropriada de descrever os riscos implícitos nesta última seria reconhecer o surgimento de um novo modo de pensar, um em que aproximam-se os sentidos de ‘compartilhar’ e ‘ser’, materializado na suspeita de que navegamos num oceano de publicações de experiências em parte ficcionais, cujo único propósito é conceder a seus autores a sensação de que estão vivendo intensamente.

Mais do que apenas isso, o código de conduta vigente nas redes sociais parece determinar com clareza não haver espaço para a exposição de angústias e mazelas reais, a menos, claro, que carreguem em si uma dose considerável de ironia, e a conseqüência direta disso pode ser um distanciamento da própria essência.

Estaríamos então condenados a viver alienados, numa espécie de Ilha da Fantasia, cercada por porções incomensuráveis da boa e velha solidão? Não necessariamente. Uma das passagens mais marcantes de Alone Together, livro escrito por Sherry Turkle e que serviu como referência para a criação do vídeo, corresponde à narrativa de uma cena trivial, ainda que muito reveladora destes tempos: ao passar meses a fio observando o momento de reencontro entre pais e filhos na saída de escolas, Sherry notou a recorrente frustração das crianças ao constatar que seus pais e mães tinham toda a atenção voltada não para a porta por onde sairiam, mas sim para seus próprios smartphones. 

Ainda segundo a autora, esta geração enxerga a tecnologia como um competidor em potencial e, por isso, certamente não a utilizará da mesma maneira com que o fazemos agora. Resta, portanto, a esperança de que as crianças de hoje saibam ensinar amanhã a seus filhos como serem sozinhos, para que nunca se sintam verdadeiramente solitários…
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A solidão na era das novas tecnologias de informação


A solidão digital reenvia as nossas linhas de fratura social e nos lembra que a justiça e a dignidade vão além da satisfação das necessidades materiais. Criticar a violência das relações sociais digitais talvez só faça sentido se criticarmos com a mesma força com a violência das relações sociais tout court. E que tentemos responder a elas.

A opinião é de Anthony Favier, em artigo publicado na revista Parvis, de março-abril de 2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Nunca como agora a nossa época manifestou o seu apetite pelas novas formas de comunicação. A "revolução" digital muda as nossas sociedades, que, no entanto, não parecem conseguir responder à solidão sofrida por alguns de seus membros.

São inúmeros os paradoxos contemporâneos. Formamos ao mesmo tempo uma sociedade em que os solteiros são legiões e buscam o amor, sozinhos, em sites de encontro pagos. O desejo de afirmar "a si mesmos" se realiza através da inserção online em redes sociais de dados privados e fotos com pessoas que se encontram pouco ou raramente e que são, apesar de tudo, definidas como "amigas".

A socióloga norte-americana Sherry Turkle, que trabalha sobre o modo como a internet transforma os nossos comportamentos, destaca: "No silêncio da conexão, as pessoas se sentem tranquilizadas, estando em contato com um grande número de pessoas – cuidadosamente mantidas à distância. Nunca temos o suficiente do outro, já que podemos usar a tecnologia para manter o outro à distância: não perto demais, nem longe demais, justamente da forma que nos convém".

Portanto, as técnicas da informação satisfariam o nosso desejo de controle, mas desembocariam somente em relações distantes e, conseqüentemente, inconsistentes... que nos tornam, no fim, mais sozinhos e que marcam o advento de uma sociedade conectada e depressiva. Depressiva porque conectada?
Do curvamento à abertura

Sem ir longe demais, lembramos que 27% dos franceses declara ter iniciado "relações com novas pessoas" graças à internet e às novas tecnologias da informação, segundo uma pesquisa muito recente (CREDOC. Les Français en quête de lien social).

O percentual sobe para 51% para pessoas que participam de redes sociais. As comunidades de cidades ou de bairros, as socialidades familiares, religiosas ou profissionais não desapareceram com a chegada da internet. As coisas se inserem em um tempo mais longo...

Ao contrário, a tecnologia não abole as distâncias, mas pode criar novas amizades, improváveis redes de interesse, socialidades nascidas do diálogo espontâneo. Blogs e fóruns sobre centros de interesse não significam o desaparecimento da associação de bairro ou de ex-alunos; muitas vezes, oferecem um paralelo digital delas e prolongam a sua prática sob uma outra forma. O lugar das novas tecnologias na solidão sofrida modernamente talvez reproponha o velho debate entre "tecnófilos" e "tecnófobos".

Um instrumento não tem em si um senso moral e, ao invés, é o seu uso, as sociedades que o sustentam e as regras de que são dotados que lhe conferem uma consistência. Educar-se a internet, então? Um filósofo das novas tecnologias, Antonio Casilli, faz uma curiosa constatação no seu último livro sobre a socialidade digital, intitulado Les liaisons numériques, vers une nouvelle sociabilité (Seuil).

São aqueles que usam as novas tecnologias em uma lógica do dom, abrindo-se aos outros e comunicando conteúdos próprios, que dizem que recebem mais, obtêm mais para si mesmos. A lógica altruísta e a disponibilidade aos outros seriam as disposições que levam a menos ao curvamento sobre si mesmos e sobre o próprio mundo fechado. Seja no espaço digital, seja na vida real, de um certo modo.

Contra a solidão (digital)?

Nesse amplo debate, além disso, os tecnófilos têm muitos argumentos em seu favor. As nossas relações face a face também podem ser de conveniência, conformistas... e narcisísticas.

Além disso, se as novas tecnologias alimentam as nossas solidões, na realidade revelam sobretudo as já existentes. Aqueles que lutam contra a pobreza falam, e não só para os países do Sul do mundo, de "brecha digital". A expressão designa o modo pelo qual aqueles que não têm acesso material, que não foram formados para as novas tecnologias ou que não têm a idade para serem iniciados, são excluídos, mais uma vez, do "jogo social" e das suas possibilidades.

A solidão digital reenvia as nossas linhas de fratura social e nos lembra que a justiça e a dignidade vão além da satisfação das necessidades materiais. Criticar a violência das relações sociais digitais talvez só faça sentido se criticarmos com a mesma força com a violência das relações sociais tout court. E que tentemos responder a elas.

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   A solidão como refúgio na era das redes sociais


Eugenio Borgna resgata as qualidades da solidão em um mundo enfeitiçado pelo digital, excitado e oprimido pela perene conexão com tudo e com todos. O seu livro, porém, não tem um recorte sociológico e menos ainda um odor nostálgico: pelo contrário, é radicalmente contracorrente. É um elogio da escolha livre de estar sozinho, sem a presença constante dos outros, uma apologia daquela experiência humana e psicológica que é pré-condição de todo pensamento crítico e de toda atividade criativa.

O título é La solitudine dell´anima (Ed.  Feltrinelli, 198 páginas). O autor é um psiquiatra que recorre à literatura e à filosofia não por um improvável exibicionismo seu, mas para restituir a infinita complexidade do nosso mundo interno ("a psiquiatria tem necessidade da poesia", escreve ele com audácia).

Eis a entrevista.

O que é, para o senhor, a solidão e por que ela se diferencia do estado de isolamento?

Solidão e isolamento são dois modos radicalmente diferentes de viver, embora freqüentemente sejam identificados. Estar sozinho não quer dizer sentir-se sozinho, mas separar-se temporariamente do mundo das pessoas e das coisas, das ocupações cotidianas, para entrar novamente na própria interioridade e na própria imaginação – sem perder o desejo e a nostalgia da relação com os outros: com as pessoas amadas e com as tarefas que a vida nos confiou. Estamos isolados, ao contrário, quando nos fechamos em nós mesmos, porque os outros nos rejeitam ou mais freqüentemente no rastro da nossa própria indiferença, de um egoísmo tétrico que é o efeito de um coração árido ou seco.

Por que a solidão se nutre de silêncio e o isolamento é marcado pelo mutismo?

Porque na solidão, tão rica de vida interior, o silêncio tem um eros e uma linguagem próprios: diz as nossas melancolias, as angústias, as esperanças não expressadas, os temores, as expectativas. Diz os nossos desejos mais autênticos. O silêncio tem mil modos de manifestar alguma coisa e de escondê-la, de indicar e de aludir, de se aproximar e de se afastar, de fascinar e de intimidar. Ao contrário, quando estamos isolados, separados do mundo, mônadas de portas e janelas fechadas, não temos pensamentos e emoções a serem transmitidos aos outros. Sem mais palavras, aprofundamo-nos em um mutismo que tem uma única dimensão: a da insignificância.
Mas nós estamos imersos na era do encantamento pelo digital, em que a intimidade é exteriorizada por meio das redes sociais, provavelmente em fuga do sentido de vazio que deriva da ausência de laços reais, certamente capaz de comunicar rapidamente com qualquer um. Será ainda possível recuperar o sentido mais precioso da solidão?
Você toca em um aspecto emblemático da condição humana de hoje e da juvenil em particular: a tendência aos contatos de "desemocionalizados" que respondem às necessidades do momento e se incineram sem deixar rastro no coração e na memória. Não há dúvida de que hoje a solidão é sempre mais difícil de ser salva e de ser vivida, porque somos arrastados por um redemoinho de sensações exteriores que não nos dão nem mais o tempo para pensar em nós mesmos, para nos confrontar com os nossos segredos, com o guazzabuglio [mistura, confusão] manzoniano [de Alessandro Manzoni] das emoções que estão em nós, com as coisas que não queremos lembrar e voltam à memória, com a autenticidade ou a inautenticidade das relações que temos com os outros: no fundo, com o mistério do viver e do morrer.

A solidão – como o senhor a entende – não está, então, destinada a ser a prerrogativa de uma minoria de boas almas?

Não, porque a solidão, como eu a entendo, não é só uma experiência interior de poucos eleitos, mas, ao contrário, é uma matriz ideal de mudança relacional e cultural, política e social e, em última instância, razão de vida historicamente significativa. É indispensável reencontrar os valores inalienáveis da reflexão crítica e da solidariedade, do empenho ético na política, do respeito radical das pessoas e das suas diferenças – transferindo a consciência desses valores para aquela que é a ação cotidiana, o testemunho pessoal de cada um de nós.

Algumas páginas iniciais do seu livro referem-se a um filme de Bergman de 1972: Lágrimas e suspiros. Por que as escreveu?

Porque aquelas quatro mulheres vestidas de branco conjugam as diversas linguagens paradigmáticas da solidão. Agnes, quase devorada pela doença, até nas últimas horas não perde nada da sua sensibilidade, jamais está fechada em si mesma, mas aberta a um diálogo com a memória e com a espera misteriosa da morte. Ao lado dela está Anna, uma jovem mulher capaz de compartilhar esse destino como se fosse o seu. Depois, estão as duas irmãs de Agnes – Karin e Maria – aprisionadas, ao contrário, em uma solidão que representa o isolamento mais egocêntrico, o deserto das emoções, a indiferença gelada ao amor e à solidariedade, em uma insana idolatria do eu, do corpo, da beleza.

"Toda a infelicidade do homem deriva da sua incapacidade de permanecer no seu quarto sozinho": a solidão da alma não poderia ser resumida nesse aforismo de Pascal?

Leio Blaise Pascal desde os tempos da escola, porém, desta vez, a fulgurante incisividade do seu pensamento não levantou voo pelas zonas da minha memória. Sim, no aforisma pascaliano – que capta a dimensão existencial radical da solidão: da fadiga, ou melhor, da incapacidade de vivê-la – não se poderia resumir melhor o forte sentido do meu livro. Desagrada-me o fato de não ter citado uma bela reflexão leopardiana [de Giacomo Leopardi], e faço-o aqui, sintetizando ao máximo: a solidão "nos rejuvenesce".
 


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