quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Teatro/CRÍTICA

"Solilóquio - um amor sem palavras"

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Humor e lirismo no Solar



Lionel Fischer



"Haroldo, criado pela avó e três dias, é vítima de uma maldição: só pode pronunciar uma palavra por dia. A família zela para que o menino não quebre a regra, pois do contrário estarão sujeitos a tragédias. No entanto, aos oito anos Haroldo se apaixona por Helena e decide ficar mudo durante 30 dias, objetivando utilizar 30 palavras para declarar seu amor".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo de "Solilóquio - um amor sem palavras", que acaba de entrar em cartaz no Centro Cultural Solar de Botafogo. Inspirada em "Humulus, o mudo" (Jean Anouil e Jean Aurenche), a peça leva a assinatura de Renata Amaral (supervisão dramatúrgica de Felipe Barenco), estando a direção a cargo de Zé Helou. 

No elenco, Beatriz Junqueira (Valentina, a avó), Bruno Macedo (Teodoro, o professor/ Criança que tira o esparadrapo/ Assaltante/ Padre), Jonas de Sá (Haroldo), Kakau Berredo (Edgar, o irmão/ Pai de Helena), Laura Araujo (Tia 1/ Criança má/ Prostituta), Mariana Bassoul (Tia 3/ Mãe da criança má/ Prostituta 3/ Mãe de Santo), Renata Amaral (Tia 2/ Bibliotecária/ Prostituta 2), Rodrigo Miranda (Haroldo) e Viviana Rocha (Helena).

Como não li o original, não sei até que ponto Renata Amaral se apropriou do mesmo para materializar a presente versão. Mas não hesito em afirmar que o texto apresentado é delicioso, capaz de agradar não apenas aos adultos, mas também aos pré-adolescentes a partir dos 12 anos. Divertida, crítica e impregnada de poesia, a peça só merece uma ressalva: a cena das prostitutas. Não que seja mal escrita ou encenada de forma vulgar, mas me parece um tanto deslocada no contexto - mas é claro que posso estar enganado.

Com relação ao espetáculo, Zé Helou impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico, cabendo destacar as passagens desprovidas de texto e a criatividade da maioria das marcações. Ainda assim, acredito que as contínuas mudanças de cenário poderiam ser um pouco reduzidas, pois estas ralentam um pouco o ritmo do espetáculo.

No tocante ao elenco, o que mais me seduziu foi a unidade do conjunto, a evidente cumplicidade e alegria que todos exibem por estarem participando de um projeto em que acreditam piamente. Assim, a todos parabenizo com o mesmo entusiasmo e a todos agradeço a divertida e poética noite que me proporcionaram.

Na equipe técnica, gostaria de destacar a excelente direção musical de Letícia Andrade e Gui Stutz, totalmente integrada ao espetáculo e determinante para a apreensão dos múltiplos climas emocionais em jogo. São também muito boas as contribuições de Fabiana Valor (direção de movimento), Lilian Doyle (cenografia), Preta Marques (figurinos) e Monica Diniz (iluminação).

SOLILÓQUIO - UM AMOR SEM PALAVRAS - Texto de Renata Amaral. Direção de Zé Helou. Com Beatriz Junqueira, Kakau Berredo e grande elenco. Centro Cultural Solar de Botafogo. terças e quartas, 20h. 

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