segunda-feira, 6 de junho de 2016

Teatro/CRÍTICA

"Auê"

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Divertido, comovente e inesquecível encontro



Lionel Fischer



Da mesma forma que há mais coisas entre o céu e a terra do que pode supor nossa vã filosofia (infelizmente, a frase não é minha...), existem espetáculos que ultrapassam as mais otimistas expectativas. É o caso de "Auê" (Teatro dos Quatro) pelas razões que detalharei mais adiante. 

Criado pela companhia Barca dos Corações Partidos em parceria com a diretora Duda Maia, o espetáculo exibe 21 canções autorais e inéditas (quase todas versando sobre o amor), compostas pelos integrantes do grupo - Adren Alves, Alfredo Del Penho, Beto Lemos, Eduardo Rios, Fábio Enriquez, Renato Luciano e Rica Barros -, que contaram com a colaboração, dentre outros, de Moyseis Marques e Laila Garin. 

Diante do exposto, um espectador apressado poderia perguntar se o espetáculo seria efetivamente teatro ou na realidade um show, dada a inexistência de um texto. Tal questão não seria nada desprezível, posto que a maioria das pessoas só consegue entender teatro desde que o fenômeno teatral se dê a partir de um texto. E aqui reside um dos mais poderosos trunfos de "Auê". Embora em dado momento um longo texto seja dito, o belíssimo e comovente "Doideira de amor" (Eduardo Rios), são as canções que constituem a dramaturgia, tanto por seu conteúdo como pela forma com que são encadeadas e teatralizadas.

E já que falamos em teatralização, é realmente arrebatadora a direção de Duda Maia, uma das mais brilhantes diretoras de movimento do teatro brasileiro. A começar pela relação que extrai dos músicos/atores com seus instrumentos. Muito mais do que simplesmente pegá-los e tocá-los, os atores os incorporam de tal forma que se tornam indissociáveis dos personagens que interpretam - sim, personagens, posto que todos agem em total consonância com os conteúdos das canções.

Outro ponto admirável da direção diz respeito às relações entre os atores e destes com o espaço, relações sempre imprevistas e criativas, muitas delas envolvendo os espectadores, que logo se sentem totalmente integrados à montagem e são estimulados a liberar suas mais preciosas emoções. No meu caso específico, devo confessar que passei do riso às lágrimas com uma constância que jamais me aconteceu em nenhum outro espetáculo. 

E isto se deve, obviamente, não apenas à dinâmica cênica, mas também à beleza das músicas e das letras, e também à forma como são interpretadas e vivenciadas em cena. Assim, só me resta agradecer a Adren Alves, Alfredo Del Penho, Beto Lemos, Eduardo Rios, Fábio Enriquez, Renato Luciano e Rica Barros - e também ao excelente e simpático baterista Rick de La Torre, artista convidado - pela maravilhosa e inesquecível noite que me proporcionaram.

Na equipe técnica, Alfredo Del Penho e Beto Lemos respondem por irrepreensíveis direção musical e arranjos. Renato Machado ilumina a cena valorizando todos os climas emocionais em jogo. Kika Lopes, que assina a direção de arte, ao que tudo indica é a responsável pelo encantador cenário e pelos mais belos e expressivos figurinos da atual temporada.

AUÊ - Direção de Duda Maia. Com a companhia Barca dos Corações Partidos. Teatro dos Quatro. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h.




2 comentários:

  1. Muito Obrigada pelas palavras, Lionel. Com carinho, Duda Maia.

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  2. Você merece todas as palavras, as já escritas e as que virão.
    Beijos,
    Eu

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