Teatro/CRÍTICA
"Herivelto como conheci"
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Emocionado e emocionante tributo
Lionel Fischer
Baseado no livro homônimo de Cacau Hygino e Yaçanã Martins, o monólogo-musical "Herivelto como conheci" tem como principal mote o romance vivido entre o compositor e músico Herivelto Martins (1912-1992) e sua segunda esposa, Lurdes Torelly. O público tem acesso a cartas, telegramas e bilhetes trocados entre ambos ao longo de uma relação que durou 40 anos, além, é claro, de usufruir a arrebatada beleza de 19 canções daquele que é, sob todos os pontos de vista, um dos mais brilhantes compositores da MPB.
Com texto assinado por Cacau Higino e Yaçanã Martins, e adaptação e direção a cargo de Claudio Botelho, "Herivelto como conheci" (Teatro Net Rio) é protagonizado por Marília Pêra, que divide a cena com Thiago Trajano (arranjos/violão/bandolim) e Marcio Castro (piano/acordeon).
Como não li o livro, não tenho como avaliá-lo. Mas o imagino delicioso em função da adaptação de Claudio Botelho, que alterna depoimentos e canções de tal forma que o espectador permanece atento e fascinado ao longo de todo o espetáculo, propositadamente simples e despojado, mas que justamente em função destes predicados atende à premissa que lhe deu origem: prestar um emocinado e emocionante tributo não apenas a um compositor extraordinário, mas também a um homem que teve a coragem de viver intensamente suas paixões.
Quanto a Marília Pêra, gostaria de registrar que, a cada novo espetáculo em que ela atua, me vejo diante de doloroso impasse. Seria conveniente repetir os inúmeros e elogiosos adjetivos que já utilizei? Valeria a pena consultar o "Aurélio" em busca de outros? Ou quem sabe reproduzir a análise que fiz, em ocasião que agora não consigo precisar, de seus prodigiosos recursos técnicos, seja no tocante ao texto, seja no que diz respeito à expressividade de seu universo gestual? Como um Hamlet destituído de providencial caveira, ponho-me a cismar...
Em todo o caso, algo precisa ser dito. E o que tenho a dizer, como já disse várias vezes, é que estamos diante de uma das melhores atrizes do mundo, possuidora de uma inteligência cênica e de um carisma tão poderosos que torna-se literalmente impossível não se render totalmente ao fascínio que provoca. Qualquer texto, ainda que simples, como no presente caso, adquire notável dimensão quando por ela proferido. Qualquer música, quando cantada por ela, valoriza ao máximo todos os conteúdos propostos pelo compositor. E aqui Marília Pêra está em finíssima sintonia com Herivelto Martins, pois canta suas canções de forma arrebatada, apropriando-se das mesmas como se fossem suas, como se brotassem de suas entranhas. Sem dúvida, mais um momento inesquecível protagonizado por uma artista que, dentre seus incontáveis predicados, possui o de iluminar a todos aqueles que têm o privilégio de assisti-la.
Com relação a Thiago Trajano, cumpre assinalar a beleza de seus arranjos, assim como seu domínio dos instrumentos que toca, o mesmo aplicando-se a Marcio Castro. Igualmente irrepreensíveis a preparação vocal de Paula Leal, a luz de Paulo Medeiros e a pesquisa musical de Alfredo Del Penho, que muito contribuem para o sucesso desta oportuníssima empreitada teatral.
HERIVELTO COMO CONHECI - Texto original de Cacau Hygino e Yaçanã Martins. Adaptação e direção de Claudio Botelho. Com Marília Pêra e os músicos Marcio Castro e Thiago Trajano. Teatro Net Rio. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h.
segunda-feira, 16 de julho de 2012
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Fui assistir "Herivelto como conheci" no mesmo dia em que você, Lionel. Sentei uma fileira à frente. Tentei me livrar de qualquer opinião formada e enxergar Marília com um olhar neutro. Não consegui. Fui, sou e sempre serei suspeita para falar dela. Marília pode não ser a melhor cantora do mundo, pode ter seus exageros, mas eu gosto. Aliás, entrei no teatro gostando e saí completamente apaixonada!
ResponderExcluirMaísa amiga:
ResponderExcluirJá que você me conhece, poderíamos ter conversado um pouco após o espetáculo. Numa próxima ocasião, gostaria muito de saber sua opinião.
beijos,
Eu