sábado, 21 de julho de 2012

Teatro/CRÍTICA

"O outro Van Gogh"

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Montagem imperdível no Poeira


Lionel Fischer



"O espetáculo localiza-se nos últimos dias de vida de Theo Van Gogh (1857-1891), irmão, confidente e mantenedor do grande pintor holandês Vincent Van Gogh (1853-1890). Internado numa casa de saúde, abalado pelo repentino suicídio de seu irmão mais velho, pelos pesados encargos de sustento de sua mulher, filho e de seus pais, e já sofrendo os mesmos sintomas radicais da doença mental dos Van Gogh, Theo repassa acontecimentos afetivamente importantes na sua relação com Vincent em sua luta por tornar-se um pintor. Como num réquiem, o texto fala, sobretudo, do amor visceral que uniu e levou à morte esses dois irmãos".

Extraído do ótimo release que me foi enviado pela assessora de imprensa Daniella Cavalcanti, o trecho assina sintetiza o enredo do monólogo "O outro Van Gogh", em cartaz no Teatro Poeira. Com texto assinado por Maurício Arruda de Mendonça, a montagem chega à cena com direção de Paulo de Moraes e interpretação a cargo de Fernando Eiras.

"Se Deus não existe, então tudo é permitido", afirmou Dostoiévski.
Mas caso exista, certamente nos deve ao menos duas explicações: por que permitiu que Mozart morrese na mais absoluta miséria e fosse enterrado numa vala comum? E por que não intercedeu junto à humanidade para que Van Gogh vendesse ao menos dois quadros, ao invés de apenas um? Tal qual um Hamlet destituído de providencial caveira, ponho-me a cismar...

Mas aqui, cismar ou não cismar, é questão irrelevante. O fundamental é afirmar que Maurício Arruda de Mendonça escreveu um texto belíssimo, impregnado de profunda dor e intensa poesia, facultando ao público um retrato emocionante e emocionado da visceral relação de amor e cumplicidade entre os irmãos Theo e Vincent. E isto sem excluir outras reflexões mais do que pertinentes, tais como a aterradora capacidade das classes dominantes de massacrar aqueles que não se enquadram aos padrões impostos por seus interesses, seja em que campo fôr.

Com relação ao espetáculo, Paulo de Moraes impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com os conteúdos em jogo. Valendo-se de marcações refinadas e de altíssima expressividade, o diretor consegue materializar tanto as angústias do personagem quanto seu intenso lirismo e seu incomensurável afeto. Sob todos os pontos de vista, uma das melhores direções assinadas  por este encenador brilhante.

Quanto a Fernando Eiras, todos sabemos que se trata de um intérprete de vastíssimos recursos expressivos, tanto no tocante ao texto articulado como no que concerne ao universo gestual - afora sua notável habilidade para o canto. Mas há algo em Fernando Eiras que transcende a técnica: sua maravilhosa capacidade de entregar-se por completo aos personagens que encarna. Tenho sempre a sensação, quando o vejo em cena, que ele se apropria de tal forma de seus personagens que é quase como se os tivesse criado, como se  tivessem nascido não da imaginação de um autor, mas de suas entranhas. E nisto reside, em minha opinião, o que difere um grande ator de um ator de exceção. Fernando Eiras pertence a este último e seletíssimo grupo.

Na equipe técnica, Paulo de Moraes responde por uma cenografia simples e despojada, constituída basicamente por uma cadeira e uma luminária, mas certamente muito expressiva. Igualmente irretocáveis os figurinos de Rita Murtinho, os vídeos de Ricco e Renato Vilarouca e a trilha sonora de Ricco Viana. No tocante à luz, é realmente admirável a contribuição de Maneco Quinderé para o  fortalecimento de estados emocionais tão intensos e diversificados. Creio mesmo que seu trabalho luminístico mereça ser encarado como a tradução visível dos sentimentos do atormentado e emotivo protagonista. Sem a menor dúvida, a melhor iluminação da atual temporada. Finalmente, um destaque todo especial para a deslumbrante preparação corporal feita por Patrícia Selonk.

O OUTRO VAN GOH - Texto de Maurício Arruda de Mendonça. Direção de Paulo de Moraes. Com Fernando Eiras. Teatro Poeira. Quinta a sábado, 21h30. Domingo, 19h.



2 comentários:

  1. olá Lionel,
    Visitei o seu blog e tenho lido belos textos seus de crítica.
    Dou-lhe os meus parabéns.

    Tenho um blog sobre literatura e convido-o a fazer uma visita.

    1 abraço e certamente virei cá mais vezes.

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  2. Miguel amigo:

    Agradeço a gentileza de tuas palavras.
    Certamente visitarei seu bolçg.
    Abraços,
    Eu

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