Teatro/CRÍTICA
"Eu te amo"
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Quando as máscaras caem
Lionel Fischer
No início, dizem, era o Verbo. No presente caso, era imagem. Imagens e palavras que constituiam o filme "Eu te amo", de Arnaldo Jabor, lançado em 1981. Mais tarde, em 1988, Jabor converteu o filme em peça teatral. E agora ela está em cartaz na Sala Marília Pêra do Teatro do Leblon, curiosamente dirigida por dois cineastas, Rosane Svartman e Lírio Ferreira, estando o elenco formado por Alexandre Borges e Juliana Martins.
Tudo se passa numa produtora cinematográfica. Recém abandonado pela mulher, completamente falido, um cineasta de meia-idade recebe a visita de uma jovem garota de programa. E o que poderia se resumir a um breve encontro capaz de satisfazer as recíprocas necessidades - ele, de amenizar sua solidão; ela, de faturar uma grana - vai aos poucos se convertendo em uma espécie de jogo em que sucessivas máscaras vão caindo, assim revelando a verdadeira face dos dois personagens.
Quando digo "jogo" me refiro basicamente aos muitos estratagemas dos quais normalmente lançamos mão para nos proteger da opinião do outro. Ao interpretarmos "tipos", é como se nos tornássemos imunes a eventuais sofrimentos, já que nossa verdadeira natureza permaneceria oculta e, portanto, inatingível.
No entanto, em dadas circunstâncias, surge uma inesperada e desconcertante necessidade de entrega, uma urgência em revelar-se por inteiro, exibir todas as carências e fragilidades, correr todos os riscos, pois a farsa já não mais se sustenta. E é exatamente o que acontece neste brilhante texto de Arnaldo Jabor, pleno de humor e humanidade.
Sem entrar em maiores detalhes, já que isso privaria o espectador de muitas surpresas, me permito apenas dizer que o autor criou dois ótimos personagens, diálogos fluentes e um contexto que, embora quase sempre impregnado de uma atmosfera sexual, aborda temas da maior relevância, tais como frustrações, carências, rejeições e, em especial, o pavor que todos sentimos (ainda que dificilmente o admitamos) de não conseguirmos amar intensamente e sermos correspondidos em igual medida.
No tocante à encenação, Rosane Svartman e Lírio Ferreira impõem à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico, criando marcas expressivas e ao mesmo tempo, através de belíssimos vídeos, enriquecer a montagem com seus predicados de ótimos cineastas.
Com relação ao elenco, tanto Alexandre Borges como Juliana Martins extraem o que de mais relevante possuem seus personagens, tanto nas passagens mais dramáticas quanto naquelas em que o humor predomina. E no que concerne aos muitos momentos em que os personagens se relacionam fisicamente, ambos se entregam por completo, renunciando a inadequados pudores, mas sem jamais descambar para a vulgaridade.
Sem dúvida, um visceral encontro entre um excelente e charmosíssimo ator e uma jovem e talentosa atriz cuja beleza e poder de sedução, para serem corretamente descritos, demandariam a utilização de palavras que, lamentavelmente, ainda não tive o privilégio de conhecer. Cabe também registrar a ótima participação em vídeo de Ana Markun, que interpreta a mulher que abandonou o cineasta.
Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Rogério Emerson (iluminação), Fabiana Egrejas (cenografia), Márcia Tacsir (figurinos), Rose Gonçalves (preparação vocal), Márcia Rubin (consultoria de movimento), Ana Rios, Lírio Ferreira e Rosane Svartman (trilha musical), e os vídeos, que me parecem ser de autoria da dupla de diretores.
EU TE AMO - Texto de Arnaldo Jabor. Direção de Rosane Svartman e Lírio Ferreira. Com Alexandre Borges e Juliana Martins. Teatro do Leblon.Quinta a sábado, 21h. Domingo, 20h.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
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