segunda-feira, 25 de março de 2013

Teatro/CRÍTICA


"As mulheres de Grey Gardens - O musical"


....................................................................
Montagem impecável na Baden Powell


Lionel Fischer



"Elas costumas ser lembradas como as excêntricas tia e prima de Jacqueline Kennedy - Edith Ewing Bouvier Beale (1895-1977) e sua filha, Edith Bouvier Beale (1917-2002). Grey Gardens é a mansão de East Hampton, elegante balneário próximo a Nova York, em que Edith cria Edie e seus outros dois filhos. Enquanto os irmãos mais novos conseguem, quando adultos, descolar-se da casa e da família, a primogênita fica presa à relação com a mãe, ambas com vocações artísticas que não se concretizam. Edie tenta ser modelo e atriz em Nova York, na década de 40, mas fracassa e retorna para nunca mais sair de Grey Gardens".

Extraído (e levemente editado) do ótimo release que me foi enviado pela assessora de imprensa Daniella Cavalcanti, o trecho acima sintetiza o enredo de "As mulheres de Grey Gardens - O musical" (Sala Baden Powell), texto de Doug Wrigth, melodias de Scott Frankel, letras de Michael Korie, versão brasileira de Jonas Calmon Klabin e versões adicionais de Claudio Botelho.

No elenco, Suely Franco e Soraya Ravenle dividem a personagem Edith Bouvier Beale em épocas diferente, o mesmo ocorrendo com Soraya e Carol Puntel ne pele de Edie Beale. O elenco conta ainda com as presenças de Guilherme Terra (George Strong), Jorge Maya (Brooks/Norman Vincent Peale)), Raquel Bonfante (Jacqueline Bouvier), Sofia Viamonte (Lee Bouvier), Pierre Baitelli (Joseph Patrick Kennedy Jr.), Sandro Christopher (J. V. Bouvier) e Danilo Timm (Jerry).

Embora centrada nos conflitos desta notória e aristocrática família, a trama em questão não perderia sua força se fosse outro o contexto, pois os principais temas em causa (ambição artística e dependência materna) extrapolam classes sociais. E em ambos afloram sentimentos destrutivos e, de certa forma, algo parecidos. No caso da ambição artística, a tendência daquele que vê frustrados seus esforços é quase sempre a de culpar alguém que não a si mesmo. E no tocante à dependência, o ônus recai invariavelmente sobre a figura materna (ao menos neste caso), como se esta tivesse o poder de impedir um salutar afastamento.

Com relação ao espetáculo, impecável sob todos os pontos de vista, um de seus maiores encantos diz respeito à estrutura narrativa - como não sou especialista em musicais, não sei se tal estrutura consta do original ou se foi criada por Wolf Maya. O fato é que, afora os números cantados (invariavelmente de forma brilhante), em muitas passagens o canto vem mesclado a textos, o que confere à cena uma, digamos, encantadora naturalidade. Além disso, as passagens faladas evidenciam elaborada dramaturgia, o que permite ao elenco evidenciar seus notáveis dotes interpretativos.  

Em suas duas personagens, Soraya Ravenle ratifica o que dela já sabemos há muito tempo: canta esplendidamente e interpreta com irrepreensível eficiência. Suely Franco está absolutamente brilhante na pele de Edith Bouvier Beale, extraindo da personagem todo o seu potencial - sem dúvida, uma das atuações mais marcantes da presente temporada. Vivendo o pianista e compositor, Guilherme Terra valoriza ao máximo o suave cinismo do personagem. Carol Puntel (Edie Beale) também exibe performance irretocável, o mesmo aplicando-se a Jorge Maya, Pierre Baitelli, Sandro Christofher e Danilo Timm.  Quanto às meninas Raquel Bonfante (Jacqueline Bouvier) e Sofia Viamonte (Lee Bouvier), ambas são lindíssimas e revelam um talento nada comum para a idade.

Na equipe técnica, Bia Junqueira responde por uma cenografia de altíssima expressividade, em especial no segundo ato, quando a antiga e bela mansão se converte numa espécie de lixeira, impregnada de memórias. Luiz Paulo Nenen ilumina a cena de forma a enfatizar todos os climas emocionais em jogo, a mesma eficiência presente nos figurinos de Marta Reis, na coreografia de Marcia Rubin, no desenho de som de Gabriel D'Angelo, na preparação vocal de Mirna Rubin e Carlos Bauzys, na identidade visual de Debora Bensusan e Tânia Grillo, no visagismo de Flávio Priscott e na direção musical de Carlos Bauzys e Daniel Rocha. Cabe ainda registrar a irretocável regência de Juliano Dutra e a precisa performance dos músicos.

GREY GARDENS - O MUSICAL - Texto de Doug Wright, música de Scott Frankel e letras de Michael Korie. Direção de Wolf Maya. Com Suely Franco, Soraya Ravenle e grande elenco. Sala Baden Powell.Quinta, 20h. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 19h.




Nenhum comentário:

Postar um comentário