quarta-feira, 3 de abril de 2013

Bertolt Brecht

REFLEXÕES E POEMAS (não muito conhecidos...)



Para quem tem uma boa posição social, falar de comida é coisa baixa. É compreensível: eles já comeram.

Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.

A vida é curta e o dinheiro também.


Temam menos a morte e mais a vida insuficiente.


Apenas a violência pode servir onde reina a violência, e apenas os homens podem servir onde existem homens.


De todas as coisas seguras, a mais segura é a dúvida.

Primeiro vem o estômago, depois a moral.

Um homem tem sempre medo de uma mulher que o ame muito.

O que não sabe é um ignorante, mas o que sabe e não diz nada é um criminoso.

Quem não conhece a verdade não passa de um tolo; mas quem a conhece e a chama de mentira é um criminoso!

O amor é a arte de criar algo com a ajuda da capacidade do outro.

A confiança pode exaurir-se caso seja muito exigida.

Perante um obstáculo, a linha mais curta entre dois pontos pode ser a curva.

Miserável país aquele que não tem heróis. Miserável país aquele que precisa de heróis.

Pão e um gole de leite são vitórias! Um quarto quente: uma batalha vencida! Para te fazer crescer, Devo combater dia e noite.

Apenas quando somos instruídos pela realidade é que podemos mudá-la.


DA SEDUÇÃO DOS ANJOS

Anjos seduzem-se: nunca ou a matar.

Puxa-o só para dentro de casa e mete -

- Lhe a língua na boca e os dedos sem frete

Por baixo da saia até se molhar.

Vira-o contra a parede, ergue-lhe a saia

E fode-o. Se gemer, algo crispado

Segura-o bem, fá-lo vir-se em dobrado

P'ra que do choque no fim te não caia.

Exorta-o a que agite bem o cu

Manda-o tocar-te os guizos atrevido

Diz que ousar na queda lhe é permitido

Desde que entre o céu e a terra flutue -

Mas não o olhes na cara enquanto fodes

E as asas, rapaz, não lhas amarrotes.


O USO DAS PALAVRAS OBSCENAS

Desmedido eu que vivo com medida

Amigos, deixai-me que vos explique

Com grosseiras palavras vos fustigue

Como se aos milhares fossem nesta vida!

Há palavras que a foder dão euforia:

Para o fodidor, foda é palavra louca

E se a palavra traz sempre na boca

Qualquer colchão furado o alivia.

O puro fodilhão é de enforcar!

Se ela o der até se esvaziar: bem.

Maré não lava o que a arvore retém!

Só não façam lavagem ao juizo!

Do homem a arte é: foder e pensar.

(Mas o luxo do homem é: o riso).


AULA DE AMOR

Mas, menina, vai com calma

Mais sedução nesse grasne:

Carnalmente eu amo a alma

E com alma eu amo a carne.

Faminto, me queria eu cheio

Não morra o cio com pudor

Amo virtude com traseiro

E no traseiro virtude pôr.

Muita menina sentiu perigo

Desde que o deus no cisne entrou

Foi com gosto ela ao castigo:

O canto do cisne ele não perdoou.


O COITO E A SAUNA

Melhor é foder primeiro, e então banhar.

Esperas que, curva, sobre o balde se ajeite

O traseiro nu miras com deleite

E tocas-lhe entre as coxas a reinar.

Mantém-na em posição, mas logo após

Assento no piço lhe seja permitido

Se duche quiser na cona, invertido.

Depois, claro, seguindo nossos avós,

Serve ela no banho. As pedras põe a apitar

Com bátega rápida (que a água ferva)

Com tenra bétula te açoita e corado

Em balsâmico vapor mais esquentado

A pouco e pouco te deixas refrescar

Suando agora a fodança em caterva.


AH! DESGRAÇADOS!

Um irmão é maltratado e vocês olham para o outro lado?

Grita de dor o ferido e vocês ficam calados?

A violência faz a ronda e escolhe a vítima,

e vocês dizem: "a mim ela está poupando, vamos fingir que não estamos olhando".

Mas que cidade?

Que espécie de gente é essa?

Quando campeia em uma cidade a injustiça,

é necessário que alguem se levante.

Não havendo quem se levante,

é preferível que em um grande incêndio,

toda cidade desapareça,

antes que a noite desça.


O ANALFABETO POLÍTICO

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Tenho muito o que fazer. Preparo o meu próximo erro.


PRIVATIZADO

Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.

É da empresa privada o seu passo em frente,

seu pão e seu salário.

E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence.
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