sábado, 14 de novembro de 2015

Teatro/CRÍTICA

"Autobiografia Autorizada"

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Humor e lirismo na Casa da Gávea



Lionel Fischer



A noite de ontem foi muito especial para mim. Com indesculpável atraso, resolvi assistir "Autobiografia Autorizada", em cartaz na Casa da Gávea após cumprir bela temporada nos Correios e percorrer inúmeras cidades no país. Mas ao chegar ao referido espaço constatei a presença de poucos espectadores, certamente por que, no mesmo horário, o Brasil estaria jogando com a Argentina pelas eliminatórias da Copa do Mundo.

Então, perguntei a Paulo Betti se ele não preferia cancelar a sessão, pois havia a possibilidade de o Brasil jogar bem (o que não acorreu e parece que jamais ocorrerá) e a gritaria se instalar nas redondezas, prejudicando o espetáculo. Paulo me disse que não cancelaria a apresentação, mesmo com a possibilidade de foguetórios. E enfatizou, sempre sorridente e com enorme simpatia, que o fato de ali estarem poucas pessoas não alterava nada: "O teatro é isso, não é? Um dia representamos para muitos, um dia representamos para poucos". 

Efetivamente, o teatro é isso. O verdadeiro artista não permite que sua disponibilidade para se doar esteja atrelada ao número de espectadores. E certamente os poucos que estiveram, ontem, na Casa da Gávea, de lá saíram tão gratificados como eu, pois ali se materializou a melhor definição de teatro que conheço, proferida pelo maior encenador vivo, o inglês Peter Brook: "O teatro é a arte do encontro".

Paulo Betti está comemorando 40 anos de uma belíssima carreira, tendo realizado um total de 117 trabalhos como ator em teatro, cinema, TV, diretor e narrador. E poderia ter escolhido um belo texto de autor consagrado para festejar uma data tão especial. Mas optou por escrever sobre si mesmo, sobre sua família, sobre sua infância e adolescência. E para aqueles que, apressadamente, possam imaginar que na origem de tal iniciativa repousaria uma discutível dose de vaidade, gostaria de dizer que considero abençoados os que se envaidecem de suas trajetórias, desde que as mesmas, naturalmente, contenham tanta poesia, humor e humanidade, como a de Paulo Betti.

Optando por uma estrutura narrativa que mescla confissões e materializações de pessoas vitais, o belíssimo texto de Paulo Betti encontra justa correspondência na brilhante direção de Betti em parceria com Rafael Ponzi, que valoriza, com a mesma intensidade e lirismo, tanto as passagens mais dramáticas quanto aquelas em que o humor predomina. E se a isto somarmos a deslumbrante performance de Paulo Betti, o resultado só poderia ser um dos mais expressivos espetáculos da atual temporada, que deve ser prestigiado de forma incondicional pelo público.

Na equipe técnica, considero igualmente irretocáveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta imperdível empreitada teatral - Mana Bernardes (cenário), Letícia Ponzi (figurino), Dani sanchez e Luiz Paulo Neném (iluminação) Pedro Bernardes (trilha sonora)  e Miriam Weitzman (direção de movimento).

AUTOBIOGRAFIA AUTORIZADA - Texto de Paulo Betti. Direção de Betti e Rafael Ponzi. Com Paulo Betti. Casa da Gávea. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h.








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