sábado, 27 de julho de 2013

Teatro/CRÍTICA

"JIM"

.................................................................
Sensível a angustiante acerto de contas

Lionel Fischer


"Um homem diante do túmulo de Jim Morrison com uma arma em punho. Um homem que não conheceu o vocalista do The Doors mas sempre buscou ter uma vida como a dele, um dos maiores ícones do rock de todos os tempos. Um homem que acalentou o sonho de seguir os passos de seu ídolo, como artista e ser humano, mas levou uma vida trivial. Um homem que chegou aos 40 anos despido de suas idealizações. Um homem que está agora em Paris, no cemitério Père-Lachaise, com um revólver na mão para acertar as contas com Jim Morrison. Tudo leva a crer que irá matar-se, mas de repente surge uma misteriosa mulher com quem ele trava uma decisivo diálogo."

Extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, o trecho acima reproduz o enredo de "JIM", de autoria de Walter Daguerre, em cartaz no Teatro Leblon - a Sala Tônia Carrero. Paulo de Moraes assina a direção do espetáculo, estando o elenco formado por Eriberto Leão (que dá a vida a João Mota e a Jim Morrison) e Renata Guida, que interpreta a personagem feminina.

Por ser Jim Morrison por demais conhecido, assim como a trajetória de sua banda The Doors, não julgo necessário tecer maiores considerações sobre o trabalho de um artista extraordinário. O que me parece fundamental é a proposta de Walter Daguerre, que julgo da maior pertinência: a tendência que muitos apresentam de, em função de total identificação com um ídolo, tentar pautar sua vida em sintonia com o objeto idealizado. Na maioria esmagadora dos casos, quem renuncia à própria essência, quem despreza ou desconhece a própria singularidade está fadado ao mais profundo desespero. Como ocorre com João Mota.

Curiosamente, no entanto, tanto os diálogos que ele troca com Jim e sobretudo aqueles com a misteriosa mulher revelam uma personalidade sem dúvida atormentada, excessivamente crítica, mas nem por isso desprovida de grande potencial. E este é de certa forma demonstrado pela personagem feminina, que, dentre muitas interpretações possíveis, pode ser encarada como a consciência positiva de João, que possivelmente ele desconhecia ou simplesmente fazia questão de negar.

Bem escrito, contendo ótimos personagens e levantando questões inerentes à contemporaneidade, "JIM" recebeu excelente versão de Paulo de Moraes, que cria uma circunstância cênica que mescla com total êxito diálogos reais, imaginários, músicas cantadas (dez ao todo) e ao mesmo tempo faladas, tamanha sua força poética, tudo isto priorizando uma atmosfera sombria e extremamente angustiante. Sem dúvida, um dos espetáculos mais impactantes da atual temporada.

Na pele de Jim Morrison/João Mota, Eriberto Leão exibe a melhor atuação de sua carreira. Além de cantar muito bem, valorizando ao máximo a poesia e eventual fúria das canções, o ator também convence plenamente nas partes em que o texto predomina. Cabe também registrar a visceral entrega do ator aos personagens, estabelecendo com grande sensibilidade e sutileza suas semelhanças e incompatibilidades. Vivendo a mulher misteriosa, Renata Guida também apresenta atuação irrepreensível, tanto do ponto de vista vocal como corporal, estabelecendo irretocável contracena com seu parceiro. 

Na equipe técnica, Maneco Quinderé cria uma iluminação que enfatiza, através de seus muitos contrastes, todos os climas emocionais em jogo. A mesma eficiência se faz presente na direção musical de Ricco Vianna, na atuação dos músicos Zé Luiz Zambianchi (teclado), Felipe Barão (guitarra) e Rorato (bateria), na cenografia de Paulo de Moraes e nos figurinos de Rita Murtinho (em especial no da mulher misteriosa).

JIM - Texto de Walter Daguerre. Direção de Paulo de Moraes. Com Eriberto Leão e Renata Guida. Teatro do Leblon. Terça, quarta e quinta, 21h.    

  

   




3 comentários:

  1. Concordo em 100%, crítica perfeita!!! Show excelente em tudo!

    ResponderExcluir
  2. Amiga Iris,

    que bom que concordamos.
    Te agradeço o comentário.

    Beijos,

    Eu

    ResponderExcluir
  3. Oi..asistiu a peça ontem no Festival de Curitiba, AMEI,a interpretação da Renata também foi impecável.

    ResponderExcluir