segunda-feira, 22 de julho de 2013

Teatro/CRÍTICA

"Randevu do avesso"


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Curiosa piração no Café Pequeno


Lionel Fischer



Sempre que me perguntam se uma ótima ideia garante um resultado final equivalente, minha resposta é sempre a mesma: não. E cito como exemplo "Hamlet", considerada a melhor peça já escrita. Qual a ideia motivadora da trama? Um jovem príncipe é informado pelo fantasma de seu pai que ele fora assassinado pelo irmão, com a cumplicidade de sua esposa. O fantasma clama por vingança. E Hamlet leva cinco atos para consumá-la. Trata-se de uma ideia extraordinária? Pelo contrário. O que faz de "Hamlet" uma obra-prima suprema é a forma como Shakespeare desenvolve a trama, os deslumbrantes personagens que cria, as sempre pertinentes reflexões que faz sobre a natureza humana etc. 

No presente caso, estamos diante de uma ideia maravilhosa: prestes a estrear um grande show, a diva Melinda Melaço, inconformada com a hipocrisia que rege o mundo, começa a beber, toma várias bolas e tem uma overdose. Tudo sugere o cancelamento do espetáculo. Mas ocorre o inesperado: sua história é narrada pelo interior de seu corpo, com os personagens se dividindo entre órgãos, sensações e substâncias químicas. Sob todos os aspectos, uma ideia brilhante e original, ainda que o resultado mereça algumas ressalvas, que apontarei mais adiante.

De autoria de Cláudia Mauro, direção de Alice Borges, Édio Nunes e Marcos Ácher (supervisão de José Possi Neto), "Randevu do avesso - um surto coletivo" (Teatro Café Pequeno) chega à cena com elenco formado por Alice Borges, Anna Claudiah Vidal, Beth Lamas, Charles Fernandes, Cláudia Mauro, Édio Nunes, Gisela Saldanha, Marcos Ácher, Najla Raja e Ruben Gabira, todos interpretando mais de um personagem, exceção feita a Beth Lamas, que encarna Melinda. A montagem conta ainda com a participação dos músicos Guilherme Borges (piano e vocais adicionais) e Sérgio Conforte (percussão, bateria e sonoplastia).

Como dito acima, a autora partiu de uma excelente ideia e em muitas passagens seu texto é muito divertido. Mas em outras o nível cai muito, sendo várias delas, em meu entendimento, completamente desnecessárias - tive também a impressão que os atores colocam "cacos" em excesso, o que contribui para tornar o espetáculo bem mais longo do que deveria ser. E aqui não me refiro ao tempo cronológico, mas ao tempo do interesse - uma montagem pode durar 40 minutos e ser um verdadeiro martírio, enquanto outra pode se estender por horas sem causar nenhum enfado em quem assiste.

Seja como for - e desejando que a equipe chegue à conclusão de que o espetáculo pode ser um pouco reduzido - estamos diante de uma montagem impecavelmente produzida, dirigida com muito humor e criatividade, e interpretada com extrema competência por todo o elenco, que dá sempre a sensação de estar se divertindo muito em cena e evidencia total empenho em divertir os espectadores.

Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo as ótimas contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta inusitada empreitada teatral - Claudio Tovar (figurinos), Nello Marrese (cenário), Paulo César Medeiros (iluminação), Cláudio Lins (canções originais), Lins e Tony Lucchesi (direção musical), Lucchesi (arranjos vocais), Lins, Lucchesi e Guilherme Borges (arranjos instrumentais) e Adriana Nogueira, Charles Fernandes, Édio Nunes e Marília Araújo (coreografias), cabendo ainda citar Eliane Carvalho (Flamenco), Mabel Tude (Sapateado) e Silvia Matos (Tango), afora a a excelente atuação dos músicos.

RANDEVU DO AVESSO - Texto de Cláudia Mauro. Supervisão de direção de José Possi Neto. Com Alice Borges, Anna Claudiah Vidal, Beth Lamas, Charles Fernandes, Cláudia Mauro, Édio Nunes, Gisela Saldanha, Marcos Ácher, Najla Raja e Ruben Gabira. Teatro Café Pequeno. Sexta é sábado, 20h. Domingo, 19h,







  

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