Gomes, Dias (1923 - 1999) |
Alfredo de Freitas Dias Gomes (Salvador BA 1922 - São Paulo SP 1999). Dramaturgo, romancista e contista. Sai de Salvador, em 1935, para o Rio de Janeiro, iniciando-se na dramaturgia dois anos depois, com A Comédia dos Moralistas, premiada pelo Serviço Nacional de Teatro. Em 1942, estreia no teatro profissional com Pé de Cabra, encenada pela companhia de Procópio Ferreira. Em 1944, em São Paulo, ingressa na Rádio Panamericana, recém-fundada pelo dramaturgo Oduvaldo Vianna (1892 - 1972), na qual trabalha como diretor artístico e ator.
A partir de então, paralelamente à dramaturgia, atua em diversas rádios do Rio de Janeiro e de São Paulo. Viaja para Moscou, em 1953. A viagem é interpretada como uma afirmação de sua adesão ao comunismo e, em consequência disso, é demitido da Rádio Clube Nacional. Passa a escrever programas para a TV Tupi usando o nome de amigos, que assinam por ele e negociam seus textos. Volta às rádios em 1957, empregado pela Rádio Nacional. Em 1960, estreia sua peça de maior êxito, O Pagador de Promessas. Devido ao golpe militar de 1964 é novamente afastado das rádios, voltando-se exclusivamente para o teatro. Suas peças, no entanto, são constantemente censuradas.
Em 1969, volta a escrever para a televisão, desta vez com o próprio nome - a novela, O Bem Amado, foi a primeira a ser transmitida a cores. Durante a década de 1970, dedica-se quase que exclusivamente às novelas, entre as quais se destaca Roque Santeiro (1975). Retorna ao teatro em 1979, com as peças O Rei de Ramos e Campeões do Mundo.
Comentário crítico
A obra de Dias Gomes caracteriza-se pela variedade de processos dramáticos, dialogando com a tragédia (O Pagador de Promessas), com a comédia e a farsa (O Bem Amado) e com formas populares de representação (tal qual o bumba meu boi em A Revolução dos Beatos). Associado à multiplicidade de formas, um forte teor popular, plasmado na representação de costumes, linguagem e situações regionais, perpassa todas as suas peças.
Segundo o crítico Anatol Rosenfeld (1912 - 1973), o veio popular da dramaturgia de Dias Gomes deve-se muito ao seu empenho por valores sociais mais justos: ao acentuar o caráter popular em suas peças, ele visa falar sobre as camadas mais pobres da sociedade brasileira. Utiliza-se assim de formas artísticas com as quais essas camadas se identificam - em Dr. Getúlio, Sua Vida, Sua Glória (1968), por exemplo, a história do período Vargas é contada através da incorporação de elementos dos desfiles carnavalescos à estrutura da peça.
Em O Pagador de Promessas, a representação do modo de vida popular constrói-se por meio do conflito trágico entre os universos rural e urbano: Zé do Burro, personagem expoente do misticismo arcaico, enfrenta instituições citadinas para cumprir uma promessa. A peça é construída de modo a fazer com que o público se identifique com Zé do Burro, o que, ao lado de uma caracterização bastante negativa da representação da cidade, evidencia a defesa que o autor faz do universo e da cultura popular-rural. Tal supervalorização do mundo arcaico pode gerar, segundo Rosenfeld, certos desequilíbrios estéticos, pois "não escapa ao perigo de demonizar a cidade e de heroizar o subdesenvolvimento".
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Extraído de Enciclopédia Literatura Brasileira
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