segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Teatro/CRÍTICA

"Judy Garland - o fim do arco-íris"

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Humor, beleza e tragicidade


Lionel Fischer


"A vida de Judy Garland (1922-1969) foi certamente mais dramática e acidentada que as inúmeras personagens e canções imortalizadas por ela em filmes, shows e discos. A intensidade sempre deu o tom de sua trajetória, desde o precoce início de carreira, ainda criança, à decadência dos últimos anos de vida, passando pelo avassalador sucesso juvenil em 'O mágico de Oz', uma série de casamentos fracassados e a dependência química. O espetáculo não é uma biografia musical nem tem a intenção de contar a história da estrela, mas flagra os bastidores de sua última turnê, em Londres, entre momentos no palco e em um quarto no Hotel Ritz, onde se hospedava com Mickey Deans, que viria a ser seu quinto marido"

Extraído do ótimo release que me foi enviado pela assessora de imprensa Vanessa Cardoso, o trecho acima sintetiza o contexto em que se dá a ação de "Judy Garland - o fim do arco-íris", em cartaz no Teatro Fashion Mall. De autoria de Peter Quilter, o texto gira em torno da relação de três personagens: Judy Garland (Claudia Netto), Mickey Deans (Igor Rickli) e o pianista gay Anthony (Gracindo Jr), este último o único personagem fictício. Claudio Botelho assina a versão brasileira, estando a direção a cargo de Charles Möeller.

A a vida de Judy Garland foi marcada por inúmeras tragédias, que, no entanto, e ao menos por um bom tempo, não a impediram de manter-se no topo, no seleto rol das estrelas de primeiríssima grandeza. Mas aqui o foco recai sobre o período final de sua vida e trajetória artística, que Peter Quilter retrata de forma irretocável.

Possuidora de humor corrosivo, desconcertante arrogância e quase sempre lançando mão de um vocabulário chulo, ao mesmo tempo o autor nos mostra uma mulher extremamente frágil, dependente em igual medida de afeto e drogas. E nisto consiste o principal mérito do autor: escrever sobre Judy não de uma forma idealizada, mas retratando-a em toda a sua miséria e grandeza. Cabe também registar sua habilidade na construção dos dois outros personagens e suas também conflitadas relações - me permito apenas achar que o texto, se um pouco reduzido, teria ainda maior impacto.

Quanto ao espetáculo, mais uma vez estamos diante da grife Botelho/Möeller, o que significa uma montagem impecável em todos os seus aspectos - marcações expressivas, total domínio dos tempos rítimicos, absoluta elegância e capacidade de materializar na cena todos os conteúdos propostos pelo autor.

Com relação ao elenco, Claudia Netto exibe perfomance deslumbrante, tanto no que diz respeito aos números musicais como nos momentos em que interpreta a personagem. Quanto aos primeiros, achei particularmente notável a passagem em que a atriz vem caminhando pela lateral do teatro ao som do Prelúdio nº 4 em Mi Menor, de Chopin, e, já no palco, canta "How Insensitive", versão em inglês de "Insensatez", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Sem dúvida, um momento inesquecível.

Na pele do pianista gay Anthony, Gracindo Jr também consegue extrair todo o humor e humanidade do personagem, cabendo ressaltar a passagem em que, já quase no final da montagem, propõe a Judy que ela permita que ele cuide dela para o resto da vida. Momento extremamente tocante, sob todos os aspectos. Quanto a Igor Rickli, o ator exibe desempenho correto, mas tal correção pode ser transcendida se o ator conseguir diminuir um pouco o volume de sua voz, ao menos em algumas passagens.

Na equipe técnica, a excelência é a tônica dos trabalhos de todos os profissionais envolvidos nesta poderosa empreitada teatral - Marcelo Pies (figurinos), Rogério Falcão (cenografia), Paulo César Medeiros (iluminação), Beto Carramanhos (visagismo) e Marcelo Castro, maestro que assina a direção musical e comanda uma excelente banda de seis músicos.

JUDY GARLAND - O FIM DO ARCO-ÍRIS - Texto de Peter Quilter. Versão brasileira de Claudio Botelho. Direção de Charles Möeller. Com Claudia Netto, Gracindo Jr e Igor Rickli. Teatro Fashion Mall. Quinta, 18h. Sexta, 21h30. Sábado, 21h. Domingo, 20h.  

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