Roupa lavada se suja em casa!
Peças de figurino recém-confeccionadas dão muitas vezes a impressão indesejada de serem “novas demais” para o contexto da cena. É preciso então simular um “desgaste” que ao mesmo tempo corresponda às circunstâncias da história e mantenha a unidade estética do conjunto.
Na filmagem de A guerra dos Canudos, realizada no sertão da Bahia, o tratamento das roupas teria que atender a duas dificuldades adicionais: o elevado número de peças (cerca de mil e duzentas) e a necessidade de produzir três diferentes estágios de envelhecimento, correspondentes à cronologia do filme. A técnica utilizada, desenvolvida a partir de soluções anteriores mais caras e complicadas, consiste num processo em quatro etapas, aplicado em roupas de várias formas e tecidos.
Inicialmente, todas as peças são lixadas a mão com lixa de ferro, trabalhando-se com mais intensidade nas partes de especial desgaste pelo uso, como joelhos, cotovelos e ombros. Os tecidos resistentes podem ser tratados com esmeril, para a obtenção de rasgos maiores.
A seguir, as roupas são “desbotadas” numa solução de tinta de serigrafia branca diluída em pouca água até uma consistência quase líquida. Este processo deve guiar-se pela observação do desbotamento natural decorrente da ação do tempo e da luz do Sol, buscando um efeito similar.
Na terceira etapa, uma mistura é aplicada em partes iguais de Neutrol (tinta betuminosa) e amaciante de roupas às áreas de uso das peças, tornando-as aparentemente encardidas e ensebadas por sujeira e suor. O amaciante tem a função de perfumar a roupa, evitando alergias ao odor do neutrol.
Finalmente, aplica-se a todo o material, com um pano, óleo de cozinha (soja ou milho) colorido com tinta em pó Xadrez nos tons terrosos da região (amarelo, vermelho e marrom), escolhendo as áreas das roupas mais “manchadas”, dando unidade às diversas texturas, volumes, gamas e tons do conjunto. A proporção da mistura do óleo e corante dependerá do efeito desejado, exigindo a realização de testes.
Para o uso em teatro convém substituir a tinta Xadrez por pigmento próprio para tecidos (Bayer, Guarany, ou similar), que não sai na lavagem.
* Este artigo, que contou com a colaboração de Beth Filipecki, foi extraído do primeiro número do jornal Galharufa.
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