Dicionário do Teatro Brasileiro
(Temas, formas e conceitos)
Acabei de adquirir este volume, agora em sua segunda edição, revista e ampliada, coordenação de J. Guinsburg, João Roberto Faria e Mariangela Alves de Lima. Edições SESC São Paulo/Perspectiva. Além de recomendar a excelente publicação, coloco a seguir alguns termos curiosos, provavelmente conhecidos da maioria dos estudantes de teatro, mas talvez não de todos. (LF)
BIFE - Também denominado Tirada. Longa intervenção de uma personagem, oferecendo ao intérprete a possibilidade de exibir seus recursos técnicos ao público. Distingue-se do solilóquio e do monólogo por se pressupor sempre a presença de outro personagem em cena. As peças brasileiras do passado estão repletas de bifes, decorrentes da necessidade das personagens de se explicar ou de explicar a situação em que se encontram, o que dá a esse recurso, inúmeras vezes, um tom discursivo.
CLAQUE - Pessoas contratadas por empresários ou pelos próprios intérpretes para aplaudir, entusiasticamente, as entradas no palco dos atores principais ou as grandes cenas das peças, visando a influenciar o julgamento da audiência. Sua origem regride ao século V, na Grécia, e às exibições de Nero, na Roma Imperial. A função só começa a adquirir status profissional na França, no início do século XIX, quando seus membros passam a receber alguma importância em dinheiro ou bilhetes gratuitos. Grandemente utilizada nos ambientes operísticos, nos quais subsiste até hoje, sobretudo nos pequenos centros urbanos, sua utilização variou de país a país. No Brasil, existiu até a metade do século XX, recebida, às vezes, com hostilidade pela plateia pagante. Intervindo nas entradas das estrelas da companhia, nas cenas de bravura (final de longas tiradas, cenas de exaltação e fúria, árias, no caso específico do gênero lírico), era presença constante no teatro de revista. Desapareceu totalmente do teatro nacional, talvez existindo em locais provincianos.
CORTINA - Rápidos quadros cômicos interpretados, numa revista, à frente da cortina colocada atrás do pano de boca, que se levantava no início do espetáculo, só baixando no final. Esses números tinham como finalidade, além de divertir o público, possibilitar complexas mudanças de cenários, que estavam sendo feitas atrás da cortina.
MERDA - Gíria teatral utilizada para desejar sucesso aos artistas, antes da estreia do espetáculo. É costume francês, adotado no Brasil.
TEATRÃO - Termo que designa uma montagem bem cuidada sob o ponto de vista da produção (cenários, figurinos, iluminação, música incidental etc.), representada por um bom elenco, mas concebida de forma tradicional, sem maior imaginação e despreocupada de uma pesquisa formal criativa. Na verdade, a expressão da palavra envolve, muitas vezes, um significado preconceituoso, senão desrespeitoso, visando estabelecer pesquisas formalistas como padrão estético de avaliação. Uma peça naturalista que obedecesse rigorosamente às indicações do autor deveria ser classificada pejorativamente de teatrão. Comparando-se uma produção de alto nível profissional e outra repleta de novidades, mas mal executada, deve-se privilegiar esta em detrimento daquela? Procurar o beneplácito de público mais tradicional sem fazer concessões de qualidade seria prejudicial ao interesse pelo teatro como uma totalidade? São questões que o uso inconsequente da expressão pode levantar.
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
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