sábado, 1 de fevereiro de 2014

Teatro/CRÍTICA

"Ricardo III"

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Excelente montagem de ousada adaptação



Lionel Fischer



"Encenada pela primeira vez entre 1592 e 1593, a peça se passa no final da Guerra das Rosas (1455-1485), conflito sucessório pelo trono da Inglaterra que coloca em choque político a Casa Real de York e a Casa Real de Lancaster. Ricardo, Duque de Gloucester - que de fato governou a Inglaterra de 1483 a 1485 - não sente remorso algum ao eliminar seus adversários, tramando complôs, traindo familiares e casando-se por interesse com o único fim de chegar ao trono. Shakespeare retratou Ricardo III exagerando-lhe as características físicas de feiura e sua maldade pessoal, criando um vilão fascinante aos olhos do público".

O trecho acima, extraído do release que me foi enviado, resume o enredo de uma das primeiras tragédias escritas por Shakespeare, um verdadeiro tratado sobre todas as vilanias inerentes a disputas pelo poder, que encerra amanhã sua temporada no Mezanino do Espaço Sesc - pelo que se lerá em seguida, torço para que a montagem cumpra outras temporadas no Rio de Janeiro. Gustavo Gasparani e Sergio Módena respondem pela adaptação do texto, cabendo ao segundo a direção do espetáculo e ao primeiro dar vida não apenas ao protagonista, mas a dezenas de personagens.  

A presente adaptação é sem dúvida audaciosa. Ao mesmo tempo em que concentra em um único ator a responsabilidade de materializar na cena inúmeros personagens, como já foi dito, também o leva a estabelecer com o público uma relação direta, didática, informando-o da evolução da trama com a utilização de um quadro-negro, onde estão inseridos os nomes dos principais papéis e suas conexões de parentesco. Ou seja: a peça é alternadamente encenada e comentada, e em muitos momentos a plateia é convidada a participar ativamente do jogo cênico.

Diante disto, cabe a seguinte reflexão: não fosse Gustavo Gasparani um intérprete maravilhoso e Sergio Módena um encenador de primeira linha, o resultado poderia ser constrangedor. No entanto, ocorre o inverso: o público se identifica totalmente com a proposta e a ela adere de forma incondicional, certamente fascinado com a notável versatilidade de Gasparani e com a lúdica criatividade imposta à cena por Módena - em sua esmagadora maioria, as soluções cênicas parecem decorrer de uma mente infantil, da poderosa e fértil imaginação de uma criança que, valendo-se de elementos de seu cotidiano, consegue reinventar a vida. Sob todos os pontos de vista, uma montagem maravilhosa, protagonizada por um dos atores mais brilhantes do teatro nacional.

Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral -  Marcelo Alonso Neves (direção musical), Marcia Rubin (direção de movimento), Aurora dos Campos (cenografia), Marcelo Olinto (figurino) e Tomás Ribas (iluminação), cabendo também destacar a tradução em verso de Ana Amélia Carneiro de Mendonça.

RICARDO III - Texto de Shakespeare. Adaptação de Gustavo Gasparani e Sergio Módena. Direção de Módena, atuação de Gasparani. Mezanino do Espaço Sesc. Hoje às 21h, amanhã às 19h30.







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