quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Teatro/CRÍTICA

"12 Homens e uma sentença"

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Inesquecível montagem no CCBB



Lionel Fischer



"O calor escaldante do verão de Nova York faz o suor pingar do rosto dos doze homens trancados numa pequena 'sala do júri' de um tribunal. Está em suas mãos decidir a sorte de um jovem acusado pelo assassinato do próprio pai. Todas as evidências apontam para ele como o responsável pelo crime e onze jurados estão convencidos de sua culpa. Porém, um último jurado crê na sua inocência e vai tentar convencê-los de que o jovem não deve ser condenado. O resultado precisa ser unânime: se doze jurados considerarem o réu culpado, ele será executado. Mas se um deles tiver uma dúvida razoável a respeito da culpabilidade, o garoto não poderá ser condenado."

Extraído do ótimo release que me foi enviado pelos assessores de imprensa João Pontes e Stella Stephany, o trecho acima (levemente editado) resume o enredo de "12 homens e uma sentença", de autoria de Reginald Rose. O texto é uma adaptação do filme dos anos 50, dirigido por Sidney Lumet. A montagem, assinada por Eduardo Tolentino de Araújo, cumpriu ótima temporada em São Paulo e chega ao Teatro II do CCBB com apenas dois atores do elenco original (Genezio de Barros e Norival Rizzo), com os demais escalados no Rio de Janeiro - Edmilson de Barros, Xando Graça, Camilo Bevilaqua, Alexandre Mello, Babu Santanna, Marcelo Escorel, Henrique Cesar, Henry Pagnoncelli, Mario José Paz e Gustavo Rodrigues - Francisco Paz faz breve participação como um guarda.

Em uma época em que a pena de morte está sendo cada vez mais questionada, o texto não poderia ser mais atual. E isto se dá não necessariamente porque o autor condene tal punição - embora fique implícita sua rejeição a ela -, mas por duvidar dos mecanismos que a viabilizam. No presente caso, como já explicitado, parece não haver dúvidas quanto à culpabilidade do adolescente. Mas tal certeza se estabelece a partir do depoimento de duas testemunhas e de alguns fatos, aparentemente irrefutáveis.

No entanto, graças à tenacidade de um dos jurados - que não exclui a possibilidade de culpa do jovem, mas ao mesmo tempo não está inteiramente convencido dela - os depoimentos das testemunhas começam a ser severamente esmiuçados, assim como a aparente inexorabilidade dos fatos. Finalmente, após exaustivas deliberações e pertinentes questões levantadas pelo referido jurado, a antiga certeza é substituída não pela convicção da inocência do jovem, mas pela dúvida quanto à sua culpabilidade. E estando a dúvida instalada, não faria o menor sentido votar pela condenação. 

Afora a brilhante inteligência evidenciada pelo autor em toda a sua argumentação, cabe também ressaltar a aguda percepção que faz de todas as personalidades presentes, deixando evidente que muitas das posições adotadas são fruto muito mais de eventuais preconceitos, recalques e intolerâncias do que de uma análise fria e isenta dos fatos - aliás, será que alguém consegue "julgar" alguma coisa abstendo-se completamente de sua história pessoal?.

Bem escrito, contendo ótimos personagens, levantando questões de máxima pertinência e exibindo uma ação de avassaladora progressão dramática, o texto recebeu esplêndida versão de Eduardo Tolentino de Araújo. Impondo à cena uma dinâmica seca e objetiva, sem jamais lançar mão de recursos melodramáticos para enfatizar as emoções em causa, e sempre valendo-se de marcações criativas e inventivas, o encenador consegue valorizar ao extremo todos os conteúdos em jogo. Afora isso, Tolentino exibe o mérito suplementar de haver extraído maravilhosas atuações de todo o elenco.

Sem nenhum temor de me tornar repetitivo, volto a firmar, com absoluta convicção, que este país pode carecer de tudo, menos de excelentes intérpretes. E aqui - incluindo-se o hermano Mario Jose Paz - todos demonstram que nada devem aos melhores atores do planeta. É impressionante a capacidade do conjunto de valorizar todas as intervenções, estando todas elas em absoluta consonância com as personalidades dos personagens. Assim, só me resta agradecer a todos pela magnífica noite que me proporcionaram e desejar vida longa para esta montagem absolutamente inesquecível.

Na equipe técnica, parabenizo com o mesmo entusiasmo as irretocáveis contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Lola Tolentino (cenografia), Ana Cristina Monteiro de Castro (figurinos), Nelson Ferreira (iluminação) e Ivo Barroso (tradução).

12 HOMENS E UMA SENTENÇA - Texto de Reginald Rose. Direção de Eduardo Tolentino. Com Edmilson de Barros, Xando Graça e grande elenco. Teatro II do CCBB. Quarta a domingo, 19h30.

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