Principais
formas e
movimentos
teatrais
Alegoria
Representação de um tema
abstrato ou de temas através do uso simbólico de personagens, da ação e de
outros elementos concretos de uma peça. Em sua forma mais direta - como a
moralidade mediaval - a alegoria utiliza o artifício da personificação,
apresentando os personagens como representantes de qualidades abstratas tais
como a virtude e os vícios, num tipo de ação que vise a uma lição moral ou
intelectual. Formas menos diretas de alegoria podem aparecer disfarçadas de um
modo relativamente realista. A peça de Arthur Miller As feiticeiras de Salém é um exemplo de alegoria, no caso, as
investigações McCarthyanas nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial.
Avant-garde
Termo aplicado a peças de
natureza experimental ou pouco ortodoxa, que procuram ir além dos padrões
normalmente utilizados, tando em termos de conteúdo quanto em forma.
Historicamente, o termo se aplica a um grande grupo de peças dos séculos XIX
(final) e XX, e inclui diversos movimentos como o Expressionismo, o Surrealismo
e o Teatro do Absurdo.
Comédia
Como uma das categorias mais
antigas da dramaturgia ocidental, a comédia tem acolhido sob seu manto um
grande número de diferentes sub-espécies. Embora seu raio de ação seja amplo,
pode-se dizer de modo geral que as comédias são peças leves, voltadas para
assuntos não-sérios. Têm sempre um final feliz e procuram em última análise
divertir e fazer rir. Historicamente, no entanto, a comédia tem sofrido
inúmeras alterações. A Comédia Antiga (Aristófanes) era farsesca, satírica e
não-realista. Já as comédias da Renascença
sofreram maior influência das comédias romanas. Ben Jonhson construiu
suas “comédias de humor” de acordo com o modelo romano. Em suas peças, o
ridículo é dirigido a personagens que são dominados até as rais da obsessão por
determinados traços. A Comédia de Costumes tornou-se popular no final do século
XVII, com o advento de Molière e dos escritores do período da Restauração
inglesa. Refere-se basicamente a um meio social culto e sofisticado, fazendo
uso de um diálogo espirituoso e mordaz e colocando os personagens ridiculamente
preocupados com questões de refinamento social. O século XX tem visto uma
expansão do território da comédia, bem como uma indefinição de seus limites com
outros gêneros. Nas décadas finais do século XIX, Bernard Shaw utilizou-a para
uma séria discussão de idéias, enquanto Tchecov escreveu obras interpretadas
como sentimentais e tragicômicas. Desde então, os horizontes da comédia têm
sido expandidos por escritores como Pirandello e Ionesco, cuja cômica visão do
mundo é mais séria, pensativa e perturbadora que a encontrada na maioria das
comédias tradicionais.
Commedia
dell’arte
Uma forma de teatro cômico
originária da Itália, século XVI, onde o diálogo era improvisado à volta de um
cenário indefinido e levando à cena personagens típicos, cada qual com um nome
tradicional e um traje distinto. Os mais famosos destes personagens são os
bufões - sempre nos papéis de servos, dispunham de um bom número de truques,
palhaçads, trejeitos e acrobacias.
Drama da
Restauração
Diz respeito à dramaturgia
inglesa após a restauração da monarquia, de 1660 a 1700. Representadas para uma
audiência constituída por aristocratas que frequentavam a corte do rei Charles
II, as peças desse período consistiam em sua maior parte de tragédias heróicas
em estilo neoclássico, ou então de comédias de costumes que refletiam uma visão
bastante cínica da natureza humana.
Drama burguês
Também conhecido como drama
doméstico, este gênero lida com problemas dos membros de classe baixa e média,
particularmente com problemas familiares. Conflitos com a sociedade, brigas em
família, esperanças malogradas e obstinadas determinações constituem as
principais características do drama doméstico. Ele pretende colocar no palco o
estilo de vida das pessoas comuns - sua linguagem, comportamento, modo de
trajar etc. O drama doméstico surgiu na Europa no século XVIII, acompanhando o
emergir das classes trabalhadoras e dos comerciantes. Pelo fato de proporcionar
uma rápida identificação com o público médio, o gênero cresceu em popularidade
nos séculos XIX e XX, permanecendo ainda hoje como uma das formas mais
encenadas de teatro.
Drama heróico
Forma dramática séria,
escrita em verso ou em prosa, que apresenta personagens heróicos ou nobres
colocados em situações extremas ou envolvidos em aventuras inusitadas. Apesar
das atribulações a que suas figuras centrais estão sujeitas, o drama heróico -
ao contrário da tragédia - tem uma visão do mundo basicamente otimista. Possui
quase sempre um final feliz, e no caso de o herói ou heroína sucumbirem ao
final da peça, o que há é um final triunfante, onde essas mortes não são vistas
de modo trágico. Peças de todos os períodos, tanto do Oriente como do Ocidente,
enquadram-se nesta categoria. Durante o final do século XVII, na Inglaterra,
peças desse tipo eram conhecidas como “tragédias heróicas”.
Drama medieval
Há escassas evidências com
relação às atividades teatrais na Europa entre os séculos VI e X. Mas ao fim do
século XV, vários tipos de drama se desenvolveram. O primeiro deles, conhecido
como drama litúrgico, era cantado ou entoado em latim, como parte dos serviços
litúrgicos. Peças com temas religiosas eram escritas também em linguagem comum
e levadas à cena fora da igreja. As peças de Mistério (também chamadas “peças
cíclicas) bseavam-se em eventos tirados do Antigo e Novo Testamento. Muitas
delas eram organizadas em ciclos históricos que contavam a história da
humanidade, da criação ao Dia do Juízo Final. Eram bastante longas, levando até
cinco dias para serem representadas, sendo fruto de um esforço da comunidade -
participavam diversas corporações de artífices, que se responsabilizavam pelos
diferentes segmentos do espetáculo. Outras formas de drama religioso eram as
peças milagrosas, que lidavam com fatos da vida de algum santo, e as
moralidades. A moralidade era uma peça didática e alegórica, relacionada a
questões morais ou religiosas, sendo seu exemplo mais famosa Todomundo. O período medieval também
produziu outros tipos de textos seculares. À exceção das peças folclóricas que
falavam de heróis lendários como Robin Hood, por exemplo, essas peças eram em
sua maioria farsescas e curtas.
Existencialismo
Um conjunto de idéias
filosóficas cujo principal defensor era Jean-Paul Sartre - mas o termo existencialismo é também aplicado a
peças de outros autores. A tese central de Sartre é de que não há mais valores
ou modelos fixos pelos quais alguém possa viver e que cada indivíduo precisa
criar o seu próprio código de conduta, sem levar em conta as convenções
impostas pela sociedade. Apenas dessa maneira alguém pode verdadeiramente
“existir” como um ser humano responsável e criativo; de outra forma este alguém
não passará de um robô ou de um autômato. As peças de Sartre envolvem
tipicamente pessoas às voltas com decisões que as conduzem à consciência da
escolha entre viver a seu modo ou então deixar de existir como um indivíduo.
Expressionismo
Movimento que se desenvolveu
e floresceu na Alemanha durante o período que imediatamente precedeu ou se
seguiu à Primeira Guerra Mundial. O expressionismo no drama caracterizou-se por
uma tentativa de dramatizar estados subjetivos através do uso de distorções,
tons surpreendentes, imagens grotescas e diálogos líricos e não realistas. Foi
um movimento revolucionário, tanto em termos de forma como em conteúdo,
retratando as instituições sociais, particularmente a família burguesa, como
grotesca, materialista e opressora. O herói expressionista era em geral um
rebelde, contrário a esta visão mecanicista da sociedade. O conflito dramático
cedeu lugar ao desenvolviemnto de temas por meios de imagens visuais. Este
movimento foi muito influente porque demonstrou que a imaginação dramática não
tinha necessariamente de estar limitada às convenções teatrais e à fiel
reprodução da realidade. Nos Estados Unidos, o expressionismo influenciou Elmer
Rice (A máquina de somar) e muitas
das primeiras peças de O’Neill. O objetivo básico do expressionismo era o de
dar uma expressão a idéias e sentimentos, sendo as técnicas teatrais que
adotaram este método chamadas de expressionistas.
Farsa
Um dos principais gêneros
dramáticos visto às vezes como uma subclassificação da comédia. A farsa tem poucas
- se é que tem - pretensões intelectuais. Seu objetivo é o de entreter e
provocar risos. Seu humor reside basicamente em atividades físicas e efeitos
visuais, cabendo à linguagem e aos ditos espirituosos um papel menor, mormente
se comparado às formas superiores de comédias. Violência, movimentos rápidos e
ritmo acelerado são características da farsa. Em geral, seus alvos preferidos
são o casamento, a medicina, as leis e os negócios.
Happenings
Uma forma de evento teatral
desenvolvida por artistas abstratos americanos nos anos 60. Gênero
não-literário, onde em vez de enredo há um cenário e ambiente que, se supõe,
oferecerá condições propícias ao evento. São representados quase sempre apenas
uma vez e em lugares como parques e esquinas de ruas, com pálidas tentativas de
separar a platéia e a ação. Enfatizando associações livres de sons e
movimentos, procuram evitar ações lógicas de sentido racional.
Impressionismo
Estilo de pintura
desenvolvido no final do século XIX que enfatizava as impressões imediatas
projetadas pelos objetos, principalmente aquelas resultantes de variações nos
efeitos de luz, tendendo a ignorar os detalhes. Sua influência no teatro deu-se
basicamente na área ligada à cenografia, mas o termo impressionista é algumas
vezes aplicado a peças como as de Tchecov, que se referiam a “impressões
causadas” e exibiam técnicas indiretas.
Kabuki
A mais eclética manifestação
do teatro japonês. Trata-se da forma mais popular, se comparada ao
aristocrático drama Nô, e utiliza atores - no que difere do Bunraku, que
trabalha com bonecos. É verdade que este gênero tomou emprestado inúmeros
elementos dos outros dois. Papéis de ambos os sexos são representados por
homens em um estilo artificial e não realista. O Kabuki combina música, danças
e cenas dramáticas, sempre enfatizando o corpo e o movimento. As peças são
longas e episódicas, compostas por séries de cenas frouxamente conectadas e que são inclusive
frequentemente levadas à cena em separado.
Mascarada
Forma espetacular e luxuosa
de divertimento teatral privado que se desenvolveu na Itália na Renascença e
que rapidamente espalhou-se pelas cortes da França e da Inglaterra. Apresentada
em geral uma única vez, a mascarada combinava poesia, música, figurinos
elaborados e efeitos grandiosos de maquinaria de palco. Era uma espécie de
evento social no qual membros da corte participavam como atores ou
espectadores. Livremente construídas, as mascaradas giravam em torno de temas
mitológicos ou alegóricos.
Melodrama
Historicamente, uma forma distinta
de drama popular do século XIX. Enfatiza a ação e os efeitos espetaculares,
empregando músicas para acentuar o clima dramático. O melodrama utiliza
personagens típicos e claramente definidos como heróis ou vilões. De modo
genérico, o termo é aplicado a qualquer drama que apresente uma óbvia
confrontação entre o Bem e o Mal. A caracterização é frequentemente superficial
e estereotipada, e como o conflito moral é externalizado, a ação e a violência
aparecem sempre, culminando quase que invariavelmente com um final feliz, para
demonstrar o triunfo do Bem.
Mímica
Performance na qual a ação
ou a história é expressa através do uso de movimentos e gestos, sem palavras.
Depende fundamentalmente da habilidade do mímico de criar ou sugerir o ambiente
que o cerca através de reações físicas e expressividade de seu corpo.
Musicais
Vasta categoria que inclui a
ópera, a comédia musical e outras peças musicais (o termo teatro lírico é às vezes utilizado quando se quer dintingui-lo de
um espetáculo basicamente dançado). Na verdade inclui qualquer evento dramático
no qual a música e a letra (e frequentemente a dança) constituam parte integral
e necessária. Os vários tipos de teatro musical se interpõem e a melhor maneira
de distingui-los é examinar suas diversas origens históricas, a qualidade da
música e a variedade e o tipo de habilidades que se pede dos atores que os
representam. A ópera é usualmente definida como um trabalho no qual todas as
suas partes são cantadas. Constitui de fato uma tradição distinta e bem mais
antiga do que a dos musicais modernos, de origem americana e relativamente
recentes. O termo comédia musical nem
mesmo é muito apropriado para descrever as peças musicais de hoje, que mesclam
os mais variados componentes em sua estrutura, mas que, mesmo assim, serve para
distingui-la claramente da ópera e de opereta.
Nô
Forma rigidamente
tradicional do teatro japonês que data do século XIV. As peças nô são dramas
curtos que combinam música, dança e versos em uma apresentação altamente
estilizada e estilística. Virtualmente, cada aspecto da produção - incluindo
figurinos, máscaras e o simbólico cenário - já está prescrito pela tradição.
Novo teatro
1) Termo genérico que cobre
as inovações feitas no teatro desde 1960 por grupos como o Laboratório de
Teatro de Grotowski, o Open Theater e o Living Theater. Talvez a mais
importante declaração de princípios desse movimento possa ser encontrada na
obra de Jerzy Grotowski Em busca de um teatro pobre. A despeito
das diferenças entre os grupos, linhas comuns podem ser encontradas,
principalmente no que toca às exigências de um teatro sério, espiritual, e que
seja uma experiência tanto para os atores como para os espectadores. Procuram
eles eliminar tudo que seja supérfluo e frívolo no teatro. Tendem a enfatizar a
importância do que há de ritual no teatro, a necessidade de uma intensa
dedicação de um pequeno grupo fechado de atores trabalhando juntos por um longo
tempo e a busca de uma ligação íntima entre palco e platéia.
2) O termo também é utilizável para se referir a um novo
conceito de encenação para proveniente da primeira metade do século. Este
movimento influenciou basicamente os aspectos visuais do espetáculo. Entre os
seus mais famosos proponentes estão Gordon Craig, Adolphe Appia, Robert Edmond
Jones, Norman Bel Gueddes e Lee Simonson. Procurava-se enfatizar o uso criativo
da luz e da cor em detrimento de uma representação realista. Muitas das
inovações trazidas por este grupo tornaram-se práticas comuns no teatro de hoje.
Pantomima
Originalmente, um
entretenimento romano no qual a narração (cantada) cabia ao coro, enquanto a
ação era representada sob forma de danças. Atualmente o termo aplica-se a
qualquer tipo de apresentação que utilize primordialmente danças, gestos e
movimentos físicos (veja Mímica).
Paródia
Imitação jocosa de uma forma
dramática ou de uma peça específica. Intimamente relacionada à sátira, não
possui no entanto os propósitos morais e intelectuais desta, limitando-se a
zombar dos excessos de outras obras.
Peça de idéias
Peças cujo foco principal
reside em um tratamento sério de questões sociais, morais ou filosóficas. Uma
variante deste tipo de peça é a chamada “peça de problemas”, melhor
exemplificada pelos trabalhos de Ibsen e Shaw, nos quais os vários aspectos de
uma questão são dramatizados e discutidos. Outra variante a ser distinguida é a
“peça de tese”, uma representação mais unilateral de um problema, onde em geral
há um personagem que resume
a “lição” da peça e
representa a voz do autor.
Peças
históricas
Em um sentido mais amplo,
trata-se de peças referidas a acontecimentos históricos ou ligadas a
personagens históricos. Mais especificamente, no entanto, o termo é aplicado a
peças que falam de problemas vitais ligados ao bem-estar público, num tom
nacionalista. A forma originou-se na Inglaterra elizabetana, que produziu mais
peças históricas do que qualquer outro país, em qualquer tempo. Baseadas em um
conceito religioso da História, foram profundamente influenciadas pela
estrutura das peças de moralidade. Shakespeare foi o maior escritor elizabetano
de peças históricas. Seu estilo influenciou inúmeros escritores desse gênero,
notadamente o sueco Strindberg.
Realismo e
Naturalismo
Em um sentido genérico, o
realismo consiste simplesmente na tentativa de retratar da maneira mais direta
e verdadeira possíveis fatos da vida contemporânea. Na prática, no entanto, a
visão que o autor tem da realidade nunca é completamente objetiva. A diferença
entre os escritores naturalistas e realistas provém basicamente de suas
atitudes para com a natureza do homem e da sociedade. Embora ambas as escolas
estejam voltadas para a prática de mudanças sociais, observa-se que os
realistas são mais otimistas com relação às possibilidades do homem aprender e
se modificar. Já os naturalistas - encarando os homens como basicamente
egoístas e como um fruto amoral resultante das forças do meio e hereditárias -
preferem retratar as brutalizadas classes inferiores, nas quais tais forças
podem ser mais claramente apontadas. Os realistas costumam ambientar suas peças
na razoável atmosfera das salas-de-estar da classe média. Em outro nível,
pode-se dizer também que o naturalismo é simplesmente uma forma mais exata e
detalhada de realismo.
Romantismo
Movimento literário e
dramático do século XIX que se desenvolveu como uma reação à austeridade
confinante do neoclassicismo. Procurando imitar a estrutura vaga e episódica
das peças de Shakespeare, os românticos aspiravam libertar-se de todas as
regras atendendo apenas às solicitações de uma inspiração livre do gênio
artístico, verdadeira fonte de toda a criatividade. De um modo geral,
esfatizavam mais climas e atmosferas do que o conteúdo em si, e um de seus
temas prediletos era o abismo existente entre as aspirações espirituais do ser
humano e suas limitações físicas.
Sátira
Gênero que utiliza técnicas
de comédia, como a ironia, o humor e o exagero, para expor criticamente certas
situações. A sátira pode atacar figuras públicas específicas ou então apontar
traços mais gerais do comportamento humano. Assim, Tartufo, de Molière, ridiculariza a hipocrisia religiosa, Arms and the man, de Shaw, ataca a
glorificação romântica da guerra e The
importance of being earnest, de Wilde, visa a classe alta inglesa.
Simbolismo
Muito ligado à poesia
simbolista, o teatro simbólico foi um movimento do final do século XIX e do
início do século XX que basicamente almejou substituir a representação realista
por outra forma que pudesse expressar uma verdade mais interior. Procurando
restabelecer o significado espiritual e religioso do teatro, o simbolismo
utilizou-se de mitos, lendas e símbolos, tentando assim transcender a realidade
do cotidiano. As peças de Maurice Maeterlinck são exemplos bem conhecidos deste
movimento.
Surrealismo
Um movimento que se propôs a
atacar o formalismo nas artes, tendo-se desenvolvido na Europa após a Primeira
Guerra Mundial. Buscando uma realidade mais profunda do que aquela captada pela
mente racional e consciente, os surrealistas abandonaram a ação realista em
prol de uma lógica onírica, obtida através de certas técnicas como a da escrita
automática e a associação livre de idéias. Embora poucas peças escritas pelos
surrealistas tenham alcançado uma grande expressão, o movimento teve grande influência
no teatro de vanguarda, notadamente no Teatro do Absurdo e no Teatro da
Crueldade.
Teatro da
Crueldade
Conceito visionário de
Antonin Artaud de um teatro baseado em magias e mitos, e que viesse liberar os
profundos, violentos e eróticos impulsos humanos. Artaud desejava revelar
aquilo que ele via como “a crueldade que há por trás de todas as ações humanas”
- além da universalidade do mal e da violência da sexualidade. Para tanto,
seria necessário uma mudança radical do espaço cênico, uma integração entre
palco e platéia e a utilização total do poder afetivo da luz, da cor, do
movimento e da linguagem. Embora Artaud tenha obtido pouco sucesso na tentativa
de impor suas teorias, a verdade é que suas idéias acabaram por ter grande
influência sobre escritores e diretores, particularmente Peter Brook,
Jean-Louis Barrault e Jerzy Grotowski.
Teatro de rua
Termo genérico que se aplica
ao trabalho de um grande número de grupos que se propõe a representar ao ar
livre, procurando abordar os problemas vividos por uma comunidade específica ou
mesmo por uma vizinhança e suas necessidades. Seu surgimento data dos anos 60,
em parte devido a questões ligadas à inquietação social, e também em função da
necessidade de um teatro que pudesse falar de problemas específicos,
vivenciados por determinadas comunidades.
Teatro do
Absurdo
Título utilizado
primeiramente por Martin Esslin para descrever certas peças dos anos 50 e 60
que expressavam um ponto de vista similar, no tocante a certos aspectos
absurdos da condição humana. Essas peças eram dramatizações que versavam sobre
o senso do absurdo e a futilidade da existência. A linguagem racional foi
abandonada e substituída por clichês e falas banais. Em lugar da ação lógica,
surgiu uma atividade repetitiva e sem sentido. Motivações psicológicas,
realistas, deram lugar a comportamentos automáticos, frequentemente absurdos e
inapropriados dentro de uma determinada situação. Embora digam respeito a
assuntos sérios, o tom de representação dessas peças, em geral, adquire uma conotação
cômica e irônica. Beckett e Ionesco são os mais conhecidos autores do teatro do
absurdo.
Teatro épico
Forma de representação que
se tornou associada ao nome de Bertolt Brecht, seu principal teórico e
defensor. Objetiva alcançar mais ao intelecto do que às emoções, procurando
apresentar evidências relacionadas a questões sociais, de modo tal que possam
ser objetivamente consideradas e que uma conclusão inteligente delas se
depreenda. Brecht sentia que o envolvimento emocional da audiência bloqueava essa
intenção, e para tanto criou vários artifícios que, através de uma “alienação”
da emoção, desligavam a platéia, em termos emocionais, do que se passasse no
palco. Suas peças eram episódicas, com canções narrativas separando os
segmentos e grandes cartazes anunciando as cenas.
Teatro pobre
Termo cunhado por Jerzy
Grotowski para descrever o seu ideal de teatro, despido até o essencial.
Cenários profusos e luxuosos, luzes e figurinos usualmente associados ao teatro
são para Grotowski um mero reflexo de valores materialistas, a serem
eliminados. Se o teatro deve se tornar rico espiritutal e esteticamente, há uma
necessidade primeira de “empobrecimento” de tudo aquilo que possa interferir no
verdadeiro relacionamento entre ator e platéia.
Tragédia
Uma das formas dramáticas
básicas do teatro ocidental, a tragédia envolve uma ação séria de significado
universal e possui importantes implicações morais e filosóficas. Seguindo
Aristóteles, muitos críticos concordam com a idéia de que o herói trágico deve
ser em essência uma pessoa admirável, cuja queda estimule nossa simpatia e nos
deixe com a sensação de que de alguma maneira o que houve foi o triunfo da
moral e da ordem cósmica, triunfo este que transcende o destino de um
indivíduo. O final desastroso de uma tragédia deveria ser visto como o
resultado inevitável da situação vivida pelo personagem, devido a forças que
estariam além da sua possibilidade de controle. Tradicionalemnte, a tragédia
versava sobre a vida e a sorte de reis e nobres, e de fato tem havido
considerável controvérsia sobre a possibilidade de haver uma tragéia moderna -
vivida por pessoas comuns. E mesmo aqueles que concordam com essa possibilidade
reconhecem que esta forma moderna seria forçosamente diferente do conceito
tradicional de tragédia.
Tragicomédia
Durante a Renascença,
empregava-se o termo quando se queria referir as certas peças que continham
temas trágicos vividos por nobres personagens, mas que terminavam com um “happy
end”. Já a moderna tragicomédia combina elementos sérios e cômicos. Em geral,
essas peças abordam um tema sério, tratado de forma cômica e irônica. De fato,
a tragicomédia vem se tornando uma das formas preferidas entre os dramaturgos
“sérios”. Algumas vezes certas situações e comportamentos cômicos têm
consequências trágicas - como em A visita
da velha senhora, de Dürremnmatt. Outras vezes, o final é indeterminado e
ambivalente - como em Esperando Godot,
de Beckett. Na maioria dos casos, o desespero aparece porque o seres humanos
são vistos como incapazes de se levantarem acima das circunstâncias naturais; o
fato de a situação que os envolve ser ridícula apenas torna o seu sofrimento
mais tenebroso.
___________________________
Publicado no nº 80 dos Cadernos de Teatro (1979), o presente artigo foi
extraído de The theater experience,
de E. Wilson (McGraw-Hill Comp., 1976). Tradução é de Bernardo Jablonski.
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