Teatro/CRÍTICA
"Produto"
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Hilariantes delírios no Porão
Lionel Fischer
Um diretor de cinema recebe em seu escritório uma jovem atriz, a quem pretende convidar para protagozinar seu próximo filme. Mas como ela ainda desconhece o roteiro, ele começa a explicitá-lo. E o faz não apenas contando o enredo, mas esmiuçando-o de forma obsessiva, detalhando planos, imitando vozes, reproduzindo as rubricas, enfim, agindo ele próprio como se fosse ao mesmo tempo o diretor, o roteirista, a personagem a ser vivida pela atriz e uma série de outros papéis, mantendo invariavelmente um tom exacerbado, canastrão e delirante. Diante de tal quadro, a atriz permanece muda todo o tempo e acaba indo embora sem aceitar o papel.
Eis, em resumo, o enredo de "Produto", do dramaturgo inglês Mark Ravenhill. Em cartaz no Espaço Rogério Cardoso da Casa de Cultura Laura Alvim, a montagem chega à cena com direção de Marcelo Aquino e interpretação a cargo de Ary Coslov e Gabriela Munhoz.
Não sabemos exatamente qual possa ter sido a intenção do dramaturgo. Numa leitura apressada, poderíamos supor que pretendeu ironizar a figura dos diretores cinematográficos, que normalmente se julgam parentes próximos de Deus e portanto detentores do monopólio da verdade. Mas também é possivel um outro olhar: tenha ou não consciência do absurdo roteiro que defende com tamanha paixão, o fato é que o diretor tenta sofregamente convencer a jovem atriz em ascensão a participar do projeto, provavelmente por julgar que sua presença pode gerar lucro à delirante e apelativa empreitada.
Seja como for, o fato é que estamos diante de uma excelente comédia, que prende a atenção do espectador desde o início em função das hilariantes peripécias de um enredo completamente desvairado. E se a isto somarmos o excelente trabalho de todos os profissionais envolvidos nesta produção, o resultado só poderia ser uma noite repleta de surpresas e risos.
Com relação à montagem, Marcelo Aquino impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o texto, renunciando a marcações mais elaboradas - que aqui seriam totalmente dispensáveis - e se concentrando quase que totalmente no trabalho dos atores, por sinal irrepreensível.
Na pele do tresloucado James, Ary Coslov retorna aos palcos cariocas após prolongada e imperdoável ausência - tudo bem que tem dirigido peças de sucesso, assim como feito excelente trabalho como diretor de TV, mas mesmo assim me considero no direito de protestar, já que Coslov é um ator maravilhoso. E aqui exibe atuação irretocável, variando ritmos, inflexões, trabalhando otimamente as pausas e conseguindo conferir total credibilidade a um personagem completamente alucinado.
E a mesma eficiência se faz presente na performance de Gabriela Munhoz, que, como já foi dito, sem pronunciar uma única palavra, consegue transmitir todas as emoções que assaltam Olívia, sempre de maneira sutil e expressiva. Serve como exemplo para todos os atores - iniciantes ou veteranos - que avaliam a importância de um papel pela quantidade de suas falas. Não pode haver maior equívoco do este. Na dúvida, é só dar uma conferida na irrepreensível performance de Gabriela Munhoz.
Na equipe técnica, Marcos Flaksman cria uma cenografia simples e funcional, composta de duas cadeiras giratórias e um espelho, elementos suficientes para que a trama se desenrole de forma eficiente. Rô Nascimento responde por ótimos figurinos, a mesma excelência aplicando-se à luz de Aurélio de Simoni, à ótima tradução de Rachel Ripani e à trilha sonora (muito divertida) de Coslov.
PRODUTO - Texto de Mark Ravenhill. Direção de Marcelo Aquino. Com Ary Coslov e Gabriela Munhoz. Porão da Laura Alvim. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 20h.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
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A Gabi é ótima!
ResponderExcluirE esse espetáculo é apenas o começo do deslindar do fio de Ariadne nesse labirinto de egos e vaidades que é o Rio.
Um beijo, guria!