Teatro/CRÍTICA
"Adélia"
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Pureza e sensualidade no Solar
Lionel Fischer
Uma das maiores poetas de língua portuguesa, a mineira Adélia Prado é autora de obra vasta e diversificada, incluindo textos em prosa. E sua maior virtude talvez seja a simplicidade, algo dificílimo de ser conseguido, já que fruto de elaborado processo de depuramento que, sem jamais banalizar imagens e rimas, as tornam sempre acessíveis a todos aqueles (cultos ou não) que possuem uma alma passível de ser impregnada pela beleza.
Mais recente produção da Companhia de Teatro Íntimo, "Adélia" está em cartaz no Espaço II do Solar de Botafogo. Renato Farias assina a direção do espetáculo, que tem elenco formado por Bellatrix, Fernanda Boechat e Letícia Cannavale.
Como o grupo não me parece ter tido interesse em criar uma história, no sentido tradicional do termo, o que assistimos é uma sucessão de momentos em que as poesias de Adélia Prado são sutil e sensivelmente teatralizadas, o que elimina por completo a perspectiva de um recital - não que seja contra um recital, mas aí não se trataria de teatro.
Impondo à cena uma dinâmica que mescla o sagrado e o profano, utilizando elementos poderosos como a água e outros mais delicados, como cheiros e sabores, e sempre investindo na possibilidade de que nos imaginemos no "quintal" da casa da poeta, como se dela fôssemos íntimos, o diretor Renato Farias oferece ao público uma excelente oportunidade de entrar em contado com a poesia encantadora desta autora tão singular que é Adélia Prado.
No tocante ao elenco, as três atrizes evidenciam total entendimento do que é dito, afora uma evidente cumplicidade com os pensamentos, idéias e imagens da poeta, apropriando-se de suas falas como se fossem suas. Cabe também registrar a simplicidade das performances, em total sintonia com os conteúdos em jogo. Assim, só me resta parabenizar Bellatrix, Fernanda Boechat e Letícia Cannavale e agradecer a emocionada noite que me proporcionaram - e certamente a todos que compareceram ao Solar de Botafogo neste último sábado.
Na equipe técnica, gostaria de destacar com todo entusiasmo a belíssima ambientação criada pela cenógrafa Melissa Paro, que utiliza não apenas o espaço tradicional do pequeno teatro, mas também o camarim que lhe é anexo, o que só faz reforçar o que já disse: o público se sente na "casa" da poeta, sensação realmente maravilhosa. Outro grande destaque fica por conta da expressiva trilha sonora original de Rafael de Barros Castro, a mesma expressividade presente na iluminação de Paulo César Medeiros, sendo irrepreensíveis os figurinos de Thiago Mendonça, que conseguem ao mesmo tempo traduzir sensualidade e pureza.
ADÉLIA - Texto de Adélia Prado. Direção de Renato Farias. Com Bellatrix, Fernanda Boechat e Letícia Cannavale. Uma produção da Companhia de Teatro Íntimo. Espaço II do Solar de Botafogo. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 30h30.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
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