quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Teatro/CRÍTICA

"Hair"

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Oportuna remontagem de um clássico


Lionel Fischer


"Em plena Guerra do Vietnã, o mundo experimentava as dores e as delícias da época: o amor livre, o rock psicodélico, a filosofia oriental, a descoberta de drogas como o LSD e o estilo de vida dos hippies. Por outro lado, assistia ao primeiro conflito internacional televisionado e se indignava com os horrores da segregação racial e sexual. Neste verdadeiro caldeirão de acontecimentos, 'Hair' estreava em um pequeno teatro off-Broadway, em 1967. Não precisou de muito tempo para se tornar um fenômeno, migrar para o circuito principal e se propagar em dezenas de montagens ao redor do planeta".

Extraído do release que me foi enviado, este fragmento contextualiza o momento histórico que produziu um marco no gênero musical, já exibido aqui no início dos anos 70. Tendo como foco os integrantes de uma "tribo de hippies" de Nova York, a peça nos mostra não apenas um estilo de vida, mas também um grave conflito, a partir do momento em que um dos integrantes do grupo, Claude (Hugo Bonemer) é convocado para a Guerra do Vietnã, sendo tal convocação contestada principalmente por seu amigo Berger (Igor Rickli), líder da tribo. Completando o quarteto de protagonistas, temos a grávida Jeanie (Letícia Colin) e a idealista Sheila (Carol Puntel).

Contando com libreto e letras de Gerome Ragni e James Rado e música de Galt MacDermot, "Hair" volta aos palcos cariocas com versão de Claudio Botelho, direção de Charles Möeller e elenco formado (além dos já citados) por Marcelo Octavio (Woof), Reynaldo Machado (Hud), Tatih Köhler (Crissy), Karin Hils (Dionne), Danilo Timm (Margareth Mead/Tribo), Fernando Rocha (Pai de Claude/Tribo), Conrado Helt (Hubert/Tribo) e Bruna Guerin (Mãe de Claude/Tribo). No complemento do elenco, Aline Wirley, César Mello, Cássia Raquel, Ditto Leite, Emerson Espindola, Esdras de Lucia, Felipe Magga, Jana Amorim, Janaína Lince, Julia Gorman, Kotoe Karasawa, Luana Zenun, Lu Bollina, Marcelo Pies, Mariana Gallindo, Pedro Caetano, Renan Mattos e Sergio Dalcin.

Em face do que já foi dito, é evidente que o impacto causado por "Hair" na época de seu lançamento é muito maior que o de hoje, posto que a peça retratava e questionava um momento específico por todos vivido. No entanto, há paralelos possíveis que legitimam a montagem: as guerras estão por toda a parte, as questões sexuais ganharam nova dimensão, a intolerância no lidar com divergências parece acirrar-se cada vez mais e assim por diante - e não nos esqueçamos do problema relativo à discriminalização das drogas, essencial para que a sociedade deixe de considerar criminosos aqueles que as consomem.

Isto posto, cabe ressaltar que, embora simples enquanto escrita, "Hair" mantém sua potência criativa e renovadora sobretudo através das belíssimas canções de Galt MacDermot, que em muito valorizam as letras de Gerome Ragni e James Rado. E no presente caso, cumpre destacar a versão feita por Claudio Botelho, que, num certo sentido, praticamente deu uma nova roupagem ao texto. A mesma eficiência se faz presente na direção de Charles Möeller, que imprimiu à cena um vigor e uma alegria verdadeiramente contagiantes, assim como conseguiu valorizar ao máximo as passagens em que o drama predomina.

Com relação ao numeroso elenco, e em que pese o fato de que alguns intérpretes têm maiores oportunidades, o que me parece mais justo ressaltar é a força do conjunto, a apaixonada capacidade de entrega de todos os integrantes desta "tribo" e sua competência nas partes cantadas e dançadas, que contagiam totalmente a platéia durante todo o espetáculo.

Na equipe técnica, Marcelo Castro assina impecável direção musical, o mesmo aplicando-se à coreografia de Alonso Barros, à cenografia de Rogério Falcão, aos figurinos de Marcelo Pies e à iluminação de Paulo César Medeiros, que contribuem de forma decisiva para o sucesso desta mais do que oportuna remontagem de uma obra tão marcante quanto "Hair".

HAIR - Libreto e Letras de Gerome Ragni e James Rado. Música de Galt MacDermot. Versão brasileira de Claudio Botelho. Direção de Charles Möeller. Com grande elenco. Teatro Oi Casa Grande. Quinta e sexta, 21h; sábado, 18 e 21h30; domingo, 19h.

2 comentários:

  1. Adoro ler e meus passatempos é ler na net e descobrir seu blog e estou te seguindo com o maoir prazer. parabéns! abraços

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  2. Entendo que seja uma montagem com altos custos e alta qualidade, mas o preço abusivo da peça pra mim vai contra os ideais da própria peça

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