Teatro/CRÍTICA
"Trem Fantasma - uma comédia romântica"
................................................
Amor e humor no Casarão
Lionel Fischer
Drummond escreveu que havia uma pedra no caminho - eu diria que podem ser muitas as pedras, dependendo do caminho. Já num trem fantasma, inexistem pedras, mas abundâncias de curvas e em cada uma delas uma surpresa que assusta. E no que diz respeito ao amor: também seria assim? Para o autor Ivan Fernandes, de certa forma e em alguma medida, o mesmo fenômeno se repetiria: a relação amorosa poderia conter, digamos, pequenas retas pacíficas, mas logo (e sempre) surgiriam as tais curvas imprevistas e assustadoras. Daí a curiosa analogia entre um brinquedo destinado às crianças e um outro, do qual dificilmente os adultos escapam.
Em cartaz no Casarão da Glória, "Trem Fantasma - uma comédia romântica" chega à cena com direção de Mário Hermeto e elenco formado por Rodrigo Candelot (Aristóteles), Ana Bugarin (Clarisse), Daniel Satixe (Felipe), Juliana Prandini (Alê), Igor Paiva (namorado abandonado), Helena Machado (Mariana) e Aldo Perrota (Platão), que dividem a cena com um elenco de apoio - que personifica diversificados "monstros" - vivido por Hugo Grativol, Bianca Branco, Carol Colli, Tulanih, Cleber Salgado, Gé Lisboa e Fabricio Victorino.
Para facilitar a platéia a entrar no clima do espetáculo, os espectadores são submetidos, à medida que caminham pelo jardim do Casarão, a sucessivos sustos, ao mesmo tempo em que escutam pequenas frases algo misteriosas. Finalmente, uma vez instalados no interior - que serão convidados a abandonar algumas vezes - tomam conhecimento da história. Esta tem como ponto de partida o fim da relação entre Aristóteles e Clarisse, com esta logo arrumando outra companhia, enquanto seu ex-parceiro, sem saber o que fazer, acaba contratando uma garota de programa, não tanto para usufruir as delícias (?) do amor pago, mas sobretudo para causar inveja na ex-namorada. Mas ambos acabam se apaixonando. E a trama segue, sempre repleta de surpresas, mas alternando divertidas e amargas reflexões sobre o amor, ainda que com predominância das primeiras - afinal, trata-se de uma comédia romântica.
Bem escrito, contendo personagens interessantes e, como já foi dito, muitas surpresas, o texto de Ivan Fernandes atinge plenamente os objetivos a que se propôs, mas seria ainda mais eficiente se tivesse sido um pouco reduzido - a cena final, por exemplo, ainda que bem escrita e bem interpretada, poderia ser mais curta.
Quanto ao espetáculo, Mário Hermeto cria uma dinâmica cênica em total sintonia com o texto, valorizando ao máximo seus principais conteúdos e jamais permitindo que o espectador "se acomode", ou seja, se sinta confortável a ponto de pensar que já sabe o que virá a seguir. O encenador também exibe dois méritos suplementares: a ótima exploração que faz do espaço e as excelentes atuações que extrai de todo o elenco. Neste particular, é óbvio que os quatro personagens principais (Aristóteles, Clarisse, Alê e Platão) têm maiores oportunidades, mas os demais, assim como o elenco de apoio, também conseguem extrair o máximo de seus papéis.
Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo a cenografia e direção de arte de Pedro Fasanello, os figurinos de Livia Diniz e Joana Bueno (Projeto Transforma da ONG Pimpolhos da Grande Rio), a caracterização de Fernanda Santoro, a iluminação de Fernanda Mantovani e José Amarilio Jr., a trilha sonora de Pedro Cintra e a preparação corporal de Patricia Nieddermeier.
TREM FANTASMA - UMA COMÉDIA ROMÂNTICA - Texto de Ivan Fernandes. Direção de Mário Hermeto. Com Rodrigo Candelot, Ana Bugarin e grande elenco. Casarão da Glória. Sexta e sábado, 20h30. Domingo, 20h.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Parece crítica paga, hehehe.
ResponderExcluirMas é tudo verdade. Eu já vi e me amarrei.
Ainda não vi o espetáculo, mas conheço esse diretor. E, sem dúvida, entre as curvas e as pedras do caminho das encenações cariocas, Mário Hermeto é genuinamente um homem de teatro. Vale conferir.
ResponderExcluirNão gosto do trabalho do Hermeto, mas onde está Candelot e Cléber Salgado, eu vou! Parabéns pela crítica Equipe "Trem Fantasma" e ÓTIMO descobrir seu blog Fischer!Saudades Imensas de ler suas considerações! Abração!
ResponderExcluir