sábado, 20 de novembro de 2010

Teatro/CRÍTICA

"O teatro da grande marionete"

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Paixões e impossibilidades


Lionel Fischer


Com 15 anos de atividade, esta me parece ser a primeira incursão da premiada Cia. de Teatro Artesanal no gênero adulto - caso esta informação esteja incorreta, espero que me perdoem. E a escolha do grupo recaiu numa trama centrada a partir do desejo do vampiro Ulpir de "tentar resgatar sua dimensão humana ao se apaixonar pela jovem Aurora". Ocorre, porém, que o jovem Louis, pretenso candidato à mão da referida moça, acaba tendo que confrontar-se com o dito vampiro, o que acaba conduzindo a um trágico desfecho.

Eis, em resumo, o enredo de "O teatro da grande marionete", em cartaz no Teatro Municipal do Jockey. Gustavo Bicalho assina o texto e a direção, estando o elenco formado por Diogo Fujimura (vampiro Ulpir), Virgínia Martins (Aurora), André Millions (Louis), Marise Nogueira (Violeta, esposa de Oscar), André Pimentel (Oscar, dono do teatro em que se desenrola parte da trama), Marcos Guilhon (Max, sócio de Oscar) e Oscar Fabião (Pierre, um adolescente).

Como todos sabemos, o mito do vampiro já gerou inúmeras obras - literárias, teatrais e cinematográficas - e seu fascínio permanece inalterado. No presente caso, estamos diante de uma peça que mescla um duplo desejo: o do amor e o da imortalidade, mas em função da trama esta conjunção de interesses torna-se inviável.

Estruturado na forma de recordações do jovem Louis, o texto exibe algumas qualidades, sendo a principal as reflexões que o autor faz a respeito das paixões. Em contrapartida, algumas cenas se estendem em demasia, retardando a ação e, de uma certa maneira, conferindo à obra um caráter excessivamente literário. Acredito que, se bastante enxugado, o texto teria um alcance muito maior.

Com relação ao espetáculo, Gustavo Bicalho impõe à cena uma dinâmica em sintonia com seu texto, e isso equivale a dizer que, de uma maneira geral, não consegue driblar o já mencionado caráter literário da obra. Curiosamente, a melhor cena da montagem é justamente aquela que dispensa as palavras, quando dois pares realizam uma espécie de dança feita de entregas e recusas.

Quanto ao elenco, o trabalho dos jovens intérpretes pode ser considerado correto, mas acredito que todos poderiam render bem mais se o texto desse mais prioridade à ação, ao invés de apoiar-se tanto em embates verbais, mais adequados ao gênero literário.

Na equipe técnica, Jorginho de Carvalho assina uma iluminação muito expressiva, contribuindo decisivamente para enfatizar os múltiplos climas emocionais em jogo. Karlla de Luca responde por cenário e adereços em perfeita consonância com o contexto, sendo de excelente nível a direção sonora (o que vem a ser isto, exatamente?) de Daniel Belquer e a música original de Alexandre Bräutigan.

O TEATRO DA GRANDE MARIONETE - Texto e direção de Gustavo Bicalho. Com a Cia de Teatro Artesanal. Teatro do Jockey. Sexta, sábado e domingo, 21h.

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