Teatro/CRÍTICA
"Neura!"
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Entre tapas e beijos
Lionel Fischer
Antes de começar esta crítica, faço questão de declarar que Rita Fischer e Bruno Linhares são meus filhos.
Tudo começou no ano passado, no Festival Internacional de Humor Oi Futuro. Com "Isso expõe as pessoas", Rita Fischer levou o prêmio de Melhor Esquete. A partir daí, foi criando novas cenas para os dois personagens, recém casados, e cuja relação é pautada pelo comportamento totalmente histérico, paranóico e instável de Matilde, que aos poucos vai levando à loucura seu marido Carlos Alberto. Mas como ambos, ao menos em alguns momentos, conseguem rir do caos cotidiano, continuam juntos, ainda que alternando tapas e beijos. Eis, em resumo, o contexto de "Neura!", em cartaz no Teatro II do Sesc Tijuca. Beto Brown assina a direção do espetáculo, que tem elenco formado por Rita Fischer e Fabio Florentino.
Abordando diversificados temas, dentre eles o medo de envelhecer, a suposta monotonia do casamento, o perigo iminente de contrair todas as doenças possíveis e imaginárias, a necessidade de buscar alternativas para apimentar a relação sexual (tudo isso, naturalmente, fruto da mente desvairada de Matilde), a peça exibe cenas muito engraçadas, mas que em alguns casos poderiam ser ainda mais eficazes se um pouco reduzidas. Mesmo assim, a platéia embarca alegremente nesta tresloucada jornada, identificando-se tanto com a protagonista como com seu parceiro, um homem cuja aparentemente inesgotável paciência só é encerrada perto do final, quando ele dá um verdadeiro ataque ao fazer uma irrepreensível "radiografia" do caráter neurótico e operístico de sua mulher.
Com relação ao espetáculo, Beto Brown teve a sagacidade de perceber que o fundamental não repousaria na criação de marcas mirabolantes (ainda que muitas sejam hilárias), mas sim em permitir o máximo de liberdade aos intérpretes, incluindo a possibilidade de improvisar e se relacionar com os espectadores. E esta é a principal razão para a empatia que se estabelece entre palco e platéia, sem a qual a presente montagem não funcionaria.
Na pele de Matilde, Rita Fischer exibe presença, carisma e um ótimo tempo de comédia, cabendo também ressaltar seu excelente trabalho corporal. E o mesmo se aplica a Fabio Florentino, que mesmo fazendo um personagem que serve de "escada" para a protagonista, com ela estabelece uma contracena de igual para igual, também evidenciando grande naturalidade e delicioso senso de humor.
Na equipe técnica, Ana Machado assina uma cenografia simples e despojada, mas que atende a todas as necessidades da montagem, com Patrícia Muniz respondendo por figurinos em total sintonia com o caráter e condição social dos personagens. Luis Carlos Nem ilumina a cena de forma correta, cabendo a Bruno Linhares uma trilha sonora que contribui para reforçar os múltiplos climas emocionais em jogo.
NEURA! - Texto de Rita Fischer. Com Rita Fischer e Fabio Florentino. Direção de Beto Brown. Teatro II do Sesc Tijuca. Sexta, sábado e domingo, 19h.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
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