segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Teatro/CRÍTICA

"O arquiteto e o imperador da Assíria"

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Bela versão de obra-prima


Lionel Fischer


Escritor, cineasta e autor dramático, Fernando Arrabal, nascido na Espanha, em 1932, vive na França desde 1955. Mas apesar de exercer múltiplas atividades, ficou mundialmente conhecido por seu trabalho como dramaturgo. Admirador de Kafka, Breton, Beckett e Tzara, Arrabal define seu teatro de raiz dadaísta como "teatro pânico", com alguma sintonia com o Teatro do Absurdo. Suas obras dos anos 60, sucesso na França e em todo o mundo, incluem, entre outras, Piquenique no front, Oração, Os dois carrascos, Fando e Lis, O cemitério de automóveis, O labirinto, Cerimônia por um negro assassinado e O arquiteto e o imperador da Assíria. Celebrado internacionalmente, muitas de suas obras - invariavelmente provocadoras - exibem temas polêmicos, como sadomasoquismo, perversão sexual, blasfêmia e necrofilia.

E tais temas não deixam de estar presentes em O arquiteto e o imperador da Assíria, montada pela primeira vez no Brasil em 1970, no Teatro Ipanema, com direção de Ivan Albuquerque e elenco formado por Rubens Corrêa e José Wilker. Passados 39 anos, o texto volta à cena, no Teatro do Leblon (Sala Tônia Carrero), com Haroldo Costa Ferrari assinando a direção e Paulo Vilhena e Beto Bellini encarnando os dois únicos personagens - o primeiro faz o Arquiteto e o segundo, o Imperador.

Tendo por cenário uma ilha deserta, a peça exibe a relação de um homem primitivo (Arquiteto) e um civilizado (Imperador), este último sobrevivente de um desastre aéreo. Mas além dos temas mencionados, talvez o principal aqui seja a relação de poder - o Imperador o exerce implacavelmente, na suposição de que tem esse direito por deter o monopólio do conhecimento. Entretanto, aos poucos vai ficando claro que ambos não passam de náufragos perdidos num oceano de incertezas, frustrações e carências, que procuram minimizar (ou tentar entender) através de jogos em que interpretam personagens - não raro invertendo-os - inseridos em contextos religiosos, políticos, metafísicos e afetivos, dentre outros. Até que finalmente fica sugerido que a questão do poder, nos tempos atuais, pouco tem a ver com pessoas que ocupam cargos privilegiados, seja por nascença ou votos. A televisão seria o "grande pai" (ou mãe, se preferirem) de um mundo cada vez mais dominado por um caos aparentemente irreversível.

Com relação ao espetáculo, Haroldo Costa Ferrari impõe à cena uma dinâmica violenta e difersificada, valendo-se de marcas criativas e imprevistas, em total sintonia com os conteúdos propostos pelo autor. Cabe também destacar sua proposta de fisicalizar ao máximo as emoções em causa e neste sentido, seu trabalho junto aos intérpretes é realmente notável, pois tanto Paulo Vilhena como Beto Bellini conseguem converter seus corpos no que poderíamos definir como "massas expressivas". A mesma eficiência é exibida pelos atores no que concerne ao texto, trabalhado com absoluta paixão e riquíssimo em nuances.

Na equipe técnica, destacamos com entusiasmo a tradução de Leyla Ribeiro e Ivan de Albuquerque, assim como a trilha sonora de Ivan Cabral, a soturna iluminação de Rodolfo Garcia Vázques, e os criativos e críticos figurinos de Márcio Vinicius, também responsável pelos ótimos adereços e expressiva cenografia, esta última sugerindo um mundo completamente desolado, provavelmente incapaz de ser reconstruído.

O ARQUITETO E O IMPERADOR DA ASSÍRIA - Texto de Fernando Arrabal. Direção de Haroldo Costa Ferrari. Com Paulo Vilhena e Beto Bellini. Teatro do Leblon. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 20h.

2 comentários:

  1. Oi Lionel,
    Toda semana dou um passadinha por aqui. Pra saber das novidades, encontrar um olhar diferenciado sobre os espetáculos em cartaz e ler os artigos bacanérrimos que você posta. Parabéns, seu blog é uma companhia adorável!
    bjs,
    Carla.

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  2. Caro Lionel agradeço os elogios referentes ao espetáculo O arquiteto e o imperador da Assíria, mas não pude deixar de notar um erro grave com relação aos créditos do cenário e adereços, que na verdade são de minha criação e construção. Por gentileza se for possivel fazer a correção lhe agradeço de coração.
    Márcio Vinicius

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