quinta-feira, 17 de junho de 2010

Teatro/CRÍTICA

"Monólogos da marijuana"

.................................
Maconha e hipocrisia


Lionel Fischer


Descriminalizar ou não as drogas, eis a questão. O tema vem sendo cada vez mais debatido em todo o mundo e dada a sua natureza polêmica, nada mais natural que existam opiniões favoráveis e contrárias. No presente caso, estamos diante de um espetáculo que, numa primeira e superficial leitura, defende o consumo da maconha por considerá-la benéfica para aqueles que a consomem, fazendo também questão de ironizar alguns mitos relativos à dita erva.

No entanto, me parece que o tema central da obra em questão não se prende tanto aos possíveis benefícios ou malefícios decorrentes do consumo da dita erva, mas sobretudo à hipocrisia da sociedade que, se por uma lado, execra a maconha e os maconheiros, por outro acha acha perfeitamente natural e aceitável que as pessoas fumem, bebam, se entupam de tranquilizantes e anabolizantes, apenas para citar alguns exemplos - e todos sabemos que o cigarro, a bebida, os tranquiizantes e anabolizantes têm um poder destruidor infinitamente maior do que a maconha.

Escrita pelos atores/autores norte-americanos Arj Barker, Doug Benson e Tony Camin, "Monólogos da marijuana" chega ao Brasil após fazer muito sucesso na off-Broadway e também em países como a Argentina, Portugal, Chile e Espanha. Em cartaz no Teatro dos Quatro, o texto conta com direção de Emilio Gallo e elenco formado por Felipe Cardoso, Stella Brajterman e Marcos Winter - Aderbal Freire-Filho, Roberto Lopes, Aroeira e Albertina Saboya fazem divertidas participações em vídeo.

Estruturada como uma espécie de conferência, na qual os conferencistas queimam fumo o tempo todo, a peça expõe, como já foi dito, os benefícios da erva, mas sem deixar de ironizar alguns de seus efeitos colaterais, como, por exemplo, eventuais lapsos de memória ou atitudes bizarras quando se está "chapado". E também não deixa de compará-la com as drogas "aceitáveis", exibindo dados estatísticos estarrecedores, assim como enumera uma série de produtos derivados do cânhamo, dos quais toda a humanidade se beneficia.

Em resumo: estamos diante de um divertido e crítico espetáculo, bem dirigido por Emilio Gallo e bem interpretado por Felipe Cardoso, Stella Brajterman e Marcos Winter. A única ressalva que faço diz respeito ao excesso de palavrões, ainda que basicamente os mesmos, que muitas vezes soam completamente desnecessários. Na equipe técnica, são corretos os figurinos de Heitor Werneck e Escola de Divinos/SP, a trilha sonora de Paulo Mendes e a iluminação de Daniela Sanchez.

MONÓLOGOS DA MARIJUANA - Texto de Arj Barker, Doug Benson e Tony Camin. Direção de Emilio Gallo. Com Felipe Cardoso, Stella Brajterman e Marcos Winter. Teatro dos Quatro. Terças e quartas, 21h30.

Um comentário:

  1. Voce é o máximo, e concordo plenamente em relação aos palavrões.
    Rose Abdallah

    ResponderExcluir