quinta-feira, 22 de março de 2012

Engajamento político

Odette Aslan


          O comportamento dos comediantes evoluiu consideravelmente desde o tempo em que eram reduzidos à condição de párias. Despidos de seus direitos cívicos e até excomungados, no mínimo taxados de espírito boêmio e libertino, não descansaram até que se tornassem respeitados aos olhos de seus concidadãos. Tendo acesso na França à Legião de Honra, enviados a países estrangeiros como "embaixadores artísticos", haviam conquistado na primeira metade do século XX um status brilhante e, progressivamente, se haviam até aburguesado a ponto de serem contestados pelo movimento hippie em 1968.

          Nem sempre houve entre os comediantes simples desejo de honorabilidade, mas houve também desejo profundo de mudar o mundo. Construindo no palco um mundo fictício melhor, quiseram tornar efetivo esse sonho, agir verdadeiramente em carne e osso, na realidade. Entretanto hesita-se em aceitá-los como homens de ação. Charles Chaplin quase rompeu com Ramsay MacDonald, então primeiro-ministro trabalhista, quando este se recusou a levar a sério o plano que ele havia elaborado para acabar com o desemprego na Inglaterra, suprimir os pardieiros e resolver a crise financeira da época.

          Gérard Philipe gravou textos de Karl Marx, interpretou Nucléa, peça de Henri Pichette contra a bomba atômica, colheu assinaturas para o Apelo de Estocolmo, fez um filme sobre as reivindicações operárias, participou de manifestações, apoiou o esforço do TNP. Enquanto Laurence Olivier, perguntado por Kenneth Tynan: "O senhor aceitaria um papel de primeiro plano numa peça contra os negros?", declarou: "Somente se no dito papel eu pudesse mostrar algo de verdadeiro sobre eles. Não gostaria de apresentar um aspecto político mais direto do que o de Tchecov, o grande profeta da Revolução".

          "Ainda há atores que se vangloriam de não saber nada de política e para quem o teatro é uma torre de marfim", observou Peter Brook, saudando uma geração nova de comediantes mais informados sobre os problemas sociais, uma "nova raça". O teatro de hoje não é mais um refúgio para aqueles que existem apenas com pensamentos e sentimentos emprestados. É um lugar que favorece a tomada de consciência, que agita os problemas do momento, que une grupos a serviço de uma idéia.

Aquele que quiser transmitir suas convicções sociais e políticas através do teatro...

milita em cena, nos bastidores e na vida.
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Segmento extraído de O ator no século XX, Editora Perspectiva.

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