segunda-feira, 26 de março de 2012

Teatro/CRÍTICA

"Em nome do jogo"

...................................................
Trama instigante na Maison


Lionel Fischer


Escritor de romances policiais de enorme sucesso, fanático por jogos, Andrew Wyke (Marcos Caruso) convida o amante de sua mulher, Milo Tindolini (Emílio de Mello) - cabeleireiro italiano, sedutor e atraente - para um encontro, aproveitando que sua esposa e amante de Milo, Sra. Marguerite, está viajando. Mais adiante surge o detetive Doppler, também interpretado por Mello, que ali aparece com a missão de esclarecer um possível assassinato.

Por tratar-se de uma peça policial, não julgo conveniente entrar em maiores detalhes sobre a trama, de autoria do dramaturgo inglês Anthony Shaffer, pois isto privaria o espectador de muitas surpresas. Em cartaz no Teatro Maison de France, "Em nome do jogo" chega à cena com direção de Gustavo Paso. 

Como dito acima, não é prudente tecer maiores considerações sobre o enredo. Mas torna-se obrigatório elogiar a sagacidade da trama, os excelentes diálogos, a impecável construção dos dois protagonistas, sendo tais atributos responsáveis pelo fascínio que a peça exerce sobre a platéia, que acompanha a narrativa com grande interesse.

Quanto ao espetáculo, Gustavo Paso impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico, explorando ao máximo todas as possibilidades de uma escrita impecável. E suponho que possa ter contribuído decisivamente no que concerne às excelentes performances de Marcos Caruso e Emílio de Mello.

O primeiro, senhor absoluto de seus vastos recursos expressivos, aqui os explora com notável êxito, tanto nas partes mais dramáticas quanto naquelas em que o humor predomina. O mesmo se aplica a Emílio de Mello, em meu entendimento o melhor ator de sua geração. Ainda assim, julgo pertinente tecer as considerações que se seguem quanto à composição do detevive Doppler.

Como todos os espectadores sabem que o elenco se resume a Marcos Caruso e Emílio de Mello, e estando o primeiro sempre em cena, é óbvio que cabe a Emílio a interpretação do detetive. Mas a que se deve a criação de um tipo tão caricato, de aspecto tão desagradável e, em certa medida, tão inverossímel? Seria uma exigência do texto? Uma sugestão da direção? Uma opção de Emílio?

Como não tenho nenhum contato com a produção, não sei a que - ou a quem - atribuir a iniciativa de criar uma figura tão grotesca, que contraria frontalmente a inteligência e refinamento das habituais escolhas deste ator de exceção. Mas se era para materializar na cena a figura que vemos, sem dúvida Emílio de Mello obtém pleno êxito. Ainda assim, o mistério, para mim, permanece inalterado.

Quanto à atuação da equipe técnica, considero irretocáveis as participações de todos os profissionais envolvidos nesta impecável produção - Marcos Daud (tradução), Ana Paula Cardoso e Carla Berri (cenografia), Paulo César Medeiros (iluminação), Caíque Botkay (trilha sonora), Teca Fichinski (figurinos e adereços) e Luciana Fávero (produção).

EM NOME DO JOGO - Texto de Anthony Shaffer. Direção de Gustavo Paso. Com Marcos Caruso e Emílio de Mello. Teatro Maison de France. Sexta e sábado, 21h. domingo, 18h.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário