Teatro/CRÍTICA
"Os mamutes"
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Verborragia e delírio no Sesc
Lionel Fischer
"Isadora, menina perversa e inteligente, está trancada em seu quarto e escreve a história de Leon - uma rapaz honesto, criado pela avó através dos valores cristãos - que precisa de um emprego para sustentá-los. Com isso, tenta uma vaga de fritador de hambúrgueres na Mamute's Food, um fast food que vende hambúrguer de carne humana. Para conseguir a vaga, ele precisa matar um mamute - um ser humano sem valores morais. Esse dilema o persegue e ele se vê diante de uma encruzilhada: matar um ser humano, por pior que ele seja, e carregar essa culpa, ou entrar para o sistema e se tornar também um mamute?"
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o enredo de "Os mamutes", de Jô Bilac. Em cartaz no Espaço Sesc, a nova montagem da Cia. OMONDÉ chega à cena com direção de Inez Viana e elenco formado por Débora Lamm, Cristina Flores, Carolina Pismel, Ricardo Souzedo, Diogo Camargos, Luiz Antonio Fortes, Jefferson Schroeder, Iano Salomão, Zé Wendell, Junior Dantas e Juliane Bodini.
No programa oferecido ao público consta uma declaração do autor, da qual reproduzo a primeira frase, posto que me parece a essencial: "Escrevi Os mamutes com 18 anos de idade, um delírio juvenil violento e nonsense". De fato, estamos diante de um delírio violento e nonsense, cujo principal tema é de total pertinência: o eterno dilema entre enquadrar-se às normas vigentes e ser aceito pelo sistema, ou negá-lo em nome de valores éticos e morais e assim sofrer as consequências de tal negação.
Entretanto, torna-se impossível não constatar uma certa precariedade dramatúrgica, evidenciada por uma narrativa verborrágica e um tanto confusa, compreensível em se tratando de um jovem de 18 anos que escrevia sua primeira peça. Ainda assim, aqui podemos perceber o embrião de um autor que mais adiante produziria textos de grande qualidade, como "Cachorro" e "Savana glacial", dentre outros, que colocam Jô Bilac entre os expoentes de uma nova e brilhante geração de autores cariocas.
Quanto à montagem, Inez Viana impõe à cena uma dinâmica eletrizante, criativa e muito divertida, em total sintonia com as propostas do autor. E cabe também ressaltar sua contribuição para o bom desempenho de todo o elenco, que embarca de cabeça nesta curiosa empreitada teatral e consegue valorizá-la ao máximo, mesmo levando-se em conta, como já foi dito, uma certa precariedade do texto.
Na equipe técnica, são corretas as participações de Marcelo Alonso Neves (direção musical) e dos músicos Aline Gonçalves, Chico Werneck e Felipe Antello, a mesma correção presente na cenografia de Nello Marrese e na iluminação de Renato Machado, cabendo um destaque todo especial para os divertidos e críticos figurinos assinados por Flavio Souza.
OS MAMUTES - Texto de Jô Bilac. Direção de Inez Viana. Com Debora Lamm, Diogo Camargos e outros. Espaço Sesc. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 20h.
sábado, 3 de março de 2012
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