quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Antígona y Ismênia

A cena que se segue foi por mim escrita há cerca de 18 anos. Ensaiávamos (seriamente) no Tablado o texto original de Sófocles quando uma aluna me desafiou a escrever uma versão completamente oposta da cena. Como adoro desafios, no dia seguinte levei esta, que espero que seja encarada como uma simples brincadeira...(LF)


Antígona - Ismênia, irmã querida, estás aí?

Ismênia - Não, coisa enjoada, estou lá!

Antígona - Mas que fazes ajoelhada, olhos semicerrados, a balançar-te como se uma brisa...

Ismênia - Que brisa, Antígona? Conheces os meus hábitos. Sabes que padeço de brutal insônia e que, para dormir, após tomar meu último Frontal, tenho que postar-me de joelhos, fechar os olhos e ficar gingando. Só assim Morfeu me acolhe em seus entorpecidos braços.

Antígona - Perdoa, irmã, a inoportuna interrupção de teu noturno embalo. Mas é que estou possuída de uma tal angústia que...

Ismênia - Angústia essa que se perpetua em face de tua renitência em fazer análise. Oh, Zeus, já quantas vezes te falei que o doutor Sergius Machadus poderia pôr um fim a essa tua pentelhice crônica, mescla de afetos mal resolvidos e pruridos hormonais descompassados? Mas não: continuas firme em tua determinação de torrares o saco de quem te ama.

Antígona - Irmã, minha presente angústia nada tem a ver com afetos e pruridos. Como bem sabes, Etéocles ganhou digna sepultura. Quanto a Polinices, a este Creonte reservou...

Ismênia - Por favor, irmã prolixa, não enfades a platéia com informações já conhecidas!

Antígona - Mas...será possível que com tal decreto te conformes?

Ismênia - Uai...quem mandou Polinices aliar-se ao inimigo? Tebas venceu e ele, conseqüentemente, se fudeu.

Antígona - Irmã! Não empregues tal verbo de movimento em minha presença. Sabes que sou casta e me embaraço.

Ismênia - E a culpa é de quem? Do teu cabaço, que manténs intacto sabe Zeus por quê!

Antígona - Por favor, irmã. Deixa em paz minha delicada película. Aqui não estou em busca de sermões de natureza lúbrica. Vim para contigo traçar um plano que permita livrar nosso adorado irmão do trágico destino que o aguarda.

Ismênia - Nada podemos fazer quanto a isso. E agora vá, senão acabo revelando-te a principal razão que move nosso tio/tirano.

Antígona - Como assim? O que insinuas? Conheces algo que minha proverbial ingenuidade impediu-me de perceber?

Ismênia - Insistes? Pois bem: senta-te aqui, pomba-rola eternamente assombrada. E prepara-te para desmaiar após o relato que ora te farei.

Antígona - Faça-o, por Zeus! E nada omitas, nem o mais ínfimo detalhe.

Ismênia - Ouve calada, porra! Senão, dopada como estou, perderei o fio da meada.

Antígona - Prometo-te mudez absoluta.

Ismênia - Pois bem: numa noite, pouco antes de estourar esta debilóide guerra, como o sono me fugisse resolvi fazer um tour pelo palácio. Quando passava pelas imediações dos aposentos de Creonte, ouvi gemidos. Pensando que nosso tio/tirano pudesse estar padecendo de algum mal, aproximei-me visando lhe prestar socorro. Foi então que, na penumbra de sua ante-sala, deparei-me com o seguinte quadro: Polinices de pé e recostado naquela coluna rosa; a seus pés, ajoelhado, nosso tio Creonte.

Antígona - E que fazia titio em tal posição? Suplicava perdão ao nosso irmão por alguma injustiça cometida?

Ismênia - Em absoluto: dedicava-se com afinco a pagar um boquete.

Antígona - Um...boquete? Mas o que vem a ser isso? Uma nova moeda? Um objeto? Explica-me!

Ismênia - Ah, irmã querida...não fosses tu sangue do meu sangue, e eu te mandaria tomar no cu!

Antígona - Por Zeus! Outra vez palavras obscenas!?

Ismênia - A elas me obrigas!?. Mas vamos ao que interessa. Ajoelhado, pois, como já te disse, nosso tio Creonte sugava com paixão o ereto membro de nosso adorado irmão.

Antígona - Não!

Ismênia - Sim! E tudo parecia caminhar para um desenlace satisfatório quando Polinices soltou um urro!

Antígona - Arrependeu-se!

Ismênia - Não! Creonte lhe arrebatara um segmento do prepúcio! E a dor sentida foi tamanha que logo se converteu em cólera. Então, Polinices amaldiçoou a inabilidade de Creonte e deu-lhe um cacete na nuca. Mas antes de tombar desacordado, nosso tio/tirano anunciou que sua vingança em muito excederia a humilhação que nosso irmão ora lhe impunha. Aí tens, querida irmã, a correta motivação para a condenação imposta. Não desmaias? (Antígona vagueia pela cena com ar perdido. Impaciente, Ismênia se aproxima e lhe estende a mão) Toma um frontal, irmã, e amanhã procura o doutor Machadus. Seu divã, ornamentado de almofadões de veludo, há de converter-se em tua morada pelos próximos 30 anos...

Antígona - É o que imagino. (Engole o Frontal) E agora adeus...a meus aposentos me dirijo...urge refletir...

Ismênia - Faça-o em versos. Fica mais profundo...

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