sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Teatro/CRÍTICA

"Elis, a Musical"

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Imperdível e inesquecível homenagem




Lionel Fischer



Consta que, em certa ocasião, o maestro e compositor Tom Jobim teria dito que Elis Regina (1945-1982) era a única cantora que jamais desafinara ou atravessara o ritmo. Não sei se tais afirmações foram de fato proferidas, mas ainda assim não seriam suficientes para justificar o fenômeno Elis - uma intérprete pode jamais desafinar ou atravessar o ritmo e nem por isso despertar maior interesse. Ou seja: o que tornou Elis a maior cantora popular deste país transcende em muito tais predicados e suas virtudes se devem muito mais à sua extraordinária capacidade de imprimir uma marca absolutamente própria a tudo que cantava e a uma voz simplesmente deslumbrante.

Assim, nada mais apropriado do que prestar um comovente, divertido e emocionado tributo a essa artista de exceção. Inesquecível presente ao público, "Elis, a Musical" acaba de entrar em cartaz no Teatro Oi Casa Grande. Nelson Motta e Patrícia Andrade assinam o texto, estando a direção a cargo de Dennis Carvalho, renomado diretor de TV que faz sua primeira incursão como encenador teatral.

No elenco, Laila Garin (Elis Regina), Felipe Camargo (Ronaldo Bôscoli), Claudio Lins (Cesar Camargo Mariano), Caike Luna (Luiz Carlos Mièle e Paulo Francis), Ícaro Silva (Jair Rodrigues e personagens masculinos), Danilo Timm (Lennie Dale e personagens masculinos), Rafael de Castro (Marcos Lázaro e personagens masculinos), Ricardo Vieira (Seu Romeu e personagens masculinos), Leo Diniz (Tom Jobim e personagens masculinos), Peter Boos (Henfil e personagens masculinos), Letícia Medella (Dona Dercy e personagens femininos), Guilherme Logullo (Pierre Barouh e personagens masculinos), Thiago Marinho (Nelson Motta e personagens masculinos), Alessandro Brandão (Carlos Imperial e personagens masculinos), Cacau de Sá (personagens femininos), Maíra Charken (personagens femininos), Lílian Menezes (personagens femininos) e Leo Wagner (Swing e personagens masculinos).

Escrito em ordem cronológica e valendo-se de ótimos diálogos e personagens muito bem estruturados, o excelente texto nos mostra toda a trajetória artística de Elis Regina, desde seus tempos de adolescente em Porto Alegre até sua consagração definitiva no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, traça um perfil irretocável de uma personalidade inquieta, explosiva, determinada e sempre movida pela paixão, sem excluir sua fragilidade, humor e doçura. Além disso, o texto de Nelson Motta e Patrícia Andrade termina sem focar o momento que gerou sua morte, opção mais do que sábia porque, em primeiro lugar, todos conhecemos a causa que a fez partir; e também porque isso inevitavelmente conferiria um tom melancólico ao desfecho, quando a proposta aqui prioriza a alegria, a determinação de materializar sonhos e uma notável pulsão de vida.

Com relação à estreia de Dennis Carvalho na direção teatral, esta não poderia ser mais auspiciosa. É evidente que, por tratar-se de um musical, contou com a inestimável colaboração de profissionais especializados. No entanto, sua atuação junto ao elenco é maravilhosa, assim como muito criativas suas marcações, seu domínio dos tempos rítmicos e a sensibilidade com que valoriza todos os climas emocionais em jogo. Assim, só me resta desejar que o grande diretor de TV não fique muito tempo afastado de nossos palcos. O público certamente haverá de aguardar sua próxima empreitada teatral com mais do que justificada ansiedade.

No tocante ao elenco, Laila Garin exibe performance extraordinária, não apenas no que se refere ao canto como também ao texto articulado. E o que me parece mais significativo é que a atriz não procura imitar Elis, mas recriá-la com seu enorme talento e sensibilidade. Sob todos os aspectos, uma atuação inesquecível. 

Quanto a Felipe Camargo, Claudio Lins, Caike Luna, Ícaro Silva, Rafael de Castro, Ricardo Vieira, Leo Diniz, Peter Boos, Letícia Medella, Guilherme Logullo, Thiago Marinho, Alessandro Brandão e Danilo Timm (este último dança tão bem que, ouso confessar, me gerou salutar inveja), que integram o elenco principal, todos extraem o máximo de seus personagens, cabendo também registrar as importantíssimas participações de Lincoln Tornado, Cacau de Sá, Maíra Charken, Lílian Menezes e Leo Wagner.

Na equipe técnica, considero irrepreensíveis as participações de todos os profissionais envolvidos nesta belíssima montagem, que se insere entre as melhores da atual temporada - Delia Fischer (direção musical e arranjos), Alonso Barros (coreografia e direção de movimento), Marcos Flaksman (direção de arte, cenografia, videografismo e criação de imagens), Marília Carneiro (figurinos), Beto Carramanhos (visagismo), Carlos Esteves (desenho de som), Maneco Quinderé (iluminação), Rico e Renato Vilarouca (videografismo e criação de imagens) e Felipe Habib (preparação vocal). Cabe também registrar a excelente participação dos músicos Claudia Elizeu (pianista regente e teclado), Heberth Souza (piano e teclado), Leo Fantin (violino), Thais Ferreira (violoncelo), Levi Chaves (saxofone, flauta e clarinete), Marcos Amorim (guitarra e violão), Matias Correa (baixo acústico e elétrico) e Nailson Simões (bateria e percussão). 

ELIS, A MUSICAL - Texto de Nelson Motta e Patrícia Andrade. Direção de Dennis Carvalho. Com Laila Garin, Felipe Camargo e grande elenco. Teatro Oi Casa Grande. Quinta e sexta, 21h. Sábado, 17 e 21h. Domingo, 19h.








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