segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Teatro/CRÍTICA

"Deixa clarear"

...........................................................
Merecido e emocionado tributo



Lionel Fischer



Há 30 anos morria Clara Nunes, uma das mais brilhantes cantoras populares deste país. Dotada de voz maravilhosa e fascinante presença cênica, partiu muito cedo, mas ainda assim deixou numerosa discografia, com  um repertório que incluía João Nogueira, Paulo Cesar Pinheiro, Paulinho da Viola, Candeia, Chico Buarque e Nelson Cavaquinho, dentre muitos outros. 

Nada mais justo, portanto, que a data esteja agora sendo celebrada no musical "Deixa clarear", de Márcia Zanelatto, que traça comovente perfil tanto da vida como da trajetória artística da fantástica intérprete. Projeto idealizado por Clara Santhana, que também vive em cena a cantora, o espetáculo conta com a direção de Isaac Bernat e a participação dos músicos Michel Nascimento, Victor Ponce e Bidu Campeche (percussão), Felipe Rodrigues (violão e cavaquinho) e Lauro Lira (flauta e violoncelo).

Como já dito, aqui temos a oportunidade de conhecer a vida de Clara Nunes - desde menina, no interior mineiro - assim como sua trajetória artística, tão vitoriosa que, em dado momento, bateu recordes de venda de discos, superando inclusive Roberto Carlos. Mas acredito que Clara Nunes não atingiu tamanho destaque apenas por suas virtudes artísticas, mas também por selecionar um repertório que valorizava o amor, a esperança, a luta pela liberdade, a espiritualidade e a fé na vida.

Optando por uma narrativa cronológica e impregnada de poesia - muitas passagens são construídas em versos -, Márcia Zanelatto oferece ao público uma preciosa oportunidade de matar a saudade de uma artista de exceção, tanto através de sua história como das 17 canções selecionadas, que incluem alguns de seus maiores sucessos.

Com relação ao espetáculo, Isaac Bernat impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico, valorizando com a mesma competência tanto as passagens mais vigorosas quanto aquelas em que a delicadeza predomina. 

No tocante a Clara Santhana, a jovem atriz de 25 anos exibe visceral entrega à personalidade que encarna. Nas partes cantadas, a potência de sua paixão se materializa com maior êxito nos segmentos que vão do registo médio ao agudo, com pequenos problemas nos registros mais graves. E quando o foco recai no texto, em sua maioria Clara Santhana consegue expressar com grande sensibilidade os conteúdos implícitos. Mas acredito que, com o transcorrer da temporada, ainda consiga variar um pouco mais as entonações e experimentar maiores variações rítmicas.

Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo a participação de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreita teatral - Aurélio de Simoni (iluminação), Desirée Bastos (figurinos) e Doris Rollemberg (cenário), cabendo ainda destacar a direção de movimento de Marcelle Sampaio, a direção musical de Alfredo Del Penho e a competência dos músicos.

DEIXA CLAREAr - Texto de Márcia Zanelatto. Direção de Isaac Bernat. Com Clara Santhana. Teatro Café Pequeno. Sexta e sábado, 20h. Domingo, 19h. 








Nenhum comentário:

Postar um comentário