Histórico
Grupo
encabeçado pelo encenador Antônio Araújo, mais representativo
conjunto paulista dos anos 1990, responsável pela pesquisa e criação de
espetáculos em espaços não convencionais, realizador da Trilogia Bíblica
formada por Paraíso Perdido, 1992, de Sérgio de Carvalho; O Livro de
Jó, 1995, de Luís Alberto de Abreu; e Apocalipse
1,11, 2000, de Fernando Bonassi.
O grupo
nasce em 1992, quando o encenador Antônio Araújo reúne uma equipe de colegas
advindos da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo,
ECA/USP. São seus colaboradores nesse período os atores Daniela Nefussi, Johana Albuquerque, Lúcia Romano e
Vanderlei Bernardino.
A
primeira montagem do grupo é Paraíso Perdido, livremente
inspirado no poema barroco de John Milton, 1992. A dramaturgia
é desenvolvida junto aos intérpretes por Sérgio de Carvalho e, após um
ano de preparo, a encenação de Araújo estreia na Igreja de Santa Ifigênia, no
centro de São Paulo. Uma árdua batalha é travada nos bastidores, pois setores
conservadores da comunidade religiosa não concordam que a igreja seja
utilizada para um espetáculo teatral. Vencidas as resistências, afinal,
a realização mostra-se bela, grandiosa, um comovente diálogo entre as figuras
humanas em sua busca pela essencialidade divina.
A
montagem seguinte desloca o grupo para um outro ambiente: o Hospital Humberto
Primo. Com dramaturgia de Luís Alberto de Abreu, o episódio bíblico d´O
Livro de Jó se converte num pretexto para a exploração das mazelas
enfrentadas pela humanidade naquele final de século. Aproveitando a
arquitetura do local, o público acompanha Jó e sua peregrinação espiritual,
observa-o em sua luta contra as agruras da existência e a peste, e sua
morte no ambiente da sala cirúrgica.
Após um
ano de estágios e cursos em Nova York, Araújo retorna cheio de ideias e
decide colocar em cena Apocalipse 1, 11, inspirado no Apocalipse,
de São João. Desta vez, o texto é de Fernando Bonassi, novamente em
"processo colaborativo" com os atores. Esta nova incursão sobre a
miséria humana toca pontos abjetos, feridas abertas no tecido social, cenas
de horror e miséria em sentido literal. A personagem de João, identificado
como um migrante nordestino, percorre ambientes sórdidos até defrontar-se com
Jesus Cristo.
Recursos
de intensa teatralidade, imersão da equipe nos ambientes e nas personagens
enfocadas, rigorosa preparação corporal e vocal constituem a base do trabalho
de linguagem do Teatro da Vertigem. Ao lado da ocupação em espaços não
convencionais, perdura a exploração de novos procedimentos no âmbito
da dramaturgia e da concepção de seus espetáculos, seguidamente
premiados e reconhecidos pela crítica e pelo público. Em
2006, o grupo monta BR3, com
dramaturgia de Bernardo Carvalho e, em 2010,
estreia Kastelo, livremente inspirado no texto de Franz
Kafka, direção de Eliana Monteiro.
Participam
do grupo os atores Vanderlei Bernardino, Sérgio Siviero, Miriam Rinaldi,
Joelson Medeiros, Roberto Audio, Luciana Schwinden, Luís Miranda, Matheus Nachtergaele e Mariana Lima. Entre os colaboradores
artísticos destacam-se o iluminador Guilherme Bonfanti; o músico Laércio
Resende; o cenógrafo Marcos Pedroso e o figurinista Fabio Namatame.
Sobre a
equipe, declara a crítica Beth Néspoli: "Inocência, crime e castigo são
temas comuns à trilogia bíblica levada à cena pelo Teatro da Vertigem. Na
primeira peça, a inocência perdida era a causa do sofrimento humano. Na
segunda, o grupo voltou-se para a revolta de Jó contra o sofrimento a ele
infligido sem explicação, o castigo de um homem inocente, um castigo
aparentemente sem crime. Nesta terceira peça, Deus não responde aos apelos do
homem, que terá de julgar a si mesmo por seus atos. Não há eleitos como no
original e Nova Jerusalém está dentro do homem, é preciso uma transformação
interna para atingi-la. [...] Embora não sejam interativos no sentido de
exigir uma participação física da plateia, os espetáculos do Teatro da
Vertigem têm como principal característica destinar-se não só à mente, mas
aos sentidos do espectador".1
Fazendo
uma análise da trajetória do grupo até então, o crítico Aimar Labaki é categórico: "O
Teatro da Vertigem é o mais importante grupo de teatro a surgir no Brasil nos
anos 1990. [...] À parte a qualidade excepcional de suas três montagens até
agora, é o mais sintonizado com os temas e procedimentos do teatro
contemporâneo e o que mais impacto causa nas platéias nacionais ou
estrangeiras. [...] Mesmo que a trilogia esteja terminada, os temas e os
procedimentos estão longe de serem esgotados. O último espetáculo, ao invés
de tentar condensar algumas respostas, levantava ainda mais questões. É de
esperar novos lances nessa emocionante trajetória. Mas, mesmo que o grupo se
dissolvesse neste momento, seu lugar na história do teatro brasileiro já
estaria assegurado".2
Notas
1. NÉSPOLI, Beth. Uma forte idéia
de julgamento e punição. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 29
out. 1999. Caderno 2, p. 8.
2. LABAKI, Aimar. Antônio Araújo e o Teatro da Vertigem. In: TEATRO da Vertigem: trilogia bíblica. São Paulo: Publifolha, 2002. p. 23-24;30. Atualizado em 28/05/2010 |
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sexta-feira, 8 de novembro de 2013
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