Teatro/CRÍTICA
"Pacto - relações podem ser fatais"
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Músicas minimizam impacto dramático
Lionel Fischer
Nathan Freudenthal Leopold, Jr. (1904-1971) e Richard Albert Loeb (1905-1936), mais conhecidos como "Leopold e Loeb", foram dois estudantes da Universidade de Chicago que mataram Bobby Frank, de 14 anos, em 1924, e foram sentenciados à prisão perpétua. Eles afirmaram ter matado o garoto apenas pela vontade de cometer um crime perfeito. Leopoldo e Loeb se inspiraram na obra de Nietzsche para cometer o crime perfeito - no caso, sequestro e assassinato. Antes do assassinato, Leopold escreveu para Loeb: "Um superhomem é, em virtude de certas qualidades superiores inerentes a ele, isento das leis comuns que regem os homens. Ele não é responsável por qualquer coisa que possa fazer".
Partindo desta história tão trágica quanto absurda, o dramaturgo norte-americano Stephen Dolginoff criou o musical "Trill me - the Leopold and Loeb story", aqui rebatizada de "Pacto - relações podem ser fatais". Em cartaz no Teatro Sesi, a montagem chega à cena com direção de Ivan Sugahara e elenco formado por Gabriel Salabert (Leopold) e André Loddi (Loeb).
Alternando depoimentos de Nathan com flashbacks, o espetáculo nos mostra a trajetória dos dois personagens, que iniciaram sua carreira cometendo pequenos furtos, ateando fogo em um armazém abandonado, invadindo residências e finalmente arquitetando e consumando o hediondo crime. Cabe registrar que ambos pertenciam a famílias abastadas e eram inteligentíssimos - o elemento trágico reside no fato de os dois serem portadores, ao menos em minha opinião, de gravíssima psicopatia.
Segundo Gabriel Salabert, em depoimento que consta do release que me foi enviado, a peça "...é sobre o relacionamento entre eles. O assassinato faz parte da trama, mas não é o foco dramático. A dinâmica da relação e suas reviravoltas, manipulações, mudanças de poder e a surpreendente revelação no final são o assunto do enredo".
Sem dúvida, Salabert está coberto de razão em sua análise da peça. No entanto, e mesmo reconhecendo o enorme potencial dramático do contexto, o fato é que o texto e a montagem não me causaram o impacto que imaginei que causaria. E acredito que isto se deva à opção pelo gênero musical - há canções em excesso e em sua maioria pouco expressivas, ainda que bem cantadas pelos intérpretes.
Se o autor tivesse optado por uma narrativa convencional - e aqui não estou fazendo nenhuma depreciação a narrativas convencionais - é possível que conseguisse se aprofundar bem mais nos temas que aborda, centrados na doentia mente dos protagonistas e na relações que estabelecem. Em vários momentos e sobretudo nos mais tensos, quando os personagens começam a cantar, as cenas quase sempre se esvaziam, perdem sua energia e sua pulsão perversa. Mas isso, cumpre ressaltar, resume-se a uma opinião, e nada impede que os espectadores tenham outra, diametralmente oposta.
Quanto ao espetáculo, este recebeu segura e sombria versão cênica de Ivan Sugahara, que explora com sensibilidade os muitos climas emocionais em jogo. Isto também se dá, obviamente, em função do bom desempenho dos atores, tanto no que se refere ao canto (como já foi dito) como nas passagens em que a palavra predomina. E a mesma eficiência se faz presente no trabalho de toda a equipe que integra o espetáculo - Priscilla Azevedo (piano), Marya Bravo (versão musical brasileira), Ricardo Góes (direção musical e preparação vocal), Gabriel Salabert (tradução), Carolina Sugahara e Ivan Sugahara (cenário), Tarsila Takahashi (figurino) e Paulo César Medeiros (iluminação).
PACTO - RELAÇÕES PODEM SER FATAIS - Texto, música e letras de Stephen Dolginoff. Direção de Ivan Sugahara. Com Gabriel Salabert e André Loddi. Teatro Sesi. Quinta a sábado, 19h30.
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
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Perfeita análise. O tema é impactante,mas para apenas 02 atores em cena não se moldou a um musical.
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