segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Teatro/CRÍTICA

"Sutura"

.....................................
O amor em dois planos

Lionel Fischer


Segundo o release que nos foi enviado, o escocês Anthony Neilson seria um dos dramaturgos de língua inglesa de maior relevância na atualidade. E nada nos autoriza a negá-lo, até em função de seu currículo. No entanto, se nos baseamos apenas no presente texto, este em nada justifica tal fama., embora não careça totalmente de qualidade. A partir de uma gravidez inesperada, um jovem casal começa a discutir não apenas o que fazer diante da novidade, mas também sua relação. Isto num plano, digamos, real.

Num outro, supostamente fictício - quem sabe fruto de mútuas fantasias do jovem par - vemos o casal numa espécie de conjugado, empreendendo virulentas relações sexuais, ela na pele de uma prostituta, ele vivendo um cliente. Pode-se especular que o casal do conjugado não seria o mesmo, mas optamos por acreditar que sim. Eis, em resumo, o enredo de "Sutura", em cartaz no Oi Futro. Felipe Vidal assina a direção e a tradução, estando o elenco formado por Cristina Flores e Lucas Gouvêa.

Como sabemos, atualmente no Rio de Janeiro existem inúmeras montagens abordando relacionamentos amorosos, algumas mais bem sucedidas do que outras. No presente caso, as discussões do casal não deixam de ter alguma pertinência, mas tudo fica em um nível muito superficial - tal deficiencia, no entanto, é parcialmente minimizada pelo humor de algumas passagens. Mas quando a ação se transfere para o citado conjugado, aí entramos em uma esfera bem mais interessante e densa, pois tudo que é dito e feito revela com muito mais profundidade aspectos um tanto obscuros da natureza humana.

Quanto ao espetáculo, Felipe Vidal ipõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o texto, mas a teatralidade torna-se muito mais visceral nas passagens ambientadas no conjugado, pois aí o diretor cria marcas não apenas muito expressivas, mas sobretudo imprevistas e contundentes.

Com relação ao elenco, Cristina Flores - sem dúvida uma das melhores atrizes de sua geração - consegue estabelecer nítido e sensível contraste entre as duas personagens que interpreta - ou a mesma em diferentes facetas, dependendo do olhar do espectador. O mesmo se dá com Lucas Gouvêa, ainda que em escala menor - em nossa opinião, o ator poderia tentar variar um pouco mais o ritmo, assim como utilizar a voz num registro menos potente, que é o que prevalece na maior parte do espetáculo.

Na equipe técnica, consideramos de excelente nível o trabalho de todos os profissionais envolvidos - Felipe Vidal (tradução e trilha sonora), Joelson Gusson (cenografia), Joana Lima Silva (figurinos), Tomás Ribas (iluminação) e Denise Stuz (preparação corporal).

SUTURA - Texto de Anthony Neilson. Direção e tradução de Felipe Vidal. Com Cristina Flores e Lucas Gouvêa. Oi Futuro. Sexta a domingo, 19h30.

Nenhum comentário:

Postar um comentário