Teatro/CRÍTICA
"A natureza do olhar"
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Emocionado encontro no Sesi
Lionel Fischer
Certamente um dos maiores poetas de língua portuguesa, Fernando Pessoa (1888-1935) deixou uma obra vasta e diversificada, e também marcada por uma curiosidade: grande parte dela é assinada por heterônios criados pelo autor. Estes poetas "imaginários" possuíam nome, data de nascimento, data de morte, profissão e, curiosidade maior, um estilo literário e personalidade distintas das de seu criador.
No presente caso, tudo gira em torno do encontro entre Álvaro de Campos e Alberto Caeiro.
O primeiro, contrariando a natureza de seus versos, surge em cena como um homem angustiado ainda à procura de sua personalidade poética; o segundo, desconcertantemente simples, tenta aplacar as angústias de seu discípulo.
Eis, em resumo, o enredo de "A natureza do olhar", em cartaz no Teatro Sesi, após cumprir temporada em São Paulo. Elisa Lucinda e Geovana Pires assinam a adaptação, e encarnam Álvaro de Campos e Alberto Caeiro, respectivamente, com o espetáculo contando com supervisão de Amir Haddad.
Trata-se, sem a menor dúvida, de uma proposta bastante original, posto que foge por completo da estrutura de um recital, já que os vários fragmentos poéticos são incorporados aos diálogos. Além disso, cabe ressaltar que o espetáculo nos faculta o acesso não apenas a algumas poesias do genial autor, mas também - e sobretudo - à sua personalidade, obviamente "repartida" entre esses dois heterônimos.
Delicada e poética, contendo passagens bem humoradas e outras mais amargas, a presente montagem certamente poderá ser usufruída, com o mesmo prazer e encantamento, tanto por aqueles já familiarizados com a obra de Pessoa quanto por outros que a desconhecem. E isto também se deve à ótima peformance das duas atrizes, impecáveis na pele dos "personagens" que interpretam - Elisa Lucinda dá vida a Álvaro de Campos e Geovana Pires a Alberto Caeiro.
Na equipe técnica, Colmar Diniz e Francisco Leocádio assinam uma cenografia encantadora e funcional, sendo igualmente irretocáveis a sensível iluminação de Djalma Amaral, os irrepreensíveis figurinos de Colmar Diniz e Maria Duarte, a música original de Carlos Malta e os adereços de Elysio Filho.
A NATUREZA DO OLHAR - Adaptação e interpretação de Elisa Lucinda e Geovana Pires. Supervisão de Amir Haddad. Teatro Sesi. Sexta a domingo, 19h30.
terça-feira, 18 de maio de 2010
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