quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Teatro/CRÍTICA

"O pintor"

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Protagonistas evitam martírio


Lionel Fischer


"Ao voltar de suas férias no exterior, Márcia descobre que o escritório de seu marido não foi pintado, como ela havia providenciado, e que o pintor, Walter, ainda está em sua casa. Quando ele está começando o trabalho, chega Jane, esposa do homem com quem Márcia está tendo um caso, disposta a contar tudo para o marido traído sobre a infidelidade da esposa. Márcia, à beira de um ataque de nervos, tem uma brilhante ideia: pedir ao pintor, na verdade um ator decadente, que passe por seu marido, enganando Jane. Walter leva seu papel de maneira muito séria e, no ensaio para a cena do fatídico encontro ele, muito envaidecido, gesticula exageradamente reproduzindo partes mal decoradas de trechos de peças famosas, como 'Othelo' e 'Vidas privadas', e ataca Márcia rudemente sempre que ela o critica. Finalmente a tentativa do flagra acontece com resultados hilários e muita confusão".

Este trecho, extraído do release que me foi enviado, sintetiza a trama da comédia "O pintor", de autoria de Donald Churchill. Contando com tradução de Barbara Heliodora e adaptação de João Emanuel Carneiro, o texto chega à cena (Teatro do Leblon - Sala Marília Pêra) com direção de Guilherme Piva e elenco formado por Antonia Frering (Jane), Solange Badim (Márcia) e Gustavo Gasparani (Walter).

Objetivando o riso e apenas isto, o presente texto exibe uma estrutura semelhante à dos vaudevilles, com muitas portas no cenário e incontáveis entradas e saídas de cena. Mas mesmo carente de maiores ambições, a verdade é que a peça é muito fraca, e tal fragilidade pode ser comprovada com um argumento bastante singelo: se Gustavo Gasparani e Solange Badim (excelentes comediantes) não estivessem em cena e em seu lugar dois intérpretes apenas medianos, assistir ao espetáculo se converteria em verdadeiro martírio. Porque o texto, em primeira e última instância, nada mais faz do que repetir uma fórmula já há muito esgotada e sem a ela nada acrescentar de novo.

Com relação ao espetáculo, Guilherme Piva faz o que pode para conferir um mínimo de interesse à montagem, a ela imprimindo um ritmo quase sempre vertiginoso e aproveitando ao máximo o enorme talento dos intérpretes já mencionados. Quando a Antonia Frering, infinitamente menos experiente do que seus colegas de cena, ainda assim a atriz exibe uma atuação correta.

Na equipe técnica, a cenografia de Sergio Marimba jamais sugere um escritório, posto que nenhum teria tantas e inexplicáveis portas. Cao Albuquerque assina figurinos corretos, a mesma correção presente na luz de Maneco Quinderé - como não li o original, abstenho-me de analisar a tradução de Barbara Heliodora e a adaptação de João Emanuel Carneiro.

O PINTOR - Texto de Donald Churchill. Tradução de Barbara Heliodora. Adaptação de João Emanuel Carneiro. Direção de Guilherme Piva. Com Antonia Frering, Solange Badim e Gustavo Gasparani. Teatro do Leblon (Sala Marília Pêra). Terças e quartas, 21h.

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