sexta-feira, 24 de junho de 2011

Luiz Carlos Martins Pena
(1815-1848)

O texto que se segue foi extraído da Apostila 5 - História do Teatro Brasileiro I (Universidade Estácio de Sá/2001), de autoria da professora Elza de Andrade.


"Martins Pena fotografou o seu meio com uma espontaneidade de pasmar, e essa espontaneidade, essa facilidade, quase insconsciente e orgânica, é o melhor elogio do seu talento. Se se perdessem todas as leis, escritos, memórias das história brasileira dos primeiros cinquenta anos do século XIX, e nos ficassem somente as comédias de Pena, era possível reconstruir por elas a fisionomia moral de toda essa época." (Silvio Romero)

VIDA E OBRA

1. Nascido no Rio de Janeiro a 5 de novembro de 1815, Luiz Carlos Martins Pena teve uma vida curta, morrendo em Lisboa, de tuberculose, a 7 de dezembro de 1848. Esses 33 anos de vida, entretanto, foram suficientes para que se consagrasse como dramaturgo, tendo escrito 28 peças teatrais.

2. Em 1838, iniciou a sua vida de funcionário público. Durante um bom tempo trabalhou como censor teatral, escrevendo pareceres sobre peças de todos os gêneros. Tal trabalho foi proveitoso, pois permitiu-lhe familiarizar-se com a técnica teatral.

3. Considerado por muitos estudiosos o "pai do teatro de costumes" no Brasil, Martins Pena criou personagens que - apesar de não terem grande densidade psicológica - simbolizam diferentes tipos sociais de nosso país. Estão presentes em seus textos desde os nobres representantes da Corte, até os escravos, passando por funcionários públicos, sacristãos, soldados, artesãos etc.

4. Mostrando por meio do humor e da sátira as condutas e os costumes "censuráveis" da população, o autor traça um amplo retrato do Brasil da primeira metade do século XIX. Observador astuto de sua época e crítico mordaz, Martins Pena expõe a desorganização e a corrupção nos serviços púnlicos, o contrabando de escravos, a exploração do sentimento religioso, os comerciantes que enganam seus clientes, os casamentos por encomenda ou por interesse financeiro.

5. Cronologicamente Martins Pena pertence ao Romantismo. Suas peças escritas entre 1833 e 1846 trazem várias características do movimento romântico. Seus textos, porém, já antecipam algumas características do Realismo, movimento literário surgido no meio do século XIX. O Realismo opõe-se ao lirismo e à imaginação dos autores românticos. Nas peças de Martins Pena isso aparece em alguns personagens, como moças que não se envergonham quando se encontram diante dos amados, ou jovens que se rebelam contra as decisões autoritárias dos pais - situações que não se encaixam no perfil do Romantismo.

COMÉDIAS

O juiz de paz na roça
Um sertanejo na corte
A família e a festa da roça
Os dous ou o inglês maquinista
O Judas em sábado de aleluia
O irmão das almas
O diletante
Os três médicos
O namorador ou a noite de São João
O noviço
O cigano
O caixeiro da taverna
As casadas solteiras
Os meirinhos
Quem casa, quer casa
Os ciúmes de um pedestre ou O terrível capitão do mato
As desgraças de de uma criança
O usurário
Um segredo de Estado
O jogo de prendas
A barriga de meu tio
Comédia sem título

DRAMAS

Fernando ou o cinto acusador
Dom João de lira ou o repto
Dona Leonor Teles
Itaminda ou o guerreiro tupã
Vitiza ou o Nero de Espanha
Drama sem tótulo

CRIADOR DA COMÉDIA BRASILEIRA

6. O lançamento de Antônio José ou o Poeta e a Inquisição, de Gonçalves de Magalhães, parecia um manifesto para a posteridade - a tomada de consciência de uma missão artística e cultural a cumprir. Meio ano depois, a 4 de outubro de 1838, pela mesma companhia de João Caetano, estreava o Juiz de paz na roça, sem alarde publicitário e pretensão histórica. Era a primeira comédia escrita por Martins Pena, de efeito popular e pouco ambiciosa, mostrando através de um olhar satírico um aspecto da realidade brasileira.

Poucos, talvez, na ocasião, assinalassem o significado do acontecimento. Começava aí, porém, uma carreira curta e fecunda e o verdadeiro teatro nacional, naquilo que ele tem de mais específico e autêntico. Martins Pena é o fundador da nossa comédia de costumes, gênero responsável pela maioria das obras felizes da literatura teatral brasileira. Escreveu 22 comédias e 6 dramas, de 1833 até 1846. Morreu prematuramente em Lisboa aos 33 anos de idade, tuberculoso.

7. Silvio Romero considera a comédia de Martins Pena o painel histórico da vida do país, na primeira metade do século XIX. A sua espantosa atualidade permanece sempre revitalizada por alguma encenação bem realizada. Admirável observador, ele fixou costumes e características que têm resistido através do tempo, e que retratam as instituições nacionais. Retrato melancólico e primário, sem dúvida, mas exuberante de fidelidade. Em pleno surto do movimento romântico, idealizador de um nacionalismo róseo, Martins Pena antecipa, com noção precisa, alguns de nossos traços dominantes, ainda que menos positivos. Não aprofunda caracteres ou situações.

Vale, porém, a ampla vista panorâmica da realidade: o comediógrafo atinge a religião, a política; queixa-se do presente, em face de um passado melhor; define o estrangeiro no Brasil, e as reações do brasileiro, em face dele; mostra a província e a capital, o sertanejo e o metropolitano, em suas diferenças básicas; revela as profissões indignas e os tipos humanos inescrupulosos, denunciando inclusive o tráfico ilícito de negros, na sociedade escravocrata brasileira. Não lhe é estranha a galeria dos vícios individuais, como a avareza e a prevaricação, e tem um sabor especial ao satirizar as manias e as modas.

8. Apesar das limitações de toda a ordem, a comédia de Martins Pena representa de fato o marco inicial da fixação dos costumes brasileiros, que serão explorados por Joaquim Manoel de Macedo, José de Alencar, França Júnior e Artur Azevedo, numa continuidade de trabalhos que vem até o proncípio deste século. Numerosos traços das comédias de Martis Pena reaparecem nos sucessores, conservando o seu eco e as qualidades mais autênticas. Pode-se afirmar que os textos de reais méritos que se distinguem na segunda metade do século passado nascem de uma sugestão contida em suas farsas despretensiosas. Nelas está o exemplo das possibilidades dramáticas indicadas pelo cotidano, com a abundante parcela de ridículos e absurdos.

O sentimento nacional, que já se opõe à sede de lucro e à falta de assimilação estrangeira, sugerirá novas obras, que irão alicerçando a pesquisa, em nossos dias, de uma completa individualidade brasileira. Prosseguirá, em toda a dramaturgia subseqüente, a tendência à sátira política, à crítica da sociedade e da administração, com o elogio implícito ou explícito dos bons costumes e da sadia moral, tanto na vida privada como nos negócios públicos.

9. No repúdio aos erros, nas diversas esferas do país, a comédia de Martins Pena pode ser considerada uma escola de ética, antecipando esse papel que o teatro assumirá, conscientemente, mais tarde. Uma bondade e uma tolerância, feitas de profunda compreensão, adoçam o propósito moralizador, e lançam, no teatro, as raízes efetivas do nosso espírito democrático. Daí a platéia simpatizar com as múltiplas figuras dessa comédia espontânea, na qual reconhece o que tem em si de mais natural e aconchegante.

O sentimentalismo piegas, colocado nas boas ações e nas solidariedades francas, encontra na obra de Martins Pena um veículo ideal, livre de qualquer tendência erudita. Toda a filiação aos gêneros tradiconais do teatro e a referência a autores europeus não esmaga a pura seiva de brasilidade, que parece brotar na nossa rua, como a Commedia dell'arte nasceu do gênio popular italiano. Martins Pena leva para o palco a língua do povo, e por isso o brasileiro enxerga nele, com razão, a sua própria imagem. (MAGALDI, Sábato. Panorama do Teatro Brasileiro. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1962. Coleção Ensaios nº 4.  pp.40-58)
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Um comentário:

  1. Onde eu posso encontrar o texto da Peça A Família e a Festa da Roça de Martins Pena pra baixar e porque eu vou apresentar essa peça no meu curso de teatro e preciso muito desse texto.

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