quinta-feira, 21 de junho de 2012

Teatro/CRÍTICA

"Kamikaze"

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Pertinentes reflexões no Candido Mendes


Lionel Fischer


"De um lado um casal que vive a incansável rotina do dia a dia: trabalho, casa e os dois irmãos dela, que moram com eles e não fazem nada. Do outro lado, um casal, sem filhos, que vive uma incansável lua de mel. Ele trabalha fora, ela é artista plástica. A vida dessas duas famílias se cruzará por conta de um acidente, transformando cada um deles, completamente".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o enredo de "Kamikaze", em cartaz no Teatro Candido Mendes. Oscar Saraiva assina texto e direção, estando o elenco formado por Ana Luiza Lito, Ana Julia Hammer, Eduardo Parreira, Julia Mendes, Kiko Duarte, Pedro Casarin, Tatyane Meyer e Tiago Ribeiro.

Como dito no parágrafo inicial, toda a ação do texto se desenrola a partir de um acidente, no caso, automobilístico: uma mulher atropela e mata uma outra. À medida que o texto avança, as histórias das duas famílias se entrelaçam, numa sucessão de acasos que culminam por colocar frente a frente, e num contexto amoroso, a atropeladora e o ex-marido da vítima. Mas este não é o fato que mais importa no texto e sim a capacidade do autor de empreender uma série de reflexões sobre a vida, a morte, o amor, a amizade, ambições de trabalho etc.

No entanto, tais reflexões, sem dúvida pertinentes e em vários momentos traduzidas em cenas muito bem escritas, são em alguma medida minimizadas por passagens humorísticas um tanto deslocadas. Não se trata, evidentemente, da impossibilidade de se conciliar humor e drama. Mas o humor, da forma como está aqui trabalhado, soa por vezes muito superficial, quando contraposto à carga dramática inerente a alguns temas.

Seja como for, o saldo é bastante positivo, já que Oscar Saraiva conseguiu produzir um texto cujas virtudes superam ocasionais deficiências. E a montagem por ele dirigida exibe muitas cenas bem marcadas, um ritmo quase sempre adequado aos conteúdos em jogo e uma inegável capacidade de estabelecer grande empatia com a platéia.

Com relação ao numeroso elenco, os atores exibem performances seguras e convincentes, mesmo nas passagens que considero um tanto pueris. Mas aqui torna-se impossível não se conferir um destaque especial a Julia Mendes, que interpreta Valentina, a mulher que atropela. Ainda muito jovem, a atriz evidencia uma maturidade surpreendente para a sua idade. Possuidora de ótima voz, excelente trabalho corporal e fortíssima presença cênica, a intérprete reúne todas as condições para construir uma sólida carreira profissional.

Na equipe técnica, destaco com entusiasmo a ótima cenografia de Cadu Mader, composta de cubos de variados formatos que, ao longo da montagem, vão sendo deslocados e reagrupados em sintonia com o desenvolvimento da trama - mérito que também cabe ao encenador, evidentemente. Iuri Kruscheswsky responde por correta iluminação, o mesmo aplicando-se aos figurinos de Carolina Casarin, Fernanda Fernandez e Tiago Ribeiro. Oscar Saraiva assina boa composição, sendo igualmente bons os arranjos de Pedro Poema, Eduardo Parreira e Mário Terra. Os dois últimos tocam com eficiência, com Mário Terra também cantando muito bem, o mesmo ocorrendo com Tatyane Meyer.

KAMIKAZE - Texto e direção de Oscar Saraiva. Com Julia Mendes, Kiko Duarte e outros. Teatro Candido Mendes. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h.      

 

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