Improvisação
Dwight Steward
A última edição do imponente Oxford Companion to the Theatre não contém o termo improvisação. O que é estranho, uma vez que a arte de improvisar em torno de conversas ou situações constituía a espinha dorsal da Commedia dell'Arte italiana; isso para não falar das muitas peças de teatro "improvisado" encenadas na própria Oxford. A omissão se torna ainda mais estranha se considerarmosque a produção original de Joan Littlewood de Oh!, que delícia de guerra! nasceu a partir de reações improvisadas de sua companhia a certos fatos históricos das guerras. Da mesma forma, o texto de grande sucesso Viet Rock, de Megan Terry, teve sua forma final moldada pelos próprios atores. Hoje, grande número de professores de teatro - bem como muitos psicólogos - usam a improvisação como uma técnica para o entendimento de um personagem (ou de si mesmo) ou para construir papéis numa peça.
Descrição
A descrição mais simples da improvisação como forma dramática pode ser encontrada no título de uma série de improvisações publicadas alguns anos atrás por Kenneth Koch. Ele chamou seus textos de "Projetos", e no teatro improvisado o projeto ou esboço da peça é dado pelo autor. Após o que, diretor e atores estruturam e compõem - a partir das sugestões proporcionadas - a substância e o significado mais profundo do trabalho. Obviamente, para poder se adaptarem a circunstâncias locais específicas, peças improvisadas devem ter um alto grau de adaptabilidade e mudança. Para se alcançar o maior impacto político, a questão da atualidade deve ser explorada ao máximo. A maior parte do teatro radical de hoje não trabalha com improvisações que "sirvam para todo o país", e sim com temas relacionados a problemas específicos e típicos de certas comunidades, que possuem uma identidade particular. Isto deve ser levado em conta nas produções.
Adaptação
Tal adaptação não deve ser difícil. Improvisações dependem mais da vivacidade e habilidade dos atores do que de cenários, figurinos etc. Além do que, podem ser apresentadas praticamente em qualquer lugar. Além disso, adaptar improvisações a situações particulares (ou escrevê-las para ocasiões específicas) permite ao grupo tirar o máximo proveito de quaisquer habilidades específicas, tipos de voz, cacacterísticas etc., que os membros do grupo possuam. Alguns membros da audiência podem ser chamados para participar de uma peça improvisada - seria até bom que isso acontecesse. Assim, por exemplo, se você estiver levando uma peça de protesto em prol de melhores condições de moradia em uma favela, e se você conseguiu reunir um grande número de pessoas, a primeira coisa a ser feita é dramatizar as condições desses inquilinos, com um texto construído em torno da exploração que eles sofrem.
Surpresa
Essa dramatização deve ser repetida em seguida, agora com pelo menos um membro da assistência tomando parte. Fica-se em geral bastante surpreso com a boa qualidade das contribuições trazidas por esse elemento da platéia. E também, essa espontaneidade e imediatismo quebram a barreira existente entre você como ator e eles como audiência, além de prover um maior senso de participação. Pode-se sempre aprender algo que poderá ser incorporado à peça em uma futura encenação. De um modo geral, pode-se dizer que a audiência é um grande professor e as improvisações podem tanto ser rigidamente estruturadas como flexíveies e abertas. Vejamos exemplos dos dois tipos.
Regras do Jogo
Conheça a audiência para a qual você está epresentando e saiba precisamente qual o impacto que você espera obter.
Assegure-se de que entendeu bem as principais colocações - tanto do aspecto dramático como político - do texto com o qual você está trabalhando.
Use as melhores partes do trabalho improvisado para reforçar esses pontos.
Faça com que diferentes membros do grupo improvisem diferentes partes do texto. Talentos aparecem de onde menos se espera e devem ser sempre aproveitados.
Use música sempre que possível.
Guarde bem aquilo que funciona nos ensaios e guarde esse material sempre que for possível. O mesmo serve para as apresentações. Lembre-se que boas tiradas podem ser utilizadas em diferentes textos improvisados.
Sempre que possível, sirva-se do humor e da sátira. O humor é excelente para relaxar a platéia, além de servir como corretivo para superdoses de cansativa retórica.
Os atores deveriam "praticar" entre si a fim de desenvolver o hábito de entrar numa situação ou num personagem rapidamente, tirando o melhor proveito possível.
Ensaie. Você pode estar defendendo o lado certo da coisa, mas isto não significa necessariamente que a competência teatral per se esteja por isso garantida.
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Artigo extraído de Stage Left, The Tanoizer Press, 1970; tradução de Viroca Fernandes. Este artigo consta da revista Cadernos de Teatro nº 89/1981, edição já esgotada.
terça-feira, 9 de junho de 2009
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