terça-feira, 9 de junho de 2009

Teatro/CRÍTICA

"Estranho casal"

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Hilária e comovente convivência


Lionel Fischer


Um dos dramaturgos norte-americanos de maior sucesso, talvez nem mesmo o próprio Neil Simon pudesse prever o êxito de "Estranho casal" que, segundo o release que nos foi enviado, já mereceu 922 montagens internacionais pelo mundo, com cerca de dez milhões de espectadores. Em sua terceira temporada na Broadway, teve nove indicações ao Tony e ganhou em quatro categorias, inclusive a de melhor texto.

Este tem um enredo bastante simples: posto para fora de casa por sua esposa, Felix - jornalista obcecado por limpeza - vai morar com seu amigo Oscar, desleixado comentarista esportivo, recém divorciado. Imaginando que seria harmoniosa a convivência entre ambos, logo os dois amigos percebem que a mesma é simplesmente insuportável, devido aos seus temperamentos completamente díspares.

Em cartaz no Teatro do Leblon, a deliciosa comédia "Estranho casal" chega à cena com tradução e adaptação de Gilberto Braga, direção de Celso Nunes e elenco formado por Carmo Dalla Vecchia (Oscar), Edson Fieschi (Felix), Rogério Freitas, Marcos Ácher, Leonardo Neto, Susana Ribeiro, Bel Garcia e Marcelo Várzea.

Dotado de invulgar talento para extrair humor de situações cotidianas, mesmo quando elas têm, como pano de fundo, contextos nem sempre engraçados - no presente caso, os protagonistas gravitam em torno da solidão -, Simon estrutura seu texto de foma impecável, começando a explorar a comicidade das obsessões de Felix com limpeza quando ele começa a querer, digamos, tornar mais "higiênica" a diversão de amigos comuns, todos casados, que se reúnem às sextas-feiras para jogar pôquer na casa de Oscar, deixando cair no chão farelos de comida ou sujando a mesa com cinzas de cigarro. Mais adiante, então, o autor centra a ação nas diferenças entre os dois amigos, que chegam ao ápice quando Oscar convida duas vizinhas para uma noitada - e aqui cabe registrar que as cenas envolvendo as irmãs gaúchas estão entre as mais hilariantes já escritas por um autor contemporâneo.

Contendo ótimos personagens, diálogos fluentes e observações mais do que pertinentes sobre o comportamento humano, esta verdadeira obra-prima dramatúrgica chega à cena com impecáveis tradução e adaptação de Gilberto Braga, e uma encenação não menos impecável de Celso Nunes, que, valendo-se de marcas sempre divertidas e imprevistas, e maravilhosa exploração do tempo de comédia, extrai todo o potencial humano e risível do texto.

Com relação ao elenco, os amigos Rogério Freitas, Marcos Ácher, Leonardo Neto e Marcelo Várzea valorizam ao máximo seus papéis de coadjuvantes, compondo um quarteto realmente brilhante. Na pele das irmãs gaúchas, Susana Ribeiro e Bel Garcia demonstram, mais uma vez, que não existem papéis pequenos, e sim artistas incapazes de engrandecê-los. Ambas exibem atuações maravilhosas, irresistivelmente engraçadas, a ponto de muitas vezes a montagem ter que ser brevemente interrompida em função das intermináveis gargalhadas do público. Vivendo o desleixado Oscar, Carmo Dalla Vecchia tem atuação em total sintonia com o personagem, trabalhando muito bem sua progressiva perda de paciência com o amigo. Já Edson Fieschi talvez exiba, aqui, a melhor performance de sua carreira, pois consegue extrair, com humor e sensibilidade, todas as possibilidades do papel, dentre elas a fragilidade de Felix, sua carência, teimosia e, obviamente, sua compulsão por limpeza. Sob todos os aspectos, um desempenho absolutamente irretocável, do qual o público certamente levará muito tempo para esquecer.

No complemento da equipe técnica, Ney Madeira assina figurinos em total sintonia com o caráter e a condição social dos personagens, sendo irrepreensível a sofisticada e funcional cenografia de José Dias, o mesmo aplicando-se à iluminação de Paulo César Medeiros.

ESTRANHO CASAL - Texto de Neil Simon. Tradução e adaptação de Gilberto Braga. Direção de Celso Nunes. Com Carmo Dalla Vecchia, Edson Fieschi e outros. Teatro do Leblon. Quinta a sábado, 21h30. Domingo, 20h.

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Um comentário:

  1. Concordo totalmente. Estive na exibição de segunda feira passada para convidados e, coisa rara, todos riam muito! Sinal de q a peça realmente é impecável!!

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