segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Histórias de Teatro

Peter Hay


SEGUINDO A DIREÇÃO

Uma vez, num ensaio, sir Herbert Tree pediu a um jovem ator que "chegasse um pouco para trás". E assim o ator fez. Tree fitou-o com um olhar crítico e prosseguiu o ensaio. Depois de um tempo, repetiu o pedido: "Um pouquinho para trás". O jovem obedeceu. Observando-o com cuidado, o diretor continuou. Logo depois, mais uma vez, pediu ao ator que chegasse ainda um pouquinho mais para trás. "Mas se eu fizer isso", protestou o jovem, "eu vou ficar completamente fora do palco". E Tree acrescentou: "É isso aí!".


CHEGA DE DIREÇÃO

James Agate: "O teatro consiste em duas grandes artes: interpretação e dramaturgia. E não há necessidade nenhuma de uma terceira arte para coordená-las.

Tyrone Guthrie: "O diretor tem somente uma única tarefa: fazer com que cada ensaio sejá tão divertido que os atores esperem ansiosos pelo próximo".


COMO DIRIGIR SHAW

Tyrone Guthrie: "Tudo que se pode fazer com um texto de Shaw é espalhar os atores em semicírculo, colocar um microfone noalto e desejar que o melhor aconteça".


TERROR

Peter Brook é conhecido por passar semanas e semanas de ensaios com improvisações. Uma de suas histórias mais conhecidas envolve a produção de Édipo, de Sêneca, no National Treatre. Foi em 1968, durante o auge da corrente do Teatro da Crueldade. Brook fez com que o notável elenco passasse vários dias numa gritaria primitiva, imitando inúmeros animais - tudo, menos trabalhar o texto. Um dia, pediu aos atores que preparassem uma pequena improvisação com base nas experiências mais terríveis que pudessem imaginar. Os atores obedeceram com um arsenal de reações criativas. Quando chegou a vez de sir John Gielgud, este não apresentou absolutamente nada. O grande ator permaneceu lá, de pé, com seu olhar melancólico e longínquo, até que Brook perguntasse se não havia nada de aterrorizante em que ele pudesse pensar. "Na verdade, Peter, há", respondeu sir John com calma, "estrearemos em duas semanas".


O MESTRE

Todos no teatro referiam-se a Noël Coward como O MESTRE, porque ele estava sempre pronto a aconselhar e a treinar jovens aspirantes à carreira. No começo de 1962, Nöel foi convidado de honra de um jantar ogerecido pela Galeria do Clube dos Estreantes. Ele começou seu discurso dizendo-se "incrivelmente acostumado a falar em público" e continuou: "Vocês querem meu conselho sobre interpretação? Pois bem: fale claramente, não esbarre nas pessoas ou no cenário, e, se precisar de motivação, pense no seu pagamento de sexta-feira".

3 comentários:

  1. Ótimo texto Lionel! Aliás, como sempre.
    Gostaria de poder ler mais histórias do teatro como essas.
    Fica registrado o meu pedido.
    Beijos

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  2. Sempre tenho a nítida sensação de que os diretores se sentem num patamar acima daquele ocupado pelos atores. Nunca entendi.
    A função de ator é muito anterior e, por que não, mais nobre do que a de direção, que surgiu na justa medida em que atores já não mais conseguiam acumular tantas funções e necessitaram de um ajudante, o diretor.

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  3. Concordo plenamente Marcia. Essa sensação de estar em um patamar acima muitas vezes fica muito visível.

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