Maurice Maeterlinck
Maurice Maeterlinck nasceu em 1862, na Bélgica, e é considerado um dos expoentes do dito teatro "simbolista" que surge, na virada do século, como uma reação contra o naturalismo na dramaturgia e, sobretudo, na cena. Esse teatro poético esté preocupado em desobstruir o palco que o naturalismo atulhou de detalhes com o intuito de criar, no espectador, a ilusão de estar diante de uma "fatia de vida", segundo a formulação de Zola.
O teatro simbolista é muitas vezes referido como um "teatro de atmosfera" devido à simplicidade da ação que repousa, em geral, sobre um sentimento que todos possam reconhecer como seu (o amor, a perplexidade diante da morte, por exemplo). Entretanto, isso não significa a "desencarnação" da ação e dos personagens. Pelo contrário, Maeterlinck escreveu vários de seus dramas, inclusive Interior, para marionetes, como uma forma de chamar a atenção para a necessidade de tornar expressivo o corpo, como um todo, subtraindo o teatro à declamação, ainda dominante àquela época.
Maeterlinck não opôs atmosfera a ação, nem corpo a poesia, ele compreendeu que era preciso interpretar como ação também a quietude e a reflexão e que a poesia não se faz à custa da vida, mas que, pelo contrário, o que há na poesia é vida.
Para que essa ação reflexiva e essa poesia encarnada aconteçam cenicamente é preciso que toda a encenação esteja imbuída do sentimento que sustenta a peça e que se explicitará em seus elementos - no tom e no motivo gestual que cada ator tomará como base para as variações de seu trabalho, nos elementos cênicos que estabelecerão entre si uma relação que é, ao mesmo tempo, concreta e alusiva.
Maeterlinck foi encenado pelos dois mais importantes teatros simbolistas franceses: O Théâtre d'Art montou A intrusa em 1891, e o Théâtre de 'Oeuvre, Pelléas e Mélisande, em 1893.
A obra de Materlinck foi de fundamental importância para Stanislavsky que, preocupado em pesquisar as possibilidades de interpretação dos "estados d'alma" a partir de novas bases, encarrega Meyerhold de dirigir o Teatro Studio, organizado para este fim. Meyerhold preparou, então, em 1905, a encenação de A morte de Tintagiles, que, entretanto, nunca chegou a estrear, mas que lhe serviu de motivo para uma reflexão sobre a necessidade de compor, de forma harmônica, uma cena em que a simplicidade do texto aflorasse de uma dicção clara, sem trêmolos, nem vozes lacrimejantes.
O transporte místico que o texto de Maeterlinck propõe deveria manifestar-se através de emoções vindas da forma, pois, para Meyerhold, o ponto de partida do trabalho do ator não é uma "explosão de temperamento" que depois buscaria uma forma, mas a pesquisa da forma através da qual essa espiritualização do mundo poderia manifestar-se.
O próprio Stanislavsky foi o primeiro encenador a montar O pássaro azul, em 1908 e, para melhor conhecer os desejos de Maeterlinck a respeito da realização da peça, viajou ao seu encontro em Saint-Vendrille, na Normandia, passando alguns dias na antiga abadia onde morava o poeta e que, com seus subterrâneos e bosques, serviria perfeitamente de cenário para Pélleas e Mélisande.
Stanislavsky adotou, para a encenação, uma ambientaçlão "ingênua" que evoca os esquemáticos desenhos infantis e desenvolveu, na interpretação, o que ele chamou de "técnica interior do ator" e que lhe propiciaria penetrar na "essência do personagem", preocupação que o acompanhava já há alguns anos, desde seu encontro com a obra de Tchecov.
Muitos outros encenadores montaram Maeterlinck. Max Reinhardt (Pélleas e Mélisande). Claude Régy apresentou Interior, em 1985, no Théâtre National de Strasbourg. A única apresentação realizada pelo Teato Efêmero de Marionetes, que Tadeuz Kantor fundou quando ainda estudava Belas Artes em Cracóvia, no final dos anos 30, foi a encenação de A morte de Tintagiles, sobre a qual Kantor voltou recentemente a trabalhar, desta vez com atores e objetos.
Maeterlinck não escreveu apenas peças, publicou poemas, romances, contos e curiosos livros de divulgação científica (como A vida das abelhas e A linguagem das flores), e traduziu para o francês Macbeth, de Shakespeare.
Sua influência se faz sentir na obra de muitos de seus contemporâneos. Rilke refere-se a ele em vários de seus escritos como o criador de um teatro "ainda por vir", e no qual o que realmente importa não é o diálogo aparentemente essencial que se oferece a uma primeira e ingênua leitura, mas a realidade transcendente que desponta, com simplicidade, por trás desse diálogo, como o motivo que o sustenta.
A princesa branca, de Rilke, que evoca a longa espera de uma mulher que se guardou para o seu amado que virá acostar à praia diante do palácio se ela acenar no momento acertado, apresenta muitas afinidades com as peças da primeira fase de Maeterlinck (A princesa Maleine, A Intrusa, Interior, Pélleas e Mélisande).
Por abrir espaço em sua obra para as forças do inconsciente, o sonho e o mistério da existência, Maeterlinck é apontado como precursor dos surrealistas e dos autores do dito Teatro do Absurdo. No prefácio a Doze canções, de Maeterlinck, publicado em 1923, Antonin Artaud situa o trabalho do autor em relação a alguns momentos da trajetória teatral do Oriente:
Maeterlinck cria, no mundo espiritual, um equivalente dos pupazzi que a Comédia Italiana cria no mundo plástico: Maeterlinck alarga a galeria dos pupazzi místicos. Acrescenta novas figuras a essas encantadoras criações. Seu teatro é todo um mundo onde os personagens tradicionais do teatro reaparecem, evocados a partir do seu interior. A fatalidade inconsciente do drama antigo torna-se, em Maeterlinck, a razão de ser da ação. Os personagens são marionetes agitadas pelo destino.
O misticismo de Maeterlinck faz com que ele perceba, por trás das aparências cotidianas, às quais não damos nunca atenção, forças misteriosas que dispõem de nosso destino e cujos desígnios é inútil perscrutar. A fim de tudo, resta-nos aguçar a sensibilidade para o que Maeterlinck chama de "o trágico cotidiano" e que não se manifesta quando estamos envolvidos em grandes aventuras, mas quando, cessada toda a ação, voltamo-nos sobre nós mesmos.
PRINCIPAIS OBRAS DE MAETERLINCK
A princesa Maleine (1889)
A intrusa ((1890)
Os cegos (1890)
As sete princesas (1891)
Pélleas e Mélisande (1892), convertida em ópera por Debussy em 1902, serviu de tema também a um poema sinfônico d Arnold Schoenberg, criado em 1903.
Alladine e Palomides, Interior e A morte de Tintagiles, todos de 1894 e todos para marionetes.
Aglavaine e Sélysette (1896)
Ariane e Barba Azul (1901)
Irmã Beatriz (1901)
Monna Vianna (1902), curiosa incursão de Materlinck pelo naturalismo.
Joyzelle (1903)
O passaro azul (1908)
O burgomestre de Stilmonde (1918)
* Maurice Poydore-Marie-Bernard Maeterlinck morreu a 26 de maio de 1949, em Nice, na França.
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O presente artigo,extraído de Journal du Théâtre National de Strasbourg, nº 9, septembre 1985, p. 42, consta da revista Cadernos de Teato nº 119/1988, edição já esgotada.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
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Muito bom!Joguei no google sobre Maeterlinck veio seu blog e abri na hora! Boa ajuda pra prova mais tarde.
ResponderExcluirSaudade!
Um abraço,
Vitor Britto