segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Teatro/CRÍTICA

"Às vezes é preciso usar um punhal
para atravessar o caminho"

....................................................................
Oportuna reflexão sobre a juventude

Lionel Fischer


"Encenada pela companhia Laranja Eletrônica", a montagem apresenta um grupo de universitários terroristas. Fantasiados de personagens de Walt Disney, eles decidem assassinar dez celebridades. São integrantes da Célula Revolucionária Clube do Mickey, que tem como objetivo semear o pânico na sociedade através da morte de estrelas do show business. A trama propõe, com linguagem pop e humor ácido, uma reflexão sobre o culto à celebridade e o conflito entre os ideais revolucionários de duas gerações - a de 1968 e a de hoje".

O trecho acima, extraído do ótimo release que nos foi enviado, sintetiza de forma irretocável os objetivos a que se propôs o autor, Roberto Alvim, ao escrever esta que consideramos sua melhor peça. Em cartaz no Espaço Cultural Sérgio Porto, o texto chega à cena com direção de Ivan Sugahara e elenco composto por Carolina Ferman (Dra. Chevalier), Edson Cardoso (Rony/Cleijá Feijó), Fábio Buechem (Robinson), Gabriel Albuquerque (Léo), Gabriela Carneiro da Cunha (Minnie), José Jarini (Secretário/Olavo), Leonardo Carvalhal (Pluto), Maria João Rebelo (Maga Patológica), Mateus Tiburi (Pato Donald), Nara Parolini (Margarida/Fã), Rodrigo Sobrera (Empresário/Pateta), Thiago Ristow (Kiko) e Vânia Ferreira (Tio Patinhas).

Pelo exposto no parágrafo inicial, fica evidente a decepção do autor com a ausência de ideais da atual juventude - com raríssimas exceções, os jovens de hoje parecem ter aderido sem reservas aos funestos dogmas defendidos pela globalização, que em essência prega o indiviualismo, a falta de solidariedade e, se possível, amealhar um milhão de dólares até os 30 anos. Mas a decepção do autor é aqui convertida em uma furiosa e irônica crítica, que ao mesmo tempo em que nos faz rir das patuscadas dos pretensos terroristas, nos faz refletir sobre o vazio ideológico em que vivemos. Sem dúvida, um texto que merece ser valorizado por sua pertinência e atualidade.

Quanto ao espetáculo, Ivan Sugahara impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico, criando marcas divertidas e diversificadas, capazes de enfatizar todos os conteúdos propostos pelo autor. E Sugahara também consegue extrair boas atuações do jovem elenco, com especial destaque para Carolina Ferman, Gabriela Carneiro da Cunha - que no final canta lindamente "Como nossos pais" -, José Karini e Nara Parolini, sobretudo quando interpreta a tresloucada e débil Fã.

Na equipe técnica, Natália Lana cria uma ambientação envolvente e que em muito facilita a dinâmica do espetáculo. Nello Marrese responde por figurinos aos mesmo tempo divertidos e críticos, sendo igualmente irrepreensíveis a iluminação de Renato Machado e a direção musical de Álvaro Lazzarotto.

ÀS VEZES É PRECISO UM PUNHAL PARA ATRAVESSAR O CAMINHO - Texto de Roberto Alvim. Direção de Ivan Sugahara. Com o grupo teatral Laranja Eletrônica. Espaço Cultural Sérgio Porto. Sexta e sábado, 20h30. Domingo, 20h.

3 comentários:

  1. Assisti ontem a peça e estou em êxtase até agora. É uma crítica incisiva e atual a esta nossa sociedade narcisista, aos clichês, a imbecilidade, o vácuo que fica disto tudo... O elenco é demais, afinadíssimos, assim como a iluminação, a trilha sonora, o texto, as palavras, as almofadas no chão, o preço, os detalhes...
    A fina flor da crítica ao atual, para mim.
    Com certeza voltarei para assistir de novo.

    ResponderExcluir
  2. Carolina Ferman sempre maravilhosa!!!

    ResponderExcluir
  3. Olá Lionel, td bom? Gostei muito da peça "As vezes é ..." muito gratificante ver um jovem elenco tão empenhado num texto ótimo, maduro e consciente, boa produção , direção do Ivan muito segura.O espaço muito bem usado de uma mabneira dinâmica e interativa e o melhor foi yte encontrar lá e saber que fomos colegas de curso amei... e o Motor, hein?Puxa , fiquei arrepiada ao saber que um cara que admiro tanto foi meu colega de curso de teatro uau...que turminha danada aquela , né? Apareça no meu site www.cursosdeteatro.com.Sabe, tb adoro dar aulas.
    Bjksssssss,
    Zaira Zambelli

    ResponderExcluir